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Máximo
© André CepedaMáximo

Máximo só tem 19 anos. Os seus ‘Greatest Hits’ vão ouvir-se no Lux

O disco de estreia do pianista, ironicamente intitulado ‘Greatest Hits’, flutua entre a música contemporânea e o jazz. Nesta quinta-feira, 9 de Março, apresenta-o ao vivo.

Luís Filipe Rodrigues
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Luís Filipe Rodrigues
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O mês é Setembro e o ano 2017. Estamos no CCB e Máximo Francisco partilha o palco com Xinobi, The Legendary Tigerman, Jibóia e Sequin, mais Vasco Cabeçadas e Margarida Encarnação. Já em 2019, na Fundação Joana Vasconcelos, durante a ARCOlisboa, Máximo toca o Piano Dentelle #3 da artista, perante 200 pessoas. É Abril de 2021 e as peças de Paulo Lisboa estão prestes a sair das paredes da Fundação Leal Rios, em Alvalade. Serão substituídas por outras, mas só depois de ele se sentar na galeria a tocar composições originais inspiradas pelas obras que vemos nas paredes.

O calendário avança outra vez. Chegamos a 2023. É Janeiro e estamos na vernissage de “Sopro”, a nova exposição do fotógrafo André Cepeda, um dos mais internacionais do país, na galeria Rialto 6. Alguns dias depois, caem um par de fotografias tiradas por Cepeda nalgumas caixa de e-mail. Retratam Máximo. O primeiro single chega logo a seguir, em Fevereiro. Um dos mais mediáticos críticos de música portugueses gaba-o nas redes sociais. Agora é quinta-feira, dia 9 de Março, o álbum de estreia do pianista, os seus Greatest Hits, é apresentado pela primeira vez no Lux Frágil. No dia seguinte, está nas plataformas de streaming. Alguns dias mais tarde, estreia o teledisco de “Capita”, uma das suas canções. Foi realizado por João Pedro Vale e Nuno Alexandre, figuras destacadas da arte portuguesa de agora. E paramos para respirar.

A cadência das últimas linhas pretende ecoar a de Greatest Hits, o primeiro registo de Máximo. O nome é meio irónico, mas não completamente – procura reflectir o facto de as peças que compõem o álbum não terem sido pensadas para nenhum projecto concreto, mas compostas ao longo de dez anos, entre os nove os actuais 19 anos de Máximo. Ah sim, Máximo só tem 19 anos. O texto podia ter começado por aqui. Se calhar até devia. Contudo, tem mais graça só se perceber agora, a meio deste terceiro parágrafo, que durante os momentos evocados nas primeiras linhas este homem não podia conduzir. Nem beber álcool legalmente na maior parte dos países.

A música de Máximo é nocturna e evocativa, flutua entre o jazz e a composição contemporânea. Esteticamente, não destoa de boa parte do catálogo de uma editora como a ECM. Quando apontamos estas semelhanças, o pianista admite que não as reconhece. Também não discorda. “É algo a que não estou muito atento”, confessa, com honestidade e sem falsos pruridos. Quais são então as suas referências? Aponta músicos e compositores como “Bill Evans, Herbie Hancock, [Ryuichi] Sakamoto, Chilly Gonzales, Debussy e Ravel”. Faz uma pausa. “E Erik Satie.” 

Máximo
© André CepedaMáximo

Tenta-se perceber se ouve alguma coisa mais pop, mais rock, porém afiança que se importa mais com “cinema e filosofia”, prefere falar de Pedro Almodóvar e Wes Anderson. “No futuro tenho interesse em compor bandas sonoras de filmes, inclusive”, segreda depois. Já compôs, na verdade. É sua, e de Gaspar Varela (o igualmente jovem bisneto da histórica fadista Celeste Rodrigues, além de acompanhante de Madonna e membro do Expresso Transatlântico), a música da curta-metragem Agosto de 74, de Duarte Carvalho.

Tal como Gaspar, que nos últimos anos nos habituámos a encontrar nas páginas de jornais e revistas, Máximo dedica-se à música desde muito novo. “Comecei com seis anos a tocar violoncelo. Mas depois preferi mudar para o piano, por escolha própria”, garante. Tinha só sete anos quando tomou a decisão, mas até hoje não parece ter-se arrependido. “Acabei o ano passado o secundário em composição e piano [na Escola Artística de Música do Conservatório Nacional]”, acrescenta. Agora, está a estudar composição de jazz na Codarts Rotterdam, na Holanda, e “a gostar bastante”. 

Ainda é cedo, no entanto, para saber como (ou se) estes estudos vão influenciar o trabalho dele. Por agora, Máximo prefere concentrar-se em Greatest Hits e no concerto desta quinta-feira, 9, em Santa Apolónia. A ideia é “tocar todas as peças do disco” e, pelo meio, “falar sobre elas e as suas histórias num modo intimista”. E que histórias são essas? “Por exemplo, a ‘Lupita’ é uma música que compus quando a minha irmã [Guadalupe] nasceu. Foram tempos confusos pois estava a admitir um ser humano no círculo fechado da minha vida após 15 anos. Ao mesmo tempo, estava extremamente feliz e fascinado pela sua presença. No Lux, vou contar a história por detrás de cada música.”

O jovem pianista sabe que nada disto teria sido possível sem a ajuda dos pais, graças a quem muitas das personagens que povoam este texto entraram na sua vida. A mãe é Joana Cardoso, designer e directora de arte que tem em casa um Prémio Sophia (Melhor Direcção de Arte, em 2019) e é a co-fundadora do estúdio Joana + José, juntamente com o seu padrasto, José Albuquerque, outrora da Vice e, entre mil outras coisas, o homem que segundo a lenda deu o nome à Discotexas de Xinobi, Moullinex e companhia (“Disco nights viram disco fights/ discotecas viram discotexas”, rimava ele há muitos anos numa canção do DSL Team, o seu antigo colectivo de hip-hop, em Viseu). “A minha mãe, padrasto, pai, etc... deram-me liberdade total para tocar e compor”, recorda. “[E isso] influenciou bastante o meu percurso, na medida em que me deu liberdade para explorar a música.”

Lux (Santa Apolónia). Qui 9. 22.00. 10€-30€ (inclui LP)

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