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Fanfare Ciocarlia em Lisboa: “Um bando de pássaros selvagens, loucos e pedrados”

Hugo Torres
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Hugo Torres
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Com a Fanfare Ciocarlia, a festa é uma constante. Estão sempre a celebrar, qualquer que seja o motivo. Por exemplo: nos dias que correm estão na estrada a festejar a transição entre os 20 e os 25 anos de carreira – e vão passar por Lisboa.

Zece Prajini é uma aldeia no Nordeste da Roménia, a caminho da Moldávia, onde dezenas de famílias ciganas entregam os dias à agricultura de subsistência e à música de fanfarra. Em 1996, um melómano alemão decidiu visitar a pequena localidade. “A intenção dele era ouvir-nos tocar e deixar-se estar por uma hora”, recorda Oprica Ivancea. “Bom, acabou por ficar três meses. Ficou passado com a nossa música.” Esse alemão era Henry Ernst e convenceu aqueles músicos de casamentos, baptizados e funerais a fazer uma digressão pela Alemanha na Primavera seguinte, fazendo nascer uma das mais bem-dispostas e aceleradas bandas de world music do nosso tempo: Fanfare Ciocarlia. Na segunda-feira, eles vão pôr-nos a mexer no Capitólio. “Tirem os vossos sapatos de dança da sapateira!”

“A nossa música é tecnicamente muito exigente”, diz o clarinetista e saxofonista Oprica Ivancea, em respostas enviadas por e-mail. “Ao longo dos anos, criámos uma muralha de som única e difícil de copiar, com linhas gordas de tuba, grooves fortes e arranjos de pendor rock. Tudo combinado com uma dose de humor.” Ivancea é um dos 12 elementos da Fanfare Ciocarlia, cujo nome, à letra, significa fanfarra de rouxinóis. “A nossa intenção é soar bem e deixar as notas girar pelo ar, deixá-las voar – tal como uma pássaro. Ou melhor: como um bando de pássaros selvagens, loucos e pedrados.” Uma imagem tão “desvairada e divertida” quanto a música que emana dos seus saxofones, trompas, trompetes, tubas, clarinetes e percussões. “Portanto, estamos muito felizes com o nosso nome.”

A Fanfare Ciocarlia funde o folclore romeno, as polkas e csárdás húngaras e alemãs, com os ritmos balcânicos e as melodias indianas que os ciganos trouxeram para a Europa. Não têm barreiras nem fronteiras. O seu maior sucesso, “Moliendo Café”, é uma versão de uma canção venezuelana dos anos 1950 que até Julio Iglesias já interpretou. O seu repertório inclui êxitos rock como “I Put a Spell on You” (Screamin’ Jay Hawkins) e “Born To Be Wild” (Steppenwolf). “Na Roménia, uma fanfarra sempre foi uma espécie de um DJ sound system: tocamos a música certa para a festa certa.” Tudo abordado de uma perspectiva cigana – Oprica Ivancea pede-nos para não confundirmos: “A música cigana é um tópico vasto. Os ciganos sempre misturaram a música tradicional [dos locais onde se instalam] com a sua forma e o seu estilo de interpretar. É melhor falar de estilo cigano do que de música cigana.”

A Fanfare está a trabalhar um novo disco, que deve sair no próximo ano. Mas, no regresso a Lisboa, o alinhamento ainda deve focar-se em Onwards to Mars! (2016), o álbum que têm tocado um pouco por todo o mundo na digressão em que assinalam os 20 anos de carreira. Vamos apanhá-los já a caminho dos 25, embora Portugal seja um dos destinos habituais da banda romena. “Fizemos tantos concertos neste pequeno país nos últimos 20 anos – e cada viagem tem sido cheia de alegria!” Oprica Ivancea distribui elogios pelo “povo adorável”, pela “grande cultura” e pela “comida maravilhosa”, mas garante que não têm planos para fazer uma versão de um fado: “Vamos manter as lindas e lentas características do fado – não há necessidade de acelerar esta grande música.” Veremos se se aguentam.

+ O flamenco mais cubano de Lisboa é de Diego El Gavi

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