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IndieLisboa nunca teve tantos filmes portugueses em competição

Festival mostra cerca de 250 filmes de 28 de Abril a 8 de Maio, entre o Cinema São Jorge, a Culturgest, a Cinemateca, o Cinema Ideal e a Biblioteca Palácio Galveias.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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O período estival do IndieLisboa chegou ao fim. Depois de duas edições a decorrer entre o final de Agosto e o início de Setembro, por força do contexto pandémico, o Festival Internacional de Cinema de Lisboa está de volta ao seu lugar no calendário – a Primavera. A 19.ª edição decorrerá assim de 28 de Abril a 8 de Maio, estendendo-se pela cidade desde o Chiado até ao Campo Pequeno, isto é, desde o Cinema Ideal à Culturgest, passando pelo Cinema São Jorge, pela Cinemateca Portuguesa e pela Biblioteca Palácio Galveias.

Mas isso já sabíamos. O que é novo hoje é o programa, revelado nesta quarta-feira de manhã e que traz como chamariz a Competição Nacional de Longas “mais extensa da história do festival”. Serão nove os filmes portugueses a concorrer pelo prémio que no ano passado foi para No Táxi do Jack, de Susana Nobre (este, por sinal, estreia-se no circuito comercial precisamente a 28 de Abril, primeiro dia do IndieLisboa). “Escolhemos obras de autores de gerações diferentes, com abordagens distintas entre si, numa prova da vitalidade que se vive actualmente no cinema português”, informa a direcção do festival.

Os filmes em causa são Atrás Dessas Paredes, de Manuel Mozos (“sobre o forte, o quartel, o asilo e as paredes de outros espaços que aprisionam o louco, o criminoso, a histérica”); Mato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta (“Léa, Chitara e Andreia têm um negócio peculiar – roubam petróleo a oleodutos de Ceilândia, Brasília, para transformar em gasolina que depois vendem aos motoqueiros da área”); O Trio em Mi Bemol, de Rita Azevedo Gomes (adaptação da única peça de teatro do cineasta Éric Rohmer, “espécie de comédia romântica em que o tema não é o casamento mas sim o ‘recasamento’”); Super Natural, de Jorge Jácome (“mistura documentário, ficção e cinema experimental e é protagonizado por algumas das pessoas com deficiência que fazem parte da Dançando com a Diferença”); Frágil, de Pedro Henrique (que também é DJ e filma a noite e o clubbing como “últimos espaços de resistência a um mundo de obrigações e instituições”); Périphérique Nord, de Paulo Carneiro (documentário que “explora a emigração portuguesa e a materialização da mesma num objecto imbuído de ideias de sucesso”, o automóvel); Rua dos Anjos, de Renata Ferraz e Maria Roxo (“duas mulheres com ofícios diferentes – o trabalho sexual e o trabalho cinematográfico – e que tentam encetar um diálogo, enquanto ambas filmam e se deixam filmar); Viagem ao Sol, de Susana de Sousa Dias e Ansgar Schaefer (“usa imagens de arquivos familiares para destacar os testemunhos de crianças vindas da Áustria para Portugal, no período pós-Segunda Guerra Mundial”; e por fim Águas de Pastaza, de Inês T. Alves (sobre a comunidade Achua, na América do Sul).

Quanto às curtas-metragens são quase o dobro: 16. Mistida, de Falcão Nhaga; Tornar-se um Homem na Idade Média, de Pedro Neves Marques (representante de Portugal na Bienal de Veneza com o filme-instalação Vampires in Space, que aqui apresenta “um conto íntimo sobre sexualidade queer, autonomia corporal, desejos reprodutivos, e o fantasma da normatividade”); By Flavio, de Pedro Cabeleira; Comezainas, de Mafalda Salgueiro; Azul, de Ágata Pinho; Cemitério Vermelho, de Francisco Lacerda; Um Caroço de Abacate, de Ary Zara; Ocelot, de Bernardo De Jeurissen; Subir e Sumir, de Francisco Queimadela e Mariana Caló; Raquel, de Duarte Amaral Netto; Antes de Mim, O Fim, de Inês Luís; Às Vezes Os Dias, Às Vezes A Vida, de Janine Gonçalves; O Banho, de Maria Inês Gonçalves; Domy + Ailucha, Cenas Kets!, de Ico Costa; Idade Óssea – Um Filme em Sete Quadros, de Isabel Aboim Inglez; e Presente, de Francisco Valente. “Tal como nas longas, as curtas-metragens escolhidas reúnem realizadores em diferentes fases do seu trajecto, num misto de autores estabelecidos e novos cineastas”, lê-se em comunicado.

Não é tudo quanto a cinema português. Há ainda para ver duas novas propostas de João Botelho: O Jovem Cunhal, documentário “detectivesco”, sobre a juventude do histórico dirigente do PCP, com enxertos encenados dos seus livros; e Uma Coisa em Forma de Assim, regresso do realizador a Alexandre O’Neill. Botelho já trabalhara com um título emprestado do mesmo poeta, no longínquo Um Adeus Português (1986). Uma das assistentes de realização desse filme era Margarida Cardoso, que também se apresenta no IndieLisboa, com Sita – A Vida e o Tempo de Sita Valles, que reúne “testemunhos de figuras políticas e da sociedade portuguesa” para resgatar a memória da activista, anticolonialista e militante do PCP que nasceu em Luanda, em 1951, e quis integrar o movimento de libertação angolano, morrendo aos 25 anos, em 1977, em circunstâncias ainda por apurar.

A cidade que acolhe o festival tem um filme com o seu nome: Lisboa, Cidade Triste e Alegre, que João Trabulo realiza a partir do seminal livro de fotografia de Victor Palla e Costa Martins. Há ainda uma secção do programa, Cinema e 5L, que é fruto de uma parceria com um outro evento cultural alfacinha, o novo festival literário Lisboa 5L, com cinco filme em que a literatura é protagonista (por exemplo, Correspondências, de Rita Azevedo Gomes). Do Brasil, para a sessão de encerramento, chega A Viagem de Pedro, de Laís Bodanzky. Centra-se no regresso a Portugal de D. Pedro IV (Pedro I do Brasil), no início da guerra civil que travou com o irmão, e pretende ser sobre “um homem sem lugar no mundo, entre o passado glorioso e o presente incerto, em busca de um novo propósito”.

Entre o início e o fim, desdobram-se as demais secções. A Competição Internacional, com 11 longas-metragens e 30 curtas. A Silvestre, secção competitiva para “filmes que arrisquem novas linguagens cinematográficas, num misto de autores consagrados e talentos emergentes”, também com 11 longas (mais três fora de competição) e 19 curtas. A Boca do Inferno, caldeirão para tabus, temas controversos, vanguardas formais e de conteúdo, e outros desconcertos no geral, que este ano conta com oito curtas e quatro longas-metragens. A Director’s Cut, desta feita com cinco longas-metragens e duas curtas que “procuram inspiração e matéria no património do cinema”. A Novíssimos, secção competitiva com 12 filmes de cineastas em início de carreira. A retrospectiva dedicada a Doris Wishman, rainha dos nudies. Ou a IndieMusic, que tem uma novidade: Music Meet me in the Bathroom, de Will Lovelace e Dylan Southern, com imagens inéditas de LCD Soundsystem e Yeah Yeah Yeah Yeahs, e que narra o alegado fim do rock 'n' roll através das bandas que definiram a sonoridade dos anos 2000 e que fervilhavam na Nova Iorque pré-11 de Setembro.

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