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Lucas Dutra
Fotografia: Francisco Romão Pereira/Time OutLucas Dutra

Lucas Dutra: “Sinto falta do apoio português às coisas que são nossas”

Com mais de uma década de experiência como actor, é na realização que Lucas Dutra se tem destacado. A sua última curta-metragem valeu-lhe mais um prémio e outro bilhete para Cannes.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Presença assídua nas telenovelas nacionais desde os 13 anos, Lucas Dutra integra actualmente o elenco de Cacau (TVI) e este ano chega à Netflix como membro do elenco da terceira temporada da série norte-americana Vikings: Valhalla. Este mês, estreou no cinema o filme Revolução (Sem) Sangue, no qual interpreta Fernando Giesteira, um dos jovens assassinados pela PIDE no 25 de Abril de 1974. É a sua estreia numa longa-metragem.

Lucas Dutra está a viver um bom momento na sua carreira como actor, mas o motivo desta conversa foi a sua recente passagem para o outro lado da câmara, como realizador e argumentista, uma aventura que já lhe valeu alguns prémios. Como pela curta-metragem (Nós) Na Cabeça (2023), sobre uma jovem que sofre de esquizofrenia, que lhe valeu o prémio para Melhor Argumento (em conjunto com Madalena Aragão) no âmbito do #TikTokShortFilm, lançado em parceria com o Festival de Cannes.

Em Março, a curta-metragem Do Outro Lado (2023), venceu o prémio para Melhor Filme, no Filmapalooza, festival organizado pelo 48 Hour Film Project, que incluiu mais de 500 participantes. Uma distinção que qualifica este último trabalho de Dutra a ser exibido no Short Film Market, do próximo Festival de Cannes. Pelo meio, foi convidado a realizar a série #NaWeb, um conjunto de 12 curtas-metragens com os novos personagens de Morangos com Açúcar, disponíveis na plataforma do clube da série, apenas acessível a assinantes. Aos 24 anos, Lucas Dutra promete que vai continuar a trabalhar nas várias frentes do mundo do audiovisual.

Tens uma breve carreira na área da realização, em oposição à tua carreira de actor, que já é bastante longa para a tua idade. Mas vamos começar pela curta Do Outro Lado, que te vai levar outra vez a Cannes. Fala-nos um pouco do nascimento desta história que tem como pano de fundo a Inteligência Artificial. Que mensagem, antes de mais, é que integra?
Foi um desafio lançado pelo 48 Hour Film Project, que é fazer um filme em dois dias, um exercício muito bom para qualquer criador: ter esta necessidade de criar rápido e bem. Havia vários temas possíveis e uma ideia que eu já gostava de alguma forma, que era este lado da Inteligência Artificial. É uma coisa que tanto me fascina como me assusta, tem esse paradoxo. Pode ser uma ferramenta muito boa, mas é como nos filmes de ficção científica, é sempre projectada aquela ideia de a máquina ultrapassar ou de alguma forma conseguir afectar a raça humana. Então tentámos de alguma forma humanizar esta Inteligência Artificial, sob a forma de um jovem rapaz e todo o seu processo do dia-a-dia, de como é que funciona uma máquina. O acordar é o ligar da máquina; o exercício físico é o arranque da máquina… Então ele acorda, faz exercício físico, recebe os updates, que são as caixas com vários livros, que reflectem conhecimento, e ele recebe todas as manhãs um novo update. Foi uma forma de falar um bocadinho sobre qual é que seria o dia-a-dia de um chatbot de Inteligência Artificial. E quais são os perigos, que é aquilo que vemos mais para o final.

Lucas Dutra
Fotografia: Francisco Romão Pereira/ Time OutLucas Dutra

Porque ele depois não tem experiência de vida absolutamente nenhuma, não é?
Nenhuma. Nós introduzimos esta experiência de vida através deste malware, uma jovem e atraente vizinha que vem num update. E usamos a garrafa de vinho como uma coisa que ele nunca experimentou e de repente ela introduz a música. Começamos a introduzir todas estas noções, que depois vão levá-lo obviamente a ceder. Neste caso, ele cede e ocupa aquela área da parte de trás da casa dele, que é a parte do firewall. A parte que tem toda a informação a que um chatbot não pode ter acesso [...]. Tendo em conta que a Inteligência Artificial é dos temas mais falados hoje em dia, acho que os seus perigos também não podem ser um tabu. Era isto que eu queria focar no filme, juntamente com o Eduardo, que me ajudou a escrever.

Eduardo Queiroz, que é músico.
Compositor, exactamente.

Vocês já tinham trabalhado juntos noutra produção.
Foi ele que fez a música do (Nós) Na Cabeça. O Eduardo já me conhecia desde pequenino. E é engraçado porque há uns anos, antes de eu ir para Londres estudar realização, ele disse-me assim: “Lucas, gostava de ser mecenas de alguém e acho que terias potencial para isso”. E eu disse: “Eu vou agora estudar, mas depois, mais para a frente, logo vemos isso. E ele sempre teve um interesse muito grande em produzir, para além de compor. Eu não adoro produção, gosto de realizar, de escrever e de representar. Então fizemos aqui uma dupla, que agora tem-se tornado quase inseparável: ele produz e compõe a música e eu escrevo, realizo, e se for preciso actuo também. Correu muito bem no (Nós) na Cabeça, a música liga completamente a história, traz um peso emocional, mas não de uma forma muito melodramática. E estamos a manter esta aliança.

E também têm um projeto que é o Unpredictable Sessions [2022], ligado ao jazz.
Exactamente, eu realizei, o João Castro, que é o director de fotografia com quem eu trabalho, também fez câmara e depois os dois fomos editando. É um projecto muito interessante, porque eu nunca tinha feito documentário. O Eduardo queria fazer um projecto documental sobre a música de improviso, pegou em dois artistas inacreditáveis – o Gabriel Ferrandini e o Ricardo Toscano, saxofone e bateria – e fizeram uma sessão, um dia todo, a tocar de improviso. E foi um trabalho muito interessante de realização, a preto e branco, trabalhámos muito com sombra e luz e acima de tudo foi das coisas mais divertidas que fizemos. Não sabermos para onde é que eles vão com a música e nós não sabermos para onde é que vamos com a câmara.

Todos improvisaram.
Era toda a gente a improvisar. E o projecto correu efectivamente bem, foi um dos primeiros projectos que fizemos os dois e foi correndo bem. Ganhámos um festival em Tóquio, outro em Paris, então já aí começámos a perceber que havia aqui qualquer coisa que estava a dar certo. E a partir daí temos agora planeados mais projectos.

No (Nós) na cabeça, ao contrário do 48 Hours Film Project, o tempo de produção podia ser mais alargado, apesar de ter só dois minutos.
Foi filmado, se não me engano, numa noite e numa tarde. E, apesar de não haver esta questão de tempo, como era um filme sem orçamento, tinha de ser efectivamente uma coisa entre amigos. O mais importante era que a mensagem conseguisse estar lá e trabalhando com bons profissionais, mesmo pro bono, mesmo sendo um projeto de paixão, acho que o resultado mostra exactamente isso. Conseguem-se fazer coisas boas com pouco.

A Madalena Aragão também assina o argumento.
A ideia foi dela, a escrita do argumento foi minha. Era uma ideia que a Madalena já tinha tido de uma relação passada, trouxe este lado pessoal. Quando se faz filmes sobre mensagens que nos são pessoais, tem um peso diferente. Acaba sempre por ter uma coisa mais forte.

No filme Do Outro Lado, por exemplo, pensaste alguma vez que teria potencial para ser a base de uma longa-metragem?
Acho que o formato funciona muito bem em curta-metragem. Se tentasse estender para uma longa-metragem, teria de colocar muitas outras nuances, que era possível, mas que para curta-metragem já serve um propósito. Mas eu sei, sem dúvida, que tenho mais histórias que mais facilmente vou conseguir produzir através de curtas-metragens, e depois se correrem bem, obviamente, esticar para longas ou séries.

Agora, quando fores novamente a Cannes, a curta vai ser exibida no Short Film Market. É uma montra para mostrar o trabalho de criadores ao mundo?
É um espaço que funciona em competição, é um espaço de partilha de trabalhos do mundo inteiro. A selecção é muito rigorosa, daí Cannes ser visto como o pontífice máximo do cinema e da produção audiovisual. As curtas no Short Film Market são vistas pelo mundo inteiro, por actores, realizadores, outros criadores, é muito bom, não só para o meu trabalho, mas também para o nome de Portugal estar lá. Não é a primeira vez, mas é a primeira vez com uma curta vencedora do Lollapalooza. Quero que Portugal seja mais do que futebol, mais do que fado e tentarmos, em todas as áreas possíveis, mostrar como é que num país pequeno, que há uns anos era considerado lixo pela Europa, pelo menos a nível financeiro, como é que agora conseguimos fazer coisas tão boas e, em muitos casos, com tão pouco. É por isso que tenho tanto orgulho desta curta-metragem ganhar o festival Lollapalooza, a concorrer com países como Estados Unidos ou o Japão. Estamos a falar de curtas-metragens com muito dinheiro, muito investimento, e nós com uma coisa pequenina conseguimos mais uma vez mostrar o nosso brio e o nosso trabalho. E é isso que me deixa mais orgulhoso.

O nosso mercado não sustenta a criatividade?
Sempre aconteceu, e das coisas mais incríveis das redes sociais e das plataformas de streaming é eu conseguir internacionalizar o mercado português. Eu consigo, de repente, com umas legendas e uma coisa feita em português, pôr no TikTok e de repente temos uma curta-metragem vista por 400 mil pessoas e que foi a Cannes. Mas uma das coisas que eu acho mais importante referir é que, quando eu digo investimento, não digo só monetário: sinto falta do apoio português às coisas que são nossas. Vou dar um exemplo muito simples, do (Nós) na Cabeça. Na altura, recebi uma mensagem da organização do Festival de Cannes, a dizer que queriam usar o filme para passar em vários cinemas de Paris. Em vez de porem publicidade ou trailers, quiseram pôr os filmes vencedores do festival do TikTok. Isso fazia sentido se acontecesse em Portugal e não aconteceu. São estas pequenas coisas às vezes que me deixam um bocadinho frustrado. Mas eu hei-de conseguir investir o suficiente para mudarmos isso.

Também realizaste episódios num formato raro em Portugal, para as série #NaWeb, que faz parte do universo Morangos com Açúcar. Esse convite vem um bocado na sequência do (Nós) na Cabeça, certo?
Sem dúvida alguma, mas é meio agridoce. É incrível vermos o nosso trabalho reconhecido e que esse reconhecimento nos leva a outros lados, mas às vezes, se não ganhar um prémio, tenho mais dificuldade em conseguir progredir na minha carreira. Fico um bocado triste, porque sei que há pessoas com muito talento e pela falta desses prémios não conseguem chegar tão longe como poderiam. Mas, efectivamente, o prémio do TikTok de Cannes fez com que a indústria olhasse para mim não só como um actor, mas também como criador. E isso, para mim, foi uma das coisas mais importantes. Não me verem só como um rapazinho que faz novelas desde os 13 anos. Essa mudança de paradigma é muito difícil, principalmente na minha idade. E este projecto acaba por ser também uma prova de confiança. É uma websérie na vertical para o mundo digital. Queremos pôr na televisão? Não dá. Isto é feito para a web, foi filmado na vertical. Filmar um projecto e concebê-lo um bocadinho à semelhança do TikTok tinha principalmente a ver com isto, com este desafio do novo formato. Isto é a pretensão de qualquer realizador: inovar. Até eu tinha muito preconceito, porque pensava: “mas isto não é cinema, isto é conteúdo, é entretenimento fácil para redes sociais”. De repente, consigo olhar para um formato 9x16 em vez de 16x9 e ver uma oportunidade de criação nova. É um novo desafio de realização: como é que vou criar conteúdo de qualidade, com bom planos, boa construção, bom blocking dos actores, boa luz, na vertical? E conceber os projectos na vertical torna-se todo um desafio que quero muito ver no futuro. Se conseguir ver um conteúdo feito e pensado para os telemóveis, sem dúvida que muita gente vai dizer que é a morte do cinema. Mas esta velocidade que temos hoje em dia de ver o conteúdo rápido nos telemóveis pode traduzir-se para conteúdo de qualidade.

Tiraste em Londres o curso de realização na Middlesex University. O que te leva lá?
É um bocado polémico. Eu sinto que não existia nenhum curso em Portugal que oferecesse aquilo que eu procurava. Principalmente este lado em que se consegue fazer um meio-termo entre o compromisso artístico e o comercial. Nós temos ou filmes de autor ou comédias comerciais. E Portugal vive nesse mercado. Ou é o filme que vai para Cannes e 30 mil pessoas vêem no cinema, ou é daquelas comédias que não vão de todo para Cannes nem perto disso, mas têm não sei quantos mil espectadores. Não estou a dizer com isto que não haja filmes portugueses incríveis. Mas ainda há pouco. E sinto que começa tudo nas escolas. Ou seja, eu podia ir para um estudo um bocadinho mais prático, talvez uma Lusófona, ou uma coisa mais artística, talvez no Conservatório. Mas ter os dois juntos é coisa que não vejo. A Middlesex University é uma escola com muitas boas condições ao nível de material e infra-estruturas, mas ao mesmo tempo tem um lado artístico que é inacreditável. Estamos a falar de professores que escrevem argumentos que estão agora a ir para a televisão.

Lucas Dutra
Fotografia: Francisco Romão Pereira/ Time OutLucas Dutra

E tens uma curta chamada The Piggyback Ride [2022], onde entra a Helena Caldeira. Foi feita nesse ano?
Foi a curta de final de curso e a única razão pela qual nós não a distribuímos e não a tornámos pública – e em princípio não vamos fazer – é porque funciona como um piloto para uma série que eu sempre quis fazer, ao contrário, por exemplo, da Do Outro Lado, uma ideia que ficou fechada. É uma ideia que estou a desenvolver juntamente com o Eduardo para um próximo projecto. Inicialmente uma longa-metragem que depois funciona como um piloto para uma possível série.

Mas já conseguiram alguns apoios?
Estamos a ter reuniões e já temos um elenco forte.

Em termos de direcção de actores, sentes que partes em vantagem com tantos anos de experiência?
Das coisas que mais me elogiavam na Middlesex University era que eu sabia falar com os actores, eu sabia dizer aquilo que queria porque já trazia o historial para trás. E outra coisa muito interessante era na parte de escrita. Muitos actores reescrevem muito aquilo que lêem. Porque têm necessidade de sentir aquelas palavras encaixarem na boca do personagem que vão criar. E muitas vezes quem escreve não leva as palavras para a boca do actor, apenas porque pensa numa ideia, de uma coisa que gostava de ver. Então acho que esse lado de trabalhar como actor e como realizador é um ciclo que me ajuda imensamente.

E foste aprendendo a ser actor.
Já fiz vários workshops e nunca fiz formação académica, ao contrário de realização. Fui fazendo formações ao longo da vida, porque senti que ganho mais em ter o Mário Biagini, que era aluno do [Jerzy ] Grotowski, cá em Portugal e fazer um curso com ele. Ou seja, sinto que o ensino do trabalho de actor consegue ser tão mais enriquecedor se eu tiver vários professores e vários métodos. Agora, claro que gostava de fazer um curso com mais de uma duração. Daí estar agora a tirar um curso também de espanhol para ir fazer um curso de representação a Espanha. Mas sinto que a formação do actor é uma coisa mutável, é o estudo da vida.

Estás a aprender espanhol, o que me leva à ideia de internacionalização. Já fizeste pelo menos uma produção no estrangeiro, na série Vikings: Valhalla.
Se bem que ali era um desafio engraçado, porque era inglês com sotaque de grego arcaico.

Mas o espanhol é também uma forma de alargares um pouco o teu mercado de trabalho como actor e realizador?
Sem dúvida alguma. Estando agora a trabalhar também numa produtora de publicidade, a Show Off Films, como realizador. E explorando este universo da publicidade, sabemos que viaja o mundo inteiro. De repente posso estar a fazer uma campanha para a Espanha. O mercado espanhol, como sabemos, é o segundo ou terceiro maior mercado do mundo. Estamos a falar da América Latina toda. Aprender bem o espanhol pode-me dar uma abertura de mercado como actor, argumentista e realizador, que é muito importante.

E também começam a surgir mais co-produções entre Portugal e Espanha.
Dos objectivos que eu tenho com o Eduardo de produções futuras como realizador e como argumentista, é fazermos várias co-produções. Tentar produções com o Brasil, tenho a vantagem de já falar português no Brasil porque sou filho brasileiros. Num dos filmes que fiz agora, que foi o Hotel Amor, com o Hermano Moreira, que é um filme que em princípio estreia em Novembro, ou então para o ano que vem, a minha personagem fala português do Brasil.

E está nas salas Revolução (Sem) Sangue, um filme ambientado no pós-25 de Abril. Portanto, este lado de actor vai continuar também sempre muito presente na tua vida. Queres que as duas coisas se desenvolvam paralelamente?
Acho que é o equilíbrio mais difícil que eu vou ter de encontrar. E é engraçado porque são poucas as pessoas que me vêem fazer os dois. Na verdade, acho que eu sou a única pessoa que acredito que seja possível. A minha agente vê-me como actor, a Show Off vê-me como realizador. E efectivamente, eu quero as duas coisas.

Mas há exemplos na história dos cinema. O primeiro que me vem à cabeça é o Polanski, que sempre realizou.
E o Orson Welles também. E, por exemplo, Bradley Cooper. Trabalhou muito como actor e agora começou a desabrochar um bocadinho mais. O que eu sinto que é difícil é fazer os dois em simultâneo. Normalmente o que acontece é: escolhe-se um área para crescer e ganhar algum mediatismo. E aquilo que eu quero, que é mais difícil, é tentar fazer os dois em simultâneo. Que é, de repente, estar a trabalhar como realizador e parar um bocadinho o processo de realização para agora fazer um filme como actor. Eu vou ter de abdicar. Vai haver um momento em que vou ter de escolher um em prol do outro. E claro que isto vai necessariamente afectar uma das carreiras. Escolher um projecto como actor quer dizer recusar alguns projectos como realizador que seriam bons para a minha carreira de realizador e vice-versa. Acho que este vai ser o equilíbrio mais difícil de encontrar. O meu objectivo principal é escrever, realizar e representar um filme que ganhe os Óscares nos três departamentos. Não há nada mais pretensioso do que isto, mas eu estou a atirar a fasquia lá para cima que é para ver se continua a correr bem.

Em Revolução (sem) Sangue interpretas o Fernando Giesteira. Como é que te preparaste para o papel de alguém que existiu efectivamente?
Uma das coisas que mais me preocupava era o trabalho em pesquisa. Por sorte e por talento e por trabalho também do realizador, do Rui [Pedro de Sousa], que conseguiu encontrar as famílias. Todos conhecemos as famílias. Nas reuniões que tivemos com os familiares foi muito importante perceber a importância que este filme tem. Vamos finalmente honrar e respeitar a morte destas pessoas. Durante anos ouvimos que o 25 de Abril ocorreu sem mortos e temos estas cinco famílias que viram os seus familiares mortos e de repente isso não existiu em qualquer lado. Não houve qualquer indemnização, não houve nada. Pior ainda: todas as homenagens que eram feitas enganavam-se nos nomes, os nomes estavam mal escritos. O desrespeito que houve com estas famílias pode finalmente ser vingado de alguma forma e respeitado através deste filme. E por isso é que eu estou muito feliz, para além da questão de fugir às novelas e pela primeira vez fazer cinema.

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