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Souldough Pizza
©Duarte DragoSouldough Pizza

Experiências pós-confinamento: Souldough Pizza

Em Colares, há uma tenda onde um xamã do yoga serve pizzas de fermentação lenta.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda
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É já noite escura quando chegamos à Aldeia da Praia. O complexo de glamping está cheio de fios com luzes multicolores e bandeirinhas, tudo sombrio e acolhedor. Logo ali, a Souldough Pizza. O restaurante é aberto mas tem uma coberta, como uma enorme tenda. Lá dentro, a cozinha encastra-se num contentor forrado a azulejos, com o forno a lenha ao fundo. É de lá que saem rodelas de pão fumegante com as bordas sopradas, muito bonitas. Os empregados, lenços sikh na cabeça, adensam o ambiente onírico, quais saltimbancos hindus na meia-luz de lâmpadas esparsas. A qualquer momento, imaginamo-los a sacar da flauta e a darem música a serpentes encantadas, instante em que Indiana Jones irromperia para uma palhaçada qualquer.

Um dos turbantes andantes desperta-nos. “Primeiro tem de escolher a sua mesa, depois dirige-se ao balcão para fazer o pedido e pagar”, indica o rapaz, sorridente e teatral. Nas imediações, movimenta-se um homem esguio e nórdico, barbas até ao umbigo. É ele quem domina o espaço e as massas. “As nossas massas têm mais de 24 horas de fermentação, às vezes 48 horas”, atira, sotaque estrangeiro, ao ouvir alguém perguntar sobre o processo de fabrico. A figura intriga. Seria ele o célebre Jasbaghat Singh, o professor budista, fundador do camião-rulote Mercedes que haveria de dar origem à Souldough? Seria ele o xamã das pizzas?

Antes de me fazer a Colares, tinha pesquisado a página do restaurante no Facebook. É uma página curiosa. New age misturada com pizzas. Budismo zen misturado com conselhos dietéticos. Máximas fofinhas e parvoíce. “A paz no mundo vive do amor que ofereces a cada dia…”, lia-se numa entrada do dia 21 de Setembro. Dias depois, outra filosofia: “Se um dia se sentir vazio, não se assuste, coma, é fome.”

Lá pelo meio um post a explicar tudo. A história começou numa comunidade espiritual, a Ram Dass. A sede fica na Quinta do Rajo, em Sintra. Foi aqui que os fundadores da pizzaria viveram durante uns anos. Até que um dia – lê-se na publicação – quando estavam em profunda meditação, surgiu uma mensagem e a Souldough foi concebida. A pizza como um instrumento para juntar as pessoas. O serviço como uma forma de reconhecer o divino no outro. Do yoga à pizza. Eis, portanto, o guru do halásana e da Pesto Heaven, do ásana e da Mushroom Kingdom. E agora vem na nossa direcção, com um cantil de picante na mão. “É feito por nós, não pica muito”, aproxima-se, espalhando um fio do óleo misterioso pelas nossas rodelas.

É, de facto, um serviço original e afável. Apresentação despojada, em cima dos tampos de madeira só mesmo as pizzas, uma tesoura e guardanapos. Nem pratos, nem talheres. Vinhos há dois, um tinto e um branco. Vamos pela garrafa de tinto, acompanhada de dois copos de galão, nada mau. Quanto às pizzas, escolhemos os dois bestsellers: a de pesto com tomate cereja e azeitonas; e a de viçosos cogumelos-ostra com tempero de ervas cítricas. A massa tem uma dose perfeita de levedura industrial e massa de fermentação lenta, o que a torna simultaneamente leve e saborosa. Nas sobremesas a mesma economia de oferta, só um tiramisù e uma tarte de queijo, sendo que o tiramisù tinha como único vislumbre do dito as aparas de chocolate.

Em síntese. É uma experiência encantadora comer no Souldough. As pizzas são das boas, mas é sobretudo o ambiente e a hospitalidade zen do sítio, em pleno pinhal, que nos levam lá. De dia ou de noite.

Av. do Atlântico, Aldeia da Praia, Colares. 93 683 0634. Qua 18.30-21.30, Qui-Dom 12.30-15.00/ 18.30-22.00. Preço: 20.

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