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Mais de Cem Mil Dias
Ilustração de Ricardo MachadoMais de Cem Mil Dias

‘Mais de Cem Mil Dias’: uma travessia musical e visual para toda a família

O novo audiolivro da Constróisons, dupla formada por Inês Pupo e Gonçalo Pratas, leva-nos numa viagem de descoberta – de nós e do outro.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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O que é ser de fora? O que é ser daqui? É o que um aventureiro misterioso, levado nas bossas de um camelo, acabará por descobrir ao longo da Rota da Seda, por entre o medo e a coragem, a dúvida e a certeza, a casa e o caminho. Com texto de Inês Pupo e ilustrações de Ricardo Machado, Mais de Cem Mil Dias é um longo poema sobre migração, que nos convida a pensar com cuidado no que é ser humano e viver no mesmo planeta azul. O lançamento está previsto para 18 de Setembro, domingo, no jardim da Biblioteca do Palácio Galveias. A estreia no local de um espectáculo com o mesmo nome – com interpretação de Carla Galvão e música de Filipe Raposo e Gonçalo Pratas – dará corpo visual e sonoro à narrativa.

“O poema já é antigo, não sei exactamente há quanto tempo o escrevi, mas de repente surgiu esta ideia de o transformar numa peça de teatro, que também é toda escrita em verso e inclui canções”, conta ao telefone Inês Pupo, que tem co-assinado com Gonçalo Pratas várias criações para a infância, como o ainda recente Cabeças de Vento, um livro que também é um disco, e o popular Galo Gordo, um projecto artístico que alegra famílias há mais de dez anos. “Há este convite para um universo de viagem, fascinante e exótico, que nos permite trabalhar a questão do desconhecido que, bom ou mau, é sempre um bocadinho assustador. E também desse confronto, com aquilo que não conhecemos nem dominamos, mas nos faz crescer.” Por um lado, porque nos obriga a sair da nossa zona de conforto e, por outro, porque nos leva a levantar o olhar do umbigo.

Num mundo em que uns atravessam oceanos confortavelmente instalados em aviões e outros lutam contra marés em barcos clandestinos, não poderia ser mais pertinente reflectir sobre o que nos distancia e, acima de tudo, o que nos liga uns aos outros. “É muito estranho nós, num aeroporto, termos passagem facilitada por sermos cidadãos europeus. Quem não nasce com esse privilégio é, muitas vezes, tratado como sendo de segunda”, diz Gonçalo Pratas. “Quando a adaptação para teatro foi escrita, não se estava ainda a acompanhar a guerra na Ucrânia, que nos tem tocado a todos, mas há muitas outras guerras a acontecer, muitos milhões de pessoas a viver em campos de refugiados, muitos migrantes a tentar atravessar o Mediterrâneo”, acrescenta Inês, chamando a atenção para a forma como nos é mais fácil empatizar com realidades semelhantes à nossa. Apesar de, no fundo, sermos todos humanos e, no fundo, querermos todos o mesmo: pertencer.

É também dessa necessidade de pertença – de sentir que temos um lugar no mundo – que se fala em Mais de Cem Mil Dias. Em busca de um segredo bem guardado, o protagonista deixa a casa onde nasceu e parte em direcção ao Oriente. Por entre um deserto incerto e ao som de canções de outras terras, vai sonhando com um “destino encantado/ diferente que em sorte calhou”. E esta ideia, de que não escolhemos onde nascemos mas podemos escolher para onde vamos, será explorada de forma mais aprofundada em palco, através da introspecção do viajante. “Onde está a linha que marca a fronteira, e quem decidiu onde podes viver, ondes podes morar, e que pele é a tua e que língua é a tua e que casa é a tua e que sonho é o teu?”, pergunta-se em catadupa, ao mesmo tempo que se avança a medo, mas com esperança no futuro.

“Lembro-me que, quando dava aulas a crianças, punha músicas de outras fronteiras. E era inevitável que as crianças, de quatro e cinco anos, dessem logo uma gargalhada de desconforto pela estranheza que esse repertório tinha na intimidade deles”, evoca Gonçalo, para reforçar a importância da exposição a culturas diferentes e de trabalhar a temática da igualdade na diferença desde muito cedo. “O preconceito é insidioso e deve haver preocupação em combatê-lo”, remata, na expectativa de que as famílias marquem o dia 18 de Setembro na agenda. Além do espectáculo no jardim do Palácio das Galveias, o livro (12,90€) também ficará disponível para compra, na Wook por exemplo, e todos os exemplares incluem um código QR, que dá acesso ao disco homónimo pelas plataformas de streaming de música, como a Apple Music e o Spotify.

+ Capicua: “Fazer música para crianças também é fazer música para os pais”

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