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Há vulvas de barro nas ruas de Lisboa para nos pôr a falar do prazer feminino

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Carine Panigaz cola esculturas de vulvas pelas ruas de Lisboa. O clitóris é representado por um guizo e, para que “funcione”, tem de lhe tocar. O objectivo é chamar a atenção para a sexualidade, o autoconhecimento e o prazer sexual feminino há séculos reprimido.

Pombinha, pipi, pepeca. São tudo nomes usados para se referir à vulva, o conjunto de órgãos sexuais femininos externos. Se já viu mais do que uma, sabe que não há duas iguais. Pelas ruas de Lisboa, as vulvas de @vulvabell, como a artista Carine Panigaz se apresenta no Instagram, são de todos os tamanhos, formatos e cores, mas sempre vibrantes e, quando tudo corre bem, até ruidosas. É que o clitóris, retratado através de um guizo, é um convite ao toque.

Vulvabell
Projecto de street art @vulvabell
DR

“É originalmente um projecto de street art”, explica a brasileira Carine, que vive há dois anos em Lisboa, mas já anda a espalhar as suas esculturas pelo mundo desde 2018. “As paredes e os muros das ruas oferecem um espaço de exibição democrático e, através da intervenção urbana, é possível chamar a atenção para o prazer feminino, que nunca teve protagonismo dentro da história e por isso é ainda hoje tão desconhecido.”

A frequentar o Mestrado em Estudos sobre Mulheres na Universidade Nova de Lisboa, Carine cria vulvas a partir de barro que, depois de coloridas, são coladas pelas ruas, para mostrar ao mundo como “um orgasmo pode ser revolucionário”. Para os menos esclarecidos, a artista elabora: “Ensinam-nos que o nosso corpo deve estar ao serviço do prazer masculino e da reprodução da espécie. Mas o clitóris tem mais de oito mil terminações nervosas para o deleite das mulheres e há estudos que provam que a masturbação tem muitos benefícios para a saúde, desde o aumento dos níveis de dopamina, serotonina e ocitocina, essenciais ao nosso bem-estar, até ao alívio da tensão pré-menstrual”.

GCrew
Exposição de @vulvabell no clube social para mulheres GCrew
Fotografia: Melissa Vieira

Ficou com vontade de tocar no guizo? Fora de portas, Carine – que assume, com entusiasmo, a paixão por arte “que pode ser vista também com as mãos” – já espalhou vulvas na Lx Factory, na Sé de Lisboa e até no Time Out Market. “Não sei se ainda lá estão. Curiosamente, são arrancadas muito rapidamente. Prefiro pensar que quem as arranca são pessoas que as acham tão maravilhosas que as querem levar para si, como souvenir”, brinca. Mas, caso não as encontre ao ar livre, aproveite para visitar as exposições dentro de portas que se têm estreado este ano em diferentes espaços da cidade, como o Centro Cultural Sirigaita, o clube social feminino G Crew e o Arroz Estúdios, que receberá uma mostra colectiva de 14 a 21 de Março. “A temática central é o prazer feminino e a representatividade queer”, explica Carine, que verá as suas esculturas ao lado dos desenhos da Happy Vulva, uma artista alemã de Erasmus em Portugal, e dos cartazes e autocolantes da dupla Pixa Bixa, dois homens cis gays brasileiros.

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