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Na alegria, na tristeza e no Santo António

Estão apresentados os noivos da próxima edição dos Casamentos de Santo António. Falámos com dois pares de pombinhos, entre caloiros e veteranos.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
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A cerimónia dos Casamentos de Santo António em Lisboa é uma história antiga, mas a tradição já não é bem o que era. Este ano, a Câmara Municipal de Lisboa volta a apoiar casais que sonham em dar o nó durante as Festas de Lisboa – 16 casais, mais precisamente. Onze terão direito a um casamento religioso na Sé de Lisboa e cinco que optaram por um casamento civil. Mas todos irão festejar no copo de água na Estufa Fria.

Os Casamentos de Santo António começaram por ser uma iniciativa do extinto vespertino Diário Popular (1942-1991) e tinham como principal objectivo facilitar o casamento a pessoas que tinham maiores dificuldades económicas. Com a benção do santo casamenteiro, era oferecido um enxoval aos noivos (entre outras coisas, muitas delas sorteadas) e, claro, uma cerimónia e respectivo copo de água, como ainda hoje continua a acontecer. Embora com algumas nuances, como por exemplo, a possibilidade de agora também serem celebrados casamentos civis, que têm lugar no edifício dos Paços do Concelho. Uma heresia para alguns, um milagre para outros que, mesmo não tendo uma veia religiosa, não viram a cara ao santo mais popular da cidade.

É o caso de Vera Silva e João Cruz, dois arquitectos que residem precisamente na freguesia de Santo António, a mesma onde terão de desfilar Avenida da Liberdade abaixo com as Marchas Populares na véspera de Santo António, já depois da boda. E a freguesia onde já abraçavam os santos populares por conta própria. Há precisamente dez anos que fazem um pequeno arraial na sua rua, com amigos, um evento informal que este ano não irá acontecer – como não aconteceu em 2020 e 2021 por causa da pandemia. Afinal, vão estar mais do que ocupados no dia 12 de Junho.

Vera Silva e João Cruz
©José Frade/EGEACVera Silva e João Cruz

Mas então, o que os levou a inscreverem-se nos Casamentos de Santo António? “Já há muitos anos que tínhamos combinado que iríamos casar aos 40 anos e nos 18 anos de namoro, quando tivéssemos um namoro na maioridade”, explica Vera. Só que a combinação inicial não envolvia o Santo António. “Entretanto [o arraial de rua] foi crescendo com os amigos, até que veio a pandemia e parámos. Este ano pensámos: olha, e porque não tentar a nossa sorte nos Casamentos de Santo António?”, descreve João.

Apesar de toda a exposição que vão começar a ter a partir de agora, este é um casal discreto. “O nosso é um casamento mais simples, no civil. Também somos pessoas simples, bastante discretas e não somos muito religiosos. Não queríamos um casamento religioso. Uma cerimónia sim, discreta, e parece que é o que vai acontecer”, imagina Vera, enquanto que João sublinha que se estão a tentar abstrair dos holofotes que os vão rodeando. Uma das coisas que os parece entusiasmar é a participação no desfile das Marchas Populares, às quais assistem sempre que podem. “Sempre que terminava a nossa festa, que era pertinho, descíamos para ver as marchas e acabávamos sempre a ver. Este ano somos nós, é engraçado”, comenta o noivo.

Mais experientes nisto de dar o nó são Maria Teresa e Vitor Mendes, um dos quatro Casais de Ouro, que este ano assinalam os 50 anos de vida em conjunto, também iniciada nos Casamentos de Santo António, edição de 1972. Em Junho regressam à Sé, onde trocaram os primeiros votos. “O nosso foi o penúltimo ano que se efectuou, depois teve ali um interregno, recorda Maria Teresa.

Casais de Ouro 2022
©José Frade/EGEACOs Casais de Ouro, com Maria Teresa e Vitor Mendes ao centro

Éramos 60 noivos, não tem nada a ver com os de agora, que são meia dúzia deles”, continua. Numa altura em que não havia lugar para os casamentos civis, também não havia a oferta da lua-de-mel. “Nós não tivemos, eu fui para a minha casa. Havia o sorteio de uma viagem, mas a quem calhasse, calhava. Não era para todos”, diz Maria Teresa, que enumera mais diferenças. Por exemplo, a cerimónia religiosa tinha lugar no próprio Dia de Santo António, a 13 de Junho, e não na véspera como agora. As noivas juntavam-se todas no Parque Eduardo VII, onde as esperavam 60 carochas, descreve Vítor (mais calado, mas que vai completando algumas frases da mulher), que as levavam à Sé, onde estavam os respectivos noivos. “Havia muito movimento, muita gente na rua a aplaudir, a ver aquele desfile todo, porque realmente era uma coisa diferente, não tem nada a ver com agora.”

E como é que, na altura, se meteram nisto? A antiga noiva de Santo António explica tudo: Eu namorava o meu marido e na altura já não tinha pai. A minha mãe não tinha condições de vida para me poder fazer um casamento, nem eu tinha o direito de a ir sobrecarregar com uma coisa dessas. Os pais dele também não eram ricos. Lembro-me de ter ido ao Rossio, numa casinha que lá havia do Diário Popular, e inscrevi-me. Depois enviaram uma carta a dizer que tinha sido aprovada e a partir daí fui idealizando o meu sonho.

A cerimónia de 2022 poderá ser acompanhada na RTP no dia 12 de Junho, como tem sido tradição nos últimos anos. E por falar em televisão pública, nos Arquivos RTP encontra um vídeo com os Casamentos de Santo António de 1972: será que alguém consegue identificar Maria Teresa e Vítor?

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