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Prestes a lançar um álbum de colaborações, Jaloo volta a Lisboa para dois concertos, um já nesta quinta-feira, no Espaço Espelho d’Água, em Belém, e outro dia 28, no festival MIL. Falámos com o músico brasileiro em Dezembro, na última visita a Lisboa
Foi em Dezembro que o paraense Jaloo, de 31 anos, se estreou pela primeira vez em Portugal com dois concertos, um no Musicbox e outro na Gala da Abraço. Foi nessa altura também que decidiu gravar por estas bandas um clipe do seu novo álbum que deverá ser lançado nos próximos meses, “depois de um hiato de quase quatro anos”, dizia à Time Out.
“Dói D+” chegou ao YouTube no fim de Fevereiro com um cenário bem português, entre um palacete e umas falésias nos arredores de Sintra. Pouco tempo depois do clipe chegava também a notícia do regresso de Jaloo para uma mini-tour que passou por Braga e Leiria na semana passada e chega esta quinta-feira a Lisboa com um concerto no Espaço Espelho d’Água e outro, dia 28, no festival MIL.
O pretexto é ft, o álbum que quer lançar “no máximo até Abril”, dizia-nos em Dezembro, um disco “só de colaborações” – ft é a abreviatura de featuring. “É sobre um passado muito colaborativo que eu perdi no meu primeiro disco [#1, de 2015]”, conta. “Queria fazer uma coisa especial e acabei machucando e adoecendo a minha mente de certa forma. Trabalhei em todas as questões [do disco], videoclipe, concepção visual, edição dos vídeos, as músicas… Tudo isso saiu do meu computador. Era muita demanda e isso acabou me deixando meio sequelado.”
Ft, pelo contrário, tem a ajuda de muita gente e participações de artistas como Dona Odete, Nave, Bad$ista ou MC Tha, que já participa em “Céu Azul”, um dos seus últimos hits, com mais de um milhão e meio de visualizações no YouTube. Aliás, a internet é a sua principal ferramenta e é através do reconhecimento online que vai dando shows. “O dinheiro investido em marketing é um total de zero”, explicava. “[O clipe] foi jogado na internet e os fãs fizeram a coisa aquilo que ela é, tenho muito orgulho nisso.”
Jaloo, que na verdade se chama Jaime Melo Maciel Junior, começou a produzir música no quarto relativamente tarde, aos 18 anos, quando a mãe lhe comprou um computador. “Fazia remixes num programa chamado Fruity Loops que uso até hoje, um mood de trabalho muito do Pará, que tem uma grande escola tecnobrega, que é a minha escola.”
Em 2012, com doze faixas prontas, “e [ainda] sem muita noção de mixagem e de masterização”, decidiu pô-las na internet e começou a ganhar nome. “Sou um filho da internet: fazia, postava e o retorno era orgânico. Desde o início sempre foi assim, a resposta vem de uma maneira muito orgânica.”
As coisas ganharam outra dimensão quando começou a usar a própria voz. “Em 2013 comecei a cantar e lancei um EP de covers, de versões de outros artistas. Isso me consolidou de novo, foi outro degrau. Recebi um convite para fazer parte de um selo e lançar o meu primeiro disco.”
Se #1 era um disco com mais “tristeza, o drama de alguém que tinha vivido o primeiro amor”, ft é, segundo Jaloo, “bem mais amadurecido”. Embora as dores do amor estejam sempre presentes. “Tive dois grandes amores, um por disco.”
No Brasil, Jaloo é assumidamente gay, embora não faça disso bandeira. “Estou muito feliz pela maneira como quem é queer abraça o meu trabalho. Sempre fiz questão de tratar disso da maneira mais natural possível. Faço música e transo com homens.”
Prefere passar a mensagem de outra maneira. “No outro dia dei uma entrevista para a Globo e queria muito falar com aquele jovem que tem 18 anos e que está lá na casa dele sem ideia do que vai fazer da vida e de como se assumir para os seus pais. Para ver que eu existo, que está tudo bem. Gosto mais de comunicar essa existência, de que sou gay, sou feliz (mais ou menos) e de que faço música.”