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O inox sintetiza o minimalismo cool dos nossos dias e no Fúria, o XXXI Studio aplicou-o em quantidade, reformatando aquela que é a imagem clássica de um bar. O chão, as mesas, os bancos altos e os balcões – tudo friamente cinzento e moderno. No meio, está a peça central, a estação onde tudo acontece, desenhada especialmente para este espaço, em colaboração com a portuguesa Behind Bars. Pretexto para aplicar mais inox, mas aqui com uma mancha de cor. De repente, cabe a uma placa de acrílico cor-de-laranja aquecer todo o espaço.
Abriu em Setembro do ano passado, uma aventura de cinco sócios, todos já com um pé na área. Quatro são os donos do Imprensa, o bar de ostras e cocktails que conta já com duas moradas em Lisboa, e o quinto elemento é João Magalhães Correia, o chef à frente do Tricky's, no Cais do Sodré. O grupo começou por se juntar para abrir o Bar Alimentar, também em São Bento, e ao fim de seis meses abriu a porta do Fúria. "O plano era criar um bar muito mais virado para o cocktail, para a criação, mais experimentalista, com uma estética um bocado mais arrojada também, mais minimalista", recorda Tiago Seguin-Schreck, o gerente.

Ganhou experiência na Toca da Raposa de Constança Cordeiro, referência da coquetelaria lisboeta. Aqui, a missão foi ambiciosa desde o início – surpreender quem entra com receita originais e ingredientes inesperados. Ao primeiro gole, as receitas da casa distinguem-se de tudo o resto que temos provado, resultado de tentativas e erros e de um espírito quase laboratorial levado para dentro do bar.
"Trouxeram-me para isso", continua o mixologista. "Foi assim que o Fúria nasceu – focado no cocktail, na criatividade, no experimentalismo. Temos um cocktail com mascarpone, outro com amendoim, beterraba e manjericão. Tudo isto focado também o mais possível na sazonalidade dos ingredientes e na frescura dos produtos, ou seja, usar o mínimo de coisas pré-feitas. Tudo o que é à base de fruta ou legumes somos nós que transformamos – com as frutas fazemos os sumos, depois transformamos em licor, infusões que fazemos com ervas frescas, os frutos secos em óleos", enumera.
Em suma: não estamos num simples bar, mas sim num laboratório de cocktails, onde até o ruído dos rótulos das espirituosas é anulado, com o recurso a garrafas padronizadas – com tampas de inox, claro. "Cada vez mais a coquetelaria se aproxima do mundo da cozinha. É onde vamos buscar muitas das técnicas, por exemplo, a forma de pensar os ingredientes, as misturas", conclui.

No menu, há uma dúzia de cocktails à escolha – alguns já estão preparados e são servidos à pressão, numa das torneiras instaladas atrás do bar, enquanto outros são feitos à vista. É o caso do Cheesy Tom (13€), uma intrigante mistura de tequila, mascarpone, tomate e yuzu. Foi um dos primeiros cocktails criados por Tiago para o Fúria. Conta que a primeira versão era pesada e "muito gastronómica". Quando estava prestes a tirá-lo da carta, arriscou uma última afinação, desta vez aumentando a acidez. De tom esbranquiçado e textura ligeiramente aveludada, é um sucesso até hoje.
Tal como o Naughty Root (13€), com uma explosão de wasabi na boca logo ao primeiro trago, depois envolvida pela doçura da pêra e pela base de gin e vodka. O Dill-Pill (12€), outra fórmula bem sucedida, no caso para os apreciadores de cocktails mais herbais. Tem somente três ingredientes: cachaça, ananás e endro. No Nutty Granny (12€) predominam as notas fumadas, com base de whisky, maçã Granny Smith e pandan, folhas com um forte travo a frutos secos. Já o Roast My Brioche (12€) é uma sobremesa completa, com rum, laranja, café e – imagine – o próprio do brioche.
Não faltam os clássicos, embora com menor expressão da carta, nem os mocktails, uma frente que Tiago quer explorar mais no futuro. Escusado será dizer que, com um chef metido ao barulho (João Magalhães Correia), a comida também está contemplada, embora o menu privilegie pratos rápidos para partilhar e que dispensam o uso de talheres. Há duas sandes – uma de frango frito, com cheddar maionese e pickles (12€), e uma com bife tártaro, bacon, alface e tomate (10€). Bem mais viciantes são as azeitonas, que aqui são recheadas com carne, panadas e fritas (6€).

Setembro será um mês de mudança no Fúria. O bar faz um ano e a carta será parcialmente alterada para incluir algumas novidades. Mais do que ao final da tarde, é sobretudo à noite que a sala aquece. Não há pista de dança, é um facto, mas os mais audaciosos estão à vontade para ficar de pé e exibir os dotes.
Normalmente, os eventos fazem as pessoas aparecerem mais cedo. Ultimamente, a agenda tem apontado a mira à comida, com pop-ups que duram apenas um dia, com convidados tão ilustres como os vizinhos Let's Pastrami ou o concorrido O Velho Eurico. O espaço também tem estado aberto a outros bartenders, caso da dupla Wabi Sabi, do Torto (Porto) ou do Liquid Love que já aqui estiveram, atrás do balcão, a fazer das suas. Há convites que continuam por fazer. O Instagram é a melhor forma de estar a par dos próximos eventos.
Rua de São Bento, 84 (São Bento). Seg-Dom 18.00-02.00
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