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Fingir que está tudo bem é solução? Vamos falar de política

Escrito por
Miguel Branco
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Parlamento Elefante é o primeiro espectáculo em conjunto de Eduardo Molina, João Pedro Leal e Marco Mendonça. Estreia-se esta sexta no D. Maria II. Fingir que está tudo bem é solução?

Há um animal – aparentemente terrível, gigante, godzilliano, capaz de destruir monumentos e matar milhões – à solta numa cidade. Um presidente, um vice-presidente e um general, mais um batalhão de líderes de nações de todo o mundo, reúnem para decidir qual é o plano de acção. E com isso vem todo o umbiguismo nacionalista, todo o atropelo do debate político que só soa a ruído, a frases sobrepostas.

Há ainda, a par desta realidade, as biografias dos três criadores e intérpretes, a história dos seus pais, como se conheceram; mais ainda uma outra narrativa que percorre, qual Google, os grandes acontecimentos do século XX, que também pode ser o Jumanji, que também pode ser “Hey Jude”, a canção dos Beatles. Parlamento Elefante é uma criação colectiva e o primeiro espectáculo em conjunto de Eduardo Molina, João Pedro  Leal e Marco Mendonça – que se conheceram na Escola Superior de Teatro e Cinema – para ver a partir desta sexta-feira no Teatro Nacional D. Maria II.

Sabemos que os tempos de faculdade são tempos de questionamento do mundo organizado, da sociedade em que nos inserimos, o típico “o que é que podemos fazer”. E isso está por aqui, de alguma maneira, como confirma João Pedro Leal: “Sabendo que não é possível tornar o mundo melhor, que não há solução, que espectáculo é que se pode fazer pensando sobre isso”. Mais concretamente chegaram a O Parlamento do Homem, livro de Paul Kennedy sobre a fundação da ONU: “E aí tentámos investigar como é que surge esta organização e o que é que terá levado este grupo de 51 países a fundarem-na; e, em paralelo, o que é que terá levado os nossos avós e pais a tomar a decisão de nos trazer ao mundo”, explica Marco Mendonça.

Para isso mergulharam nos álbuns de família, no baú infinito que é a internet e criaram, em cena, uma dinâmica que saltita entre o século XX, as suas biografias e a história do tal animal. Todas elas com diferentes camadas de representação, fórmulas cénicas, jogos distintos entre os actores. As suas assimetrias foram essenciais para construir esta ideia de triplicidade: “Sendo isto uma criação a três, acho que o espectáculo partiu muito de uma análise do grupo em si como uma mini-democracia, ou seja, como é que partindo de certas divergências, formas de representar diferentes, estilos de escrita diferentes, como é que disto se cria um objecto que nos coloca num certo imaginário comum. Nós não estivemos lá, não sabemos como é que foi, mas sabemos mais ou menos como é que é agora, o que é que do passado se repete no presente”, atira Marco Mendonça.

Tudo isto com música do Mestre André, que percorreu – de forma profundamente livre, original e inventiva – a segunda metade do século XX sonicamente. Uma paisagem sonora que fez surgir uma cantiga em tom sonhador, onde se canta: “Nada / Não te preocupes com nada”. Que é precisamente o oposto que Parlamento Elefante propõe. Alhearmo-nos de tudo talvez não seja grande ideia.

TNDMII. Qua e Sáb 21.30. Qui-Sex 19.30. Dom 16.30. 6-11€.

De Eduardo Molina, João Pedro Leal e Marco Mendonça
Com Eduardo Molina, João Pedro Leal, Marco Mendonça e Mestre André

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