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Gabriell Vieira

Lusco Fusco: uma loja-ateliê com workshops onde a ilustração e a cerâmica dão as mãos

Os workshops deverão arrancar em Janeiro havendo sessões planeadas para adultos e outras para crianças.

Escrito por
Francisca Dias Real
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A arquitectura, a cerâmica e a ilustração vivem debaixo do mesmo tecto desta nova loja-ateliê perto da Alameda. A montra envidraçada da Lusco Fusco deixa à vista a pequena aldeia de artes gráficas que por ali nasceu para dar palco a artistas portugueses com ilustrações, livros, posters, postais e até peças de cerâmica. Nos bastidores há espaço para workshops para quem gosta de pôr as mãos na massa e no papel.  

Apesar da arquitectura lhe ocupar o coração e grande parte do tempo, Cláudia Fidalgo reconhece a limitação criativa que a profissão lhe traz, coisa que a fez virar-se para outras lides nos tempos livres: a cerâmica e a ilustração. “A arquitectura é uma coisa que adoro, tem o seu lado criativo, mas claro que também limita mais porque é muito burocrático, muito técnico, ter de lidar com clientes”, diz, explicando a razão de ter começado a fazer cerâmica. “A cerâmica é muito relaxante e dá para te exprimires criativamente, coisa que de outra forma não conseguiria”.

No fim de uns bons pares de anos em ateliês de arquitectura, onde sentiu sempre que havia uma peça do puzzle em falta, Cláudia decidiu finalmente abrir o seu próprio ateliê de trabalho. Mas o espaço era maior do que estava a contar. “Quando encontrei este sítio tudo começou a fazer sentido – por que é que não abria finalmente um espaço onde conseguisse juntar o melhor dos mundos e tudo aquilo que eu gosto?”, questiona. E assim se deu o Lusco Fusco. 

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Carla Rosado

Abrir a loja foi um acréscimo e ao mesmo tempo uma concretização para a arquitecta que, desde muito nova, sempre quis ter uma loja, muito pela sua paixão pelo papel e estacionário. “Adorava aqueles momentos de regresso às aulas em que ia às compras do material escolar. Depois vi muita coisa nas viagens que fiz, e no Japão fiquei fascinada com as lojas que havia só dedicadas ao papel, a paixão cresceu ainda mais”, diz. “Adoro ser lojista, gosto de receber as pessoas e estou rodeada de coisas que adoro, porque toda a logística é feita por mim, desde o contacto com os artistas à preparação das obras. É como aquela máxima, quando corres por gosto não cansas”.

A loja, com apenas 15m2, é o pequeno mundo encantado da ilustração que por ali se apresenta em vários formatos: serigrafias, risografias, prints, postais, livros e t-shirts. Mas a ilustração rapidamente se entrelaça com as cerâmicas da LAU, a marca própria desta arquitecta dos sete ofícios, que dão vida à grande montra para a rua que é o chamariz da casa. 

Lusco Fusco
Gabriell Vieira

“A minha ideia é que a loja esteja sempre a receber novidades, que seja eclética e tenha um pouco de tudo, tanto para o público que só vem pela estética, como para aquele que sabe da técnica. Não quero que seja só ilustração fofinha, mas também não quero que seja só reaccionária, quero de tudo”, explica. 

Há quadros na parede já emoldurados e mais uma infinidade de formatos e tamanhos expostos e prontos a colorirem a parede de outra casa. Há trabalhos da Oficina do Cego – colectivo do qual Cláudia faz também parte –, obras da editora Triciclo, Hugo Oliveira, Studio Adamastor, Joana Pardal,  Mmmariana Vale, Júlio Dolbeth, Marcos Martos, José Feitor, Ana Seixas, Bina Tangerina, Carolina Maria, Mariana Rio, Clara Não, Mariana Malhão, Angelina Velosa ou Henriette Arcelin, a única artista que não é portuguesa mas que vive em Lisboa. 

Cláudia decidiu ter também uma oferta virada para o público infantil com livros ilustrados e outros de actividades, alguns da Oficina do Cego, da Triciclo, a revista Dois Pontos ou a HiHiHi. 

Descendo àquela que é uma espécie de subcave, com vista para um pátio interior que deixa entrar a luz natural, a sala divide-se entre o espaço de trabalho de Cláudia – onde se dedica aos projectos de arquitectura quando não está na loja – e a zona do ateliê. 

“Aqui consigo dedicar-me às duas coisas e tendo o espaço para isso fazia sentido ter os workshops, tanto para crianças como para adultos”, refere a arquitecta. Cláudia decidiu não avançar nesta fase inicial com as aulas e esperar pelo início do ano na esperança de tempos mais calmos em relação à pandemia. 

“Quero traçar um plano para começar os workshops em Janeiro, respeitando sempre todas as regras que estão em vigor, e manter um bom ritmo dos eventos por aqui”, diz. “Eu quero muito fazer workshops para crianças aqui, há um mundo infinito de possibilidades com eles, mas quanto aos adultos a ideia é convidar formadores de áreas específicas e fazer sessões dedicadas”. 

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Gabriell Vieira

Para os mais novos, Cláudia tem em mente o stencil, carimbos e colagens para começar, subindo o nível de dificuldade e técnica depois com os formadores para os mais crescidos e focando-se em temas como a tipografia de caracteres móveis, serigrafia, encadernação, cianotipia, tudo e mais um par de botas dentro deste mundo do papel.

“Acho que ao longo destes meses as pessoas fartaram-se de estar sempre em frente a um ecrã e começaram a olhar para os trabalhos manuais, a fazer coisas com as mãos, algo que provavelmente não faziam há anos e anos. Por isso, acho que acaba por haver mais interesse até neste tipo de sessões”, explica.

Cláudia não fecha as portas a artistas ou formadores que tenham a técnica mas não tenham o espaço para a ensinar, abrindo assim as portas do Lusco Fusco e estendendo a mesa e as mãos a quem tiver vontade de passar conhecimento a outros. “Tenho o espaço e quero aproveitá-lo ao máximo, quem sabe com exposições, lançamentos de livros, enfim. Esta zona da Penha de França começou a ganhar mais vida, com alguns ateliês, e vai ser bom parar criar aqui uma espécie de hub artístico”, remata. 

Rua Barão Sabrosa, 157C (Penha de França). Qua-Sex 14.00-19.00, sáb 10.00-14.00.

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