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O Amor é um Som
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Júlio Isidro estreia-se no teatro com homenagem à rádio. “E esta, hein?”

‘O Amor é Um Som’, de Carla Vasconcelos e Luísa Cruz, está em cena no São Luiz Teatro Municipal até 20 de Março.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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“Estão em sintonia com a rádio de outrora”, avisa Júlio Isidro, a partir de uma cabine instalada no São Luiz Teatro Municipal onde se lê “no ar”. É a primeira vez que o apresentador, de 77 anos, sobe ao palco de um teatro e fá-lo para homenagear um dos seus meios de eleição: a rádio. O Amor é Um Som é o nome da peça que promove essa estreia, em cena de 3 a 20 de Março. Foi criada por Carla Vasconcelos e Luísa Cruz, roubando as palavras de Júlio Dinis para fazer uma homenagem à rádio.

Há cinco anos, numa conversa informal, as actrizes descobriram um passado em comum. "O meu padrinho também fez rádio. O teu também? Será que se conheciam? Que idade é que tinha?", recorda Carla, que também assina o texto e assume a encenação do espectáculo. Navegar pelos arquivos do Rádio Clube Português e da Emissora Nacional nos anos 40 foi tarefa facilitada. "Fiquei com o repertório todo, com as partituras originais, tudo o que ele [o tio] cantava, tinha esse material todo. Além de partituras tinha e tenho os cartazes, as licenças para cantar, e guardei todos esses documentos. Portanto tínhamos aqui muito material para fazer um espectáculo”, conta Luísa. Carla acrescenta: “Eu tinha conteúdos históricos que o meu padrinho fazia no Rádio Clube Português, tenho os conteúdos das efemérides. Cresci no meio disto, lá em casa eram papéis e papéis e efemérides. Juntámos tudo e fizemos um museu". 

A criação que ocupa a sala Mário Viegas do teatro no Chiado não se fica pela dimensão familiar. A ambição é, também, "mostrar como é que uma emissão de rádio era feita, produzida, ao vivo, com público", diz Luísa. "Há muitas pessoas que não sabem como é que era feito, e a importância que isso tinha na altura porque dava trabalho a muita gente. Ainda não havia televisão, a telefonia era a caixa mágica”, continua. Reflexo disso é a multiplicação de personagens interpretadas pelo mesmo grupo de actores, que prestam a voz às exigências de uma rádio e cantam acompanhados por cinco músicos: António Palma, Carla Santos, Manuel Lourenço, Sandra Raposo e Vasco Sousa.

"As pessoas quando iam para rádio faziam tudo. As pessoas liam os textos da radionovela, as pessoas faziam o ‘crime e mistério’, as pessoas liam a publicidade, não havia nada gravado, era tudo feito ali, as pessoas desdobravam-se dentro do estúdio para fazer uma emissão", lembra Carla Vasconcelos. Ao longo de uma hora, actuações musicais alternam com arquivos sonoros e até rubricas reais, como a publicidade a benzovac para tirar as difíceis nódoas. 

O Amor é um Som
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Júlio Isidro em estreia

Calmo ("Sou incapaz de me enervar"), Júlio Isidro prepara-se para a estreia em palco. A equipa bem o avisa que na véspera os nervos podem chegar. "Não devo estar com certeza”, garante, mas antes "muito atento àquilo que vão dizendo para fazer o melhor possível evidentemente". 

Também ele se desdobra em várias personagens, como "Júlio do espólio", um homem que trabalha na morgue, que rouba os defuntos, e que é incapaz de dizer os esses. "Lembrei-me! Eu que faço o culto da palavra bem falada”, revela à Time Out. Noutros momentos, assume-se enquanto Júlio Isidro, sobretudo na hora de prestar homenagem a nomes sonantes da rádio. “[Sou eu] quando presto tributo a um dos muitos mestres que tive o prazer de ouvir e com eles aprender, de ouvido”, conta. Em todas as sessões, o nome evocado é distinto. Aurélio Carlos Moreira, Fernando Correia, Artur Agostinho, Maria Leonor, Alice Cruz, Cândido Mota são apenas alguns dos locutores que serão lembrados. No ensaio de imprensa, Júlio incorre sobre Fernando Pessa, o repórter de “98 anos e meio”, que foi contratado aos 77 anos pela RTP. “Aprendi com ele muito do pouco de que sei”, diz Isidro em palco. Nem faltou a célebre frase de Pessa: “E esta, hein?”

Nesses minutos de improviso, Júlio Isidro é acompanhado por imagens de arquivo que vão pintando o que, não estando escrito, se ouve com fluidez radiofónica. "A rádio já foi ameaçada de morte várias vezes, mas o que é facto é que tem sobrevivido”, provoca o apresentador que, até 20 de Março, ajuda a contar a história da rádio em Portugal.  

São Luiz Teatro Municipal. Qua-Sáb 19.30, Dom 16.00. 12€

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