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Música, Pop, Luísa Sobral
©MD PhotographyLuísa Sobral

Luísa Sobral: “Todos continuamos a gostar de ser embalados”

Vamos lá dormir. Mas só depois de ouvir as novas canções de embalar de Luísa Sobral. Falámos com a cantora e compositora sobre o mini-álbum ‘Camomila’.

Vera Moura
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Vera Moura
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“Um beijo ao deitar/ ler junto à lareira/ ver neve a primeira vez/ fazer castelos na areia/ comer fruta da árvore/ e legumes do chão/ provar chocolate/ escrever uma canção.” O mundo está cheio de “coisas pequeninas que lembram como é bom viver”. As preferidas de Luísa Sobral compõem a canção de embalar de lançamento do novo mini-álbum Camomila. Chama-se “Terça-Feira (coisas pequeninas)” e tem a companhia de mais seis: uma para cada dia da semana. Uma “prescrição não médica” da cantora e compositora portuguesa, mãe de três.

“Escrevi o álbum quando nasceu a minha terceira filha. Estávamos em confinamento e eu não conseguia trabalhar com os miúdos em casa, não conseguia escrever nada. A única coisa que eu consegui escrever foram canções de embalar”, conta Luísa Sobral numa conversa pelo telefone. “Achei que fazia todo o sentido o disco chamar-se Camomila. Camomila para dormir e porque a minha filha se chama Camila. É uma bonita maneira de lhe dedicar um álbum, sem ser muito óbvia.”

Estas canções existiam à beira da cama dos teus filhos antes de saltarem para o disco?
Eu não canto canções minhas para os meus filhos – pode parecer um bocadinho estranho, mas só lhes canto canções de outras pessoas. Sempre que eles se vão deitar, eu canto duas: a do Vitinho e uma que a minha mãe me cantava [e começa a entoar]: “Lá no alto da montanha...” São sempre estas – e nenhuma é minha. Estas sete nasceram mesmo só para o disco. O single das coisas pequeninas eles já conhecem de cor porque ouvi tantas vezes para ver se estava tudo bem para o lançamento do EP, e para fazer o vídeo, que já cantam comigo. Mas não foi aquela coisa esquisita tipo: “olhem esta canção da mãe!”

Qual foi a canção que escreveste primeiro? A da segunda-feira?
Não. Foi a da sexta, mas as canções não estão necessariamente ligadas ao dia. São sete, para sete dias da semana. A primeira a nascer foi “O colo que agora é mundo”. No passado, cantei “haverá sempre espaço para dois” [“O melhor presente”, 2018], mas agora já tenho três filhos e o colo tem de se tornar maior. A Sophia de Mello Breyner, que era prima da minha avó, tinha a capacidade de transformar as coisas em imagens da natureza e a ideia do corpo que se transforma todo para um bebé, com os braços que são raízes das árvores, é das mais bonitas. O corpo da mãe é o mundo do bebé. Veio daí a inspiração para esta canção.

Camomila, disponível em todas as plataformas desde 18 de Setembro (uma edição limitada em CD está à venda na loja online de Luísa Sobral e quem comprar até ao dia 30 recebe em casa autografado e com uma dedicatória) é um trabalho intimista – em que não se ouve mais do que voz, piano e violoncelo. O seu repertório vai poder ser ouvido ao vivo nos Concertos para Bebés marcados para os dias 3 e 10 de Outubro, em Leiria e Coimbra, respectivamente. “Não é a minha ideia fazer um grande lançamento. Era uma vontade que eu tinha, um mimo, mas não é sequer um disco, é um EP, muito curtinho. Se sentir que as pessoas gostam, logo penso em mostrá-lo ao vivo. A minha ideia, com a violoncelista [Ana Raquel Pinheiro], é talvez fazer uma pequena apresentação em Lisboa e no Porto, uma coisa meio sensorial, não sei bem o quê.” Até descobrir, Luísa Sobral vai estando em digressão pelo país a celebrar os 10 anos da edição do seu primeiro disco, The Cherry on My Cake. “Tenho gostado de intercalar. Lancei dois discos para adultos entre este e o último que fiz para crianças, Lu-Pu-I-Pi-Sa-Pa [2014]. Agora apetece-me mesmo explorar o lado adulto da vida, mas depois logo vejo se volto ao universo infantil. Faço o que me apetecer, basicamente.”

“Para embalar seres de todos os tamanhos” é o subtítulo do álbum. Os adultos acabam por se habituar a adormecer sem embalo – ou a sofrer de insónias. Em que medida é que estas canções são também para eles?
Embalar pode não ser para dormir, pode ser para nos sentirmos em paz. Escolhi pôr “seres” e não “pessoas” porque além de não ter de ser só para bebés, não tem de ser só para pessoas. Tinha um cão que sempre que eu tocava um instrumento ia dormir para ao pé de mim. Porque não embalar também os animais? Todos continuamos a ter um lado infantil e a gostar de ser embalados, que nos dêem colo. Se existissem gigantes, os adultos iam adorar ser embalados e que lhes dessem colo.

Oh, se iam. É que são as “coisas pequeninas, tão pequeninas, que lembram como é bom viver. Coisas pequeninas, tão pequeninas, maiores do que podem parecer.”

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