Fomos à Cordoaria ver o que se pode fazer com oito milhões de peças LEGO

A sigla AFOL diz-lhe alguma coisa? Nós nunca tínhamos ouvido falar, mas agora que aprendemos o que é, estamos prontos para partilhar. Trata-se de um Adult Fan of LEGO – um maluquinho dos blocos de construção coloridos com idade para ter juízo, em tradução muito livre. E parece que existe uma grande comunidade de AFOLs em todo o mundo, que se dedicam a criações raras, sofisticadas e minuciosas, mais ou menos amadoras, e expõem em feiras, competições e outros eventos.

Algumas das peças que podem ser vistas na Cordoaria Nacional até ao dia 28 de Setembro, onde está patente a maior exposição de modelos de LEGO da Europa, são da autoria de AFOLs. É o caso da impressionante réplica das Torres Gémeas do World Trade Center, com sete metros de altura e mais de um milhão de peças. A obra – que além dos edifícios icónicos de Nova Iorque, destruídos a 11 de Setembro de 2001, inclui os outros sete arranha-céus que compunham o complexo original – é da autoria de um grupo de alemães e não tem qualquer estrutura em madeira ou metal a sustentá-la: é 100% feita de LEGOs e teve de ser partida em vários troços para ser transportada para Lisboa, onde foi montada de novo para poder ser vista em "Invasão dos Gigantes".

"Não sabemos exactamente o número de peças que aqui estão, ninguém está a contar. Isso daria ainda mais trabalho do que construir tudo isto", diz à Time Out Lukas Siwiec, da empresa polaca Brick Show (que não tem nenhuma ligação oficial ao grupo LEGO e que tem mais sete exposições activas neste momento, em países como Itália e Hungria). "Serão cerca de oito milhões", afirma, sem se comprometer com um número certo.

Além das Twin Towers, o responsável trouxe para Lisboa uma réplica da Muralha da China, à escala 1:150, com 60 metros de comprimento (percorre cerca de metade do espaço expositivo); uma Torre de Pisa, com 2,5 metros de altura e 200 mil peças; e uma maquete de uma cidade com 20 metros quadrados, construída com cerca de 750 mil peças – tem situações fora do comum para os visitantes descobrirem. 

Volta ao mundo sem sair de Belém

Apesar de não estar dividida em núcleos temáticos, a exposição "Invasão dos Gigantes" tem várias categorias – e da arquitectura mundial é capaz de ser a mais impressionante para adultos não-AFOLs. Além das já mencionadas Torres Gémeas, Grande Muralha da China e Torre de Pisa, há réplicas do Burj Khalifa, da Willis Tower, da ponte Golden Gate, da Tower Bridge ou do Big Ben, além de dois mapas – um da Europa e outro da América do Norte – com edifícios incontornáveis a escalas mais pequenas, como é o caso da Torre Eiffel, em Paris.

Enorme e cheia de detalhes a que vale a pena dar atenção é também a maquete de um aeroporto.

E porque as maravilhas do mundo não têm todas o dedo humano, também aqui estão representados elementos da natureza como o Mont Blanc (o pico mais alto da Europa Ocidental) e diferentes espécies de animais – há um pavão em tons de amarelo, verde e azul, um beija-flor, um flamingo, um papagaio, um tucano, uma águia, uma borboleta, uma abelha, uma joaninha e uma belíssima cabeça de leão multi-cor.

Nem os dinossauros foram esquecidos: o Braquiossauro é uma das figuras mais altas na exposição da Cordoaria, com dois metros de altura.

Chamada aos warsies, ringers e potterheads

Os groupies do universo Star Wars vão certamente reconhecer na exposição de LEGOs o massivo Tie Fighter (uma das icónicas naves da saga), com três metros e 250 mil peças. Não é a única referência à saga de George Lucas: há um veículo inspirado no podracer de Anakin Skywalker, em escala 1:3, feito com 120 mil blocos; uma nave Imperial Shuttle, com envergadura de três metros; uma maquete que recria a corrida Boonta Eve Classic; e outra que mergulha os visitantes no caos da Batalha de Geonosis.

Se a sua praia é mais Harry Potter, vai encontrar uma miniatura super-pormenorizada de Hogwarts; se prefere O Senhor dos Anéis pare para apreciar a torre preta de Orthanc, com 2,5 metros de altura; e se anda doido com Um Filme Minecraft, repare como as figuras quadradas a imitar o jogo electrónico funcionam tão bem em LEGO.

Se, por outro lado, sabe tudo sobre os Transformers, a cena da transformação de um carro amarelo dos anos 1980 em Autobot, pela personagem Bumblebee, está aqui em destaque, com uma construção tríptica enorme, com a altura máxima de dois metros. 

Os cinéfilos de visita têm, aliás, muito com que se entreter em Belém: pósteres de filmes como A Vida é Bela, O Fabuloso Destino de Amélie, Forrest Gump, Up – Altamente ou Kill Bill feitos em LEGO; figuras de personagens emblemáticas como Wednesday Addams, os Mínimos, o Super-Homem, a Pantera Cor-de-Rosa, Patrick Star (da série de animação Sponge Bob), Batman e dois dos seus vilões; uma vitrine dedicada à Disney, com castelos das princesas mais conhecidas: de Fronzen à Bela e o Monstro, Aladdin, A Pequena Sereia, Moana ou Mulan; e outra com uma maquete inspirada na Peppa Pig feita com peças LEGO duplo (pensadas para crianças mais pequenas).

Emoções e um pouco de cultura geral

Então e por aqui, não se aprende nada? Aprende pois. Há réplicas de obras de arte incontornáveis, como o quadro Guernica de Pablo Picasso e a escultura Vénus de Milo, e uma tabela periódica dos elementos XXL, bem como construções dedicadas ao corpo e à mente humana. As figuras das emoções têm sido das mais fotografadas – a azul é a tristeza, a lilás é o medo, a amarela é a alegria, a vermelha é a raiva e a verde é o nojo –, tal como a pirâmide da Hierarquia de Necessidades de Maslow que organiza as necessidades humanas em níveis como a auto-realização, a pertença, a segurança e a fisiologia.  

Não saia da Cordoaria sem recordar o trágico episódio do Titanic, com três maquetes compostas por mais de nove mil peças à escala 1:200 – uma delas é interactiva, como aliás há outras ao longo da exposição. Se vir um botão vermelho, carregue sem medos: vai fazer com que algumas construções se movam ou iluminem. 

Mãos à obra

Ao fundo da área expositiva, existe uma enorme zona de diversão dividida em três partes: a Little Ones Station (com peças de LEGO grandes para mãos pequenas); a Besties World (com muito cor-de-rosa) e a Fun Zone (onde todos podem mostrar a sua criatividade e construir LEGO a seu bel-prazer). O bilhete normal inclui a possibilidade de passar aqui um bom bocado a brincar e construir.

Além disso, a 3D Trick Gallery convida a tirar fotografias divertidas em diferentes pontos que criam ilusões. É o paraíso dos maluquinhos das selfies – mas para entrar é preciso pagar um extra.  

Lukas Siwiec, da Brick Show, está agora à procura de um espaço no Porto para levar a exposição de Lisboa. Não é fácil de encontrar: esta "Invasão dos Gigantes" não cabe propriamente em qualquer lado. 

Invasão dos Gigantes. Cordoaria Nacional, Avenida da Índia (Belém). Até 28 de Set. Seg-Sex: 10.00–18.00; Sáb-Dom 10.00–20.00. Bilhete normal: 9,90€ (Seg-Sex), 10,80 (Sáb-Dom); bilhete "Invasão dos Gigantes" + 3D Trick Gallery: 14,85€ (Seg-Sex); 16,20€ (Sáb-Dom); grátis para crianças até 95 centímetros. 

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