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‘Libertin’ reúne as cartas de amor de um alemão a Lisboa

Konstantin Arnold tem 30 anos, é alemão e escreveu uma declaração de amor a Lisboa. Sentámo-nos com ele numa esplanada a falar sobre a cidade e a liberdade.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Konstantin Arnold chegou há cinco anos a Lisboa com muitas dúvidas, uma certeza e uma missão, a de encontrar inspiração para escrever um livro na cidade que sente como sua. E também de se encontrar pelos cantos e recantos da cidade, onde teima em se demorar nos seus longos passeios diários. Não tem de ir a lado nenhum, porque já está onde quer.

Libertin – Briefe aus Lissabon (Libertino – Cartas de Lisboa) é o nome do seu primeiro livro publicado, uma edição lançada pela editora PROOF Verlag, um conjunto de cartas que escreveu sem destinatário, com Lisboa como pano de fundo e a liberdade como máxima de vida. Para 3 de Maio está marcado o lançamento oficial na Galeria da Livraria Sá da Costa, além da apresentação de um trailer para um filme baseado no livro, realizado por Pascal Thieret. Uma produção que ainda procura financiamento e que conta com as actrizes portuguesas Mariana Monteiro e Beatriz Barosa.

Libertino – Cartas de Lisboa
©DR

Konstantin deu muitas voltas até chegar aqui, depois de outros países e muitos aeroportos. No livro que agora publica, faz uma declaração de amor à cidade que escolheu para parar, sem nunca estar quieto. No blogue do autor pode conhecer excertos não traduzidos dos seus capítulos, sempre acompanhados de imagens e terminados com reticências, porque, explica, “a história tem dez páginas, 90% não está lá, mas as histórias não são para a internet”.

Libertin, explica, é um livro para Lisboa. “A arte para mim é pegar no facto de que nada é eterno e fazer algo que dure mais tempo, como um livro. Espero que daqui a 100 anos alguém pegue no livro e descubra mais uma camada de Lisboa. E que ajude um amante a viver o amor de forma mais honesta e experimente a cidade. É o meu objectivo: sermos mais humanos, mais nós, mais verdadeiros e amar o lugar onde vivemos.”

A primeira vez que conheceu Lisboa foi em 2007, em direcção ao mar, onde queria aprender a surfar. Passados dez anos mudou-se para o lugar que lhe deu “qualquer coisa”, que o puxou de volta, ao que parece para sempre. “Somos tantas pessoas e há tantos países no mundo, que acredito que há um lugar onde nasces e outros onde pertences”, diz.

Escreve para jornais como Frankfurter Allgemeine Zeitung, Die Welt e Neue Zürcher Zeitung para pagar a renda, o vinho e as azeitonas e para “fazer viagens que nunca poderia pagar”. Mas espera um dia poder viver da literatura, para poder viver livremente. Até porque considera que “a liberdade é a única coisa importante” e que está tudo nas nossas mãos. “Ficar para sempre seria de loucos, mas ir embora seria ainda mais. Tenho tanto de mim nesta cidade que se for para outro sítio vai tirar tanto da minha alma que prefiro morrer.”

Libertin – Briefe aus Lissabon
©DR

Anda dez quilómetros por dia, calcorreando a cidade que tanto o inspira. “É muito bonito vivermos numa capital europeia, subirmos três escadas no Rossio e estarmos numa aldeia com galinhas à solta ou uma senhora mais velha a gritar… O romantismo das colinas de onde vês a cidade, o Tejo e a luz que reflecte nas paredes, nos jardins e nas caras das pessoas. A cidade é tão bonita que quem vem aqui tem a oportunidade de ficar também mais bonito, por dentro. E é isso que Lisboa me faz, é uma loucura.”

Além dos seus passeios e aventuras pela cidade, Konstantin estuda a história de Lisboa e consulta, por exemplo, os conteúdos da RTP Arquivos, a partir de onde conclui que “Lisboa não mudou assim tanto”. A partir deste passado, espreita para um futuro (coisa que não costuma fazer) e confessa-se de coração partido. “Se o dono deste velho café morre, vão aumentar a renda e essa energia crua desaparece”, diz este homem que procura “energia autêntica”.

E como terá sido viver esta cidade musa durante a pandemia? “Com todo o respeito pelas pessoas que tiveram problemas económicos durante a pandemia, para mim foi a maior bênção. Tive a oportunidade de ver a Lisboa que nunca mais vou ver na vida. Foi a experiência mais bonita, ter a cidade para mim. A relação íntima que estabeleci com Lisboa foi gratificante. As pessoas queixavam-se que não podiam fazer nada, mas podem fazer tantas coisas. Não precisas de eventos, tens-te a ti próprio”, descreve.

Durante os últimos meses, meteu cartas em casas que queria visitar em edifícios mais antigos. O objectivo era comparar a sua imaginação com a realidade e a verdade é que muitos o convidaram a entrar, com o recomendado distanciamento, sublinha. “Foi surpreendente. Tens esta paisagem de Lisboa, mas é tudo sobre as pessoas. Eu venho da Alemanha e a abertura que vocês têm para o viver e deixa viver em relação a outras culturas é muito bonito. E falar português mudou a minha percepção. Antes era só mais um alemão em Lisboa, agora sou um de vocês.”

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