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Archipelago, MAAT, Hervé Di Rosa
© Francisco Romão Pereira

Há um gigante verde no tecto da Galeria Oval: Hervé Di Rosa chegou ao MAAT

Pinhatas, azulejos, caravanas e personagens da Disney. O quotidiano é elevado a arte pelas mãos de Hervé Di Rosa. Não é kitsch, são "artes modestas".

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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"Archipelago", exposição que o MAAT abre ao público esta quarta-feira, começa com uma aula de geografia. E são quatro os mapas em análise – de uma Pangeia onde todas as expressões artísticas integram um mesmo território, o francês Hervé Di Rosa parte para ilustrar a progressiva fragmentação de movimentos, correntes e manifestações artísticas, ao mesmo tempo que representa afinidades sob a forma de fronteiras e latitudes e sugere novas definições. Num planisfério de escala sobre-humana, feito de propósito para esta exposição, consuma a separação de todas as ilhas. Uma delas responde por um conceito que o próprio cunhou, as "artes modestas".

Archipelago, MAAT, Hervé Di Rosa
© Francisco Romão PereiraHervé Di Rosa

"Não é um género, é um olhar sobre coisas para as quais normalmente não olhamos. Obriga-nos a olhar para fora do território que nos é imposto", explica o artista francês, durante uma primeira visita à exposição que ocupa a Galeria Oval do museu. Com uma carreira que soma já mais de 40 anos e que começou precisamente pela pintura, Hervé Di Rosa rapidamente começou a desafiar os limites instituídos da arte. Viajou, por um lado, pelos quatro cantos do mundo, absorvendo influências de artesãos locais, coleccionando técnicas e objectos singulares. Por outro, construiu o seu próprio imaginário, fortemente enraizado na cultura pop e em figuras do domínio comercial.

"Comecei a pintar para falar de mim, do meu dia-a-dia, inspirado pelo cinema, por capas de discos de rock, mas também com referências como Matisse, Bosch e Rembrandt", continua. Cresceu em Sète, pequena cidade costeira no Sul de França, entre livros e banda desenhada. Até hoje, o universo pictórico de Di Rosa permanece pautado por algumas dessas figuras, que agora vieram em força para Lisboa. Ao longo de quatro anos de trabalho em Portugal, colaborou com a Viúva Lamego numa série de azulejos. Para o MAAT trouxe não só os originais, como versões aumentadas que dispôs como estandartes ao longo da rampa de acesso à galeira. No final da descida, está Tous en bateaux, pintura de 1988, síntese de um imaginário.

Archipelago, MAAT, Hervé Di Rosa
© Francisco Romão Pereira

Mais do que pinturas na parede, o acervo do artista francês é sobretudo tridimensional. Em 2000, abriu o MIAM (Musée International des Arts Modestes) na sua terra natal. É lá que reúne milhares de objectos que foi coleccionando ao longo do tempo, bem como obras de artistas e artesãos dos sítios por onde passou desde que decidiu galgar as fronteiras europeias e descobrir o mundo – além, claro, das suas próprias obras. Em suma, um espaço que nasceu para albergar tudo o que não tinha lugar noutros museus. "A arte contemporânea tinha uma única visão, então criei um museu para poder ver o que não via nos outros sítios."

Uma mistura de peças, espelho da mistura que sempre rodeou o artista. Para a exposição no MAAT, a primeira desta dimensão em Portugal, desenhou expositores piramidais para acomodar centenas de objectos – figuras do Bambi, globos de neve, livros de cordel, figuras religiosas vindas do outro lado do mundo. De Sète para Lisboa, quatro camiões TIR transportaram as mais de mil peças agora mostradas em "Archipelago", exposição com curadoria de Noëlig Le Roux, que também não conhece limitações de escala. Vai da mais pequena action figure à Ah! Ah! Ah!, criatura verde insuflável, cujos tentáculos alcançam praticamente toda a galeria – entidade guardiã da arte modesta.

Archipelago, MAAT, Hervé Di Rosa
© Francisco Romão Pereira

Do Sul de França vieram ainda caravanas de escala real – uma delas, à entrada da exposição, é um autêntico gabinete de curiosidades, repleta de figuras e objectos da chamada "arte comercial" –, pinhatas mexicanas a que deu formas próprias e figurinos feitos nos materiais mais surpreendentes. A arte e as suas fronteiras questionadas no espaço mais amplo do MAAT, até 11 de Setembro, altura em que o museu abrirá espaço para a tão esperada exposição de Joana Vasconcelos.

A calma e a água de Sandra Rocha e a pintura de Ana Cardoso – mais duas exposições para ver no MAAT

Em simultâneo, o museu abre portas a outras duas exposições. Na Galeria 2, instala-se Sandra Rocha com uma exposição assente na dualidade entre imagem fixa e imagem em movimento. A água, "fluxo contínuo de energia", surge como elemento comum. Enquadrada por pesquisas que a levaram a ler Ovídio, Gaston Bachelard, Emmanuel Coccia e Jean-Christophe Bailly, a artista exibe imagens realizadas maioritariamente nos Açores, marcadas pelo encontro entre humanos, animais, plantas e minerais. "Da calma fez-se o vento" conta com curadoria de João Pinharanda e fica patente até 11 de Setembro.

Já a exposição, com o mesmo curador e que abre ao público também na quarta-feira, de Ana Cardoso ocupa uma das galerias da Central Tejo. "Leaky Abstraction" parte da investigação em torno da pintura e explora ilusões de óptica possíveis através da geometria. Telas tecidas trazem um novo nível de leitura à abstracção. A artista, que trabalha entre Nova Iorque e Lisboa e foi finalista do Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2017, pensou ainda no espaço da exposição como experiência cenográfica. Faixas verticais suspensas condicionam a visibilidade e a circulação do público.

Avenida de Brasília (Belém). 21 002 8130. Qua-Seg 10.00-19.00. Até 11 Set. 9€

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