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Duarte Drago

Experiências pós-confinamento: A nova vida do Chapitô à Mesa

Há um novo chef no Chapitô e uma carta que não é só pão e circo. Subimos ao Castelo e voltámos com esperança.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda
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Caminhos ínvios chegam a sítios bons. Pedro Bandeira Abril fez um percurso com curvas e contracurvas, altos e baixos. Seguiu pelo curso de Direito e depois rumou para Hotelaria. Já no mercado, visitou um pouco de tudo. Andou pela pastelaria e pelo catering; passou por hotéis com empregados de colete e por restaurantes em que se atendia de calções; alternou cozinha de tacho e cozinha progressiva; e até noodles arriscou. 

Os noodles são uma história recente. Em pleno período de quarentena, Bandeira Abril criou um dos projectos de entregas ao domicílio mais interessantes de Lisboa: o Menrui – The Slurper. A ideia podia parecer estapafúrdia, mas poucas horas depois de espalhar o menu pelas redes, Bandeira Abril esgotava o stock de sopinhas de massa, onde se incluíam pérolas como ramen com leitão do Mugasa – o célebre restaurante de Sangalhos. 

A ideia do home delivery de noodles foi na verdade uma questão de sobrevivência. Em pleno confinamento, com um filho pequeno, o chef de 29 anos teve de se mexer. Outra vez. Sucedera o mesmo tempos antes, quando saiu daqueles que terão sido os dois restaurantes que mais o marcaram e que ele mais marcou: o Taberna Sal Grosso e o Salmoura, ambos de Joaquim Saragga Leal, ambos em Alfama.

Eis, pois, que surge o convite para entrar no Chapitô. Há muito tempo que o Chapitô estava associado a um nome de peso: Bertílio Gomes, agora na Taberna Albricoque. O restaurante nunca terá estado ao nível da cozinha de que o chef algarvio é capaz, mas pode ter sido só vítima da síndrome dos miradouros: restaurantes com vistas magníficas não costumam ser grandes restaurantes. Porquê? Porque não precisam.

Em todo o caso, suceder a Bertílio é complicado. Felizmente, Pedro Bandeira Abril tem um plano, tem uma ideia – tem muitas ideias. Para já, começou por criar um menu especial durante os Santos. E depois vieram os jantares Friendly Fire, onde jovens e não tão jovens cozinheiros são convidados a cozinhar em grupo. A que dia? Segunda-feira. Tem corrido bem? Esgotado. Para Setembro estão já agendados novos encontros, é consultar a página do Facebook e marcar.

De resto, nos outros dias o restaurante funciona sobretudo no terraço, com carta fixa. Nesta altura, a sala panorâmica abre apenas às quintas, sextas e sábados à noite. Foi no terraço que comi sempre e muito bem.

O conceito da cozinha acomoda diferentes estilos. Tanto podemos provar combinações mais ou menos exóticas e vanguardistas – como a sardinha curada com figos e água de tomate fermentada; ou a melancia assada com beldroegas e queijo de ovelha curado –, como temos os clássicos portugueses das mesas atreitas a turistas (já há muitos turistas no Chapitô, outra vez). Exemplos: bacalhau assado com batatas ou o magnífico polvo com batata doce e ovo cozido, uma versão do lagareiro, aqui com salsa, coentros e cebola nova picada em vinagre. Na panorâmica carta do restaurante, prevalece Portugal, com reminiscências algarvias, porventura herdadas de Bertílio Gomes.

Nação e mundo, autoria e bom senso – é disto que se faz o novo Chapitô. Pedro Bandeira Abril parece ter a inteligência de não querer fazer um restaurante apenas à medida do seu ego, controlando experimentalismos excessivos. Com paciência e tempo pode muito bem vir a criar uma grande casa, que lhe dê conforto para afinar o que já existe e tempo para inventar coisas novas.

É disto que se faz a nova cozinha portuguesa. Oxalá a síndrome do miradouro não ataque.

Costa do Castelo, 7 (Castelo). 21 887 5077. Seg-Dom 12.00-15.30/19.00-23.00. Preço médio: 25€-30€

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