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Feira de Inverno
Mariana Valle Lima

Há uma mini-feira popular em Lisboa, mas poucos deram por ela

A Feira de Inverno da Freguesia da Estrela tem carrinhos de choque, farturas e gente que, depois de dois anos sem trabalhar, se mostra feliz por voltar a ver lisboetas na rua.

Joana Moreira
Escrito por
Joana Moreira
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É preciso saber ao que se vai para chegar ao Terrapleno de Santos. Não há sinalética, nem cartazes a anunciar, nem nada que indique onde está a Feira de Inverno organizada pela Junta de Freguesia da Estrela. Mas ela está lá, para lá das obras que a circundam, mesmo junto ao rio Tejo. 

À chegada, deparamo-nos com uma Feira Popular em versão miniatura. Há carrosséis, carrinhos de choque, diversões infantis, uma zona de restauração com cachorros, bifanas, hambúrgueres, churros e farturas. A entrada é livre – sujeita à apresentação do certificado de vacinação – e um copo de cerveja custa 1€. 

Feira de Inverno
Mariana Valle Lima

Carla Pinto, 49, gere com o marido várias atracções da feira. "Nas diversões para os adultos não está nada como a gente está habituada, mas vai-se trabalhando. Em relação aos infantis está um pouco fraco. As crianças estão na escola, muitas em isolamento, então só há mesmo [movimento] ao fim-de-semana”, relata.

Se o labirinto  para os mais pequenos está praticamente vazio, há sempre graúdos dispostos a testar a pontaria nos "tiros", como são popularmente chamados. De pistola ou espingarda na mão, o objectivo é tirar todas as latas para fora das prateleiras com 11 tiros. A brincadeira custa 4€ e tem feito as delícias de "pessoas da zona e alguns turistas, o que é bom, para o país e para todos nós".

Inicialmente prevista para abrir a 14 de Janeiro, as luzes das atracções acenderam apenas no dia 26. Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, justifica o atraso da abertura da feira com o crescente número de casos de Covid-19. A data de encerramento mantém-se: 13 de Março. 

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Com a abertura adiada, a esperança de muitos – como Carla – é que a data de fecho também se altere: "Por mim ficava mais tempo, depois de tantos meses parada devido às circunstâncias, não podíamos trabalhar… O sítio é muito agradável, não tem estado mau ambiente. Ouvimos muito na televisão e que se passam inúmeras coisas aqui em baixo, e nós não sentimos isso. Tem estado sempre muito bom ambiente, ainda não foi preciso vir cá a polícia por motivo algum, tem corrido tudo bem. Por mim ficava mais tempo (risos)".  

O clássico canguru é o único sítio onde há fila para entrar. Ana Fernandes, 37, proprietária, explica que a espera é necessária para que, entre cada volta, se desinfectem os assentos e trancas de segurança. "Estávamos à espera de ter menos gente, mas as pessoas têm aderido bem. O tempo também tem ajudado, não tem chovido, isso ajuda mais", diz. "Durante a semana há mais pessoas aqui da zona, ao fim-de-semana é que vêm mais pessoas de fora", conta. Com 10€, três pessoas podem andar para cima e para baixo no carrossel colorido – de preferência de estômago vazio.

Quem aguarda na fila sente o cheiro a farturas a dois passos dali. Ivo Macedo, 31, é o proprietário das farturas Otário, um negócio de família que gere há uns anos. Há churros com recheios vários, farturas, claro, e mini-churros vendidos à meia dúzia (4€) ou à dúzia (5€). "Não estávamos à espera de nada, é algo novo, num sítio que acaba por ser escondido. Estamos junto à zona ribeirinha, mas estamos tapados à volta", diz. "Temos sentido que o passa-a-palavra e as redes sociais têm ajudado. As pessoas têm aderido porque vêem outras a cá vir." 

Feira de Inverno
Mariana Valle Lima

"É normal. Dentro de Lisboa, quem imaginaria um parque tão bonito como este?", pergunta Ivo. A localização, a poucos metros da discoteca Urban Beach, fazia prever outro tipo de público. "Achámos até que íamos ter mais [afluência] nocturna, por causa das discotecas aqui ao pé, mas não, temos tido famílias a vir cá durante o dia, e ao fim-de-semana. Surpreendeu-nos pela positiva".

Depois de dois anos parado, Ivo mostra-se revoltado com a falta de apoio do Estado. "Se não fossem os meus pais não me teria sustentado", admite. Apesar da felicidade em voltar às frituras, não esconde o receio pela "libertação" que se avizinha. "Os ditos alfacinhas de gema têm uma certa revolta de terem estado dois anos sem trabalhar. Hoje até tenho medo de como vai ser o Santo António em Lisboa. As pessoas estão com um desejo enorme disto", acredita. 

As farturas Otário continuarão no Terraplano de Santos, "caso o ambiente se mantenha e as pessoas se continuem a comportar, a fazer o uso de máscara", diz Ivo. Contudo, há quem já tenha planos para as semanas seguintes. "Tenho colegas que ao final de Março já têm, se Deus quiser, a Feira de Março, em Aveiro, uma das grandes feiras do nosso país", avisa.

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Mariana Valle Lima

Mesmo ao fundo do recinto, dentro da cabine dos carrinhos de choque está José Simões, que vai trocando dinheiro por fichas que põem os carros a andar. Uma voltinha custa 2,5€, quatro são 5€ e nove são 10€. "Sempre trabalhei nestas coisas de carrinhos de choque. É a minha vida", conta. Com 71 anos, continua a dar as indicações aos principiantes. "É preciso carregar no acelerador, essa bolinha vermelha", ouve-se pela coluna.

Quanto à feira, "está a correr assim-assim. É poucochinho, mas pouco é pouco, e estávamos parados e nada é nada", brinca. Ao volante há sobretudo portugueses, turistas "não são muitos, a gente queria mais, mas olhe, é o que se arranja". "O comerciante está sempre com aquela expectativa de isto melhorar. Não é só isto, é tudo, o nosso país tem de melhorar com mais condições de trabalho para todos", diz. 

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Simões ainda é do tempo da verdadeira Feira Popular, onde começou a trabalhar aos 14 anos, e exalta as diferenças. "Falta aqui muita coisa, o restaurantezinho com as sardinhas, muitos divertimentos, falta uma montanha-russa, faltam essas coisas todas. Mas presentemente não temos condições para ter assim divertimentos desses valores", explica. 

Na verdade, chegou a estar prevista uma roda gigante no recinto, mas o período de funcionamento da Feira de Inverno revelou-se curto para justificar o investimento. "Há quatro rodas gigantes em Portugal e, ao contrário da nossa expectativa inicial, uma delas até tinha demonstrado interesse em participar, mas as pessoas entenderam que precisavam de ter mais tempo para ter a roda gigante a funcionar", explica o presidente da Junta de Freguesia da Estrela. "Imagine quando tivermos uma roda gigante. Vai ser melhor que Londres", diz Newton, adiantando que pensa já em novas edições. 

Terrapleno de Santos. Seg-Sex 15.00-02.00. Sáb-Dom 14.00-02.00 Entrada livre

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