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Talante
© Mariana Valle Lima

Na Ler Devagar instalou-se um novo espaço cultural dedicado à língua portuguesa

Chama-se Espaço Talante e fica no andar de cima da livraria da Lx Factory. Inaugura esta quarta-feira com uma exposição do escritor e poeta brasileiro Ferreira Gullar.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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“Sempre fui apaixonado por essa livraria”, diz Antônio Grassi. “Ela não é só uma livraria onde se compram livros, é um ponto onde circulam pessoas, que não estão necessariamente a comprar livros, mas que são atraídas pelo universo da cultura”, continua o conhecido actor brasileiro. Fala da Ler Devagar, a livraria na Lx Factory que impressiona quem nela entra e se depara com as paredes altas pintadas com as cores que as lombadas dos livros ditam.

Talante
© Mariana Valle Lima

É preciso olhar para cima para notar a novidade. Para lá das escadas da livraria, no piso superior, do lado direito, duas portas num vermelho garrido anunciam o Espaço Talante, que inaugura esta quarta-feira, 18. O nome deve-se a uma exposição de fotografia que Ciça Castello montou naquele mesmo espaço, no início do ano. “Talante quer dizer livre arbítrio, escolha, você ser dono da sua própria história, define a fotógrafa brasileira. 

Grassi e Castello são os responsáveis pela nova vida deste espaço anexo à livraria e desconhecido por grande parte dos seus visitantes. Foi recentemente que se tornaram sócios da Ler Devagar e propuseram dar uma programação regular à ampla sala que era usada apenas de forma pontual. Como sócios da livraria respondemos por este espaço”, diz Ciça, que, tal como Antônio, acumula a função de curadora deste projecto cultural. Não é a nossa ideia fazer uma galeria de arte. Nós não somos galeristas. A nossa ideia é fazer um ponto de encontro, principalmente focado na língua portuguesa”, contam à Time Out.

Talante
© Mariana Valle Lima

A exposição inaugural mostra obras e livros do escritor, poeta e ensaísta brasileiro Ferreira Gullar. “São obras de um artista que é consagrado na literatura, não necessariamente no seu trabalho como artista”, justifica o actor brasileiro. “É um artista muito múltiplo. A sua obra passa pela dramaturgia, escreveu novelas para televisão, era um grande letrista de canções, tinha um trabalho como crítico literário, como escritor, muito profundo, e era ainda artista plástico. O Ferreira Gullar sintetiza ser um artista múltiplo”, afirma, ressalvando o facto de Gullar “nunca ter tido uma exposição em Portugal”. A exposição “Ferreira Gullar – Objeto de Poeta e Livro” pode ser vista até 18 de Junho. 

O conceito de descortinar facetas menos conhecidas de artistas de renome promete ser um dos eixos programáticos do Talante. “José Eduardo Agualusa pode ser mostrado como fotógrafo, sendo conhecido internacionalmente como um grande escritor”, adianta Antônio. Fica prometido, mas antes disso há já outra exposição na calha: chega a 22 de Junho, com as imagens do fotógrafo Paulo Mendonça, que fotografou músicos de rua pelo mundo.

Talante
© Mariana Valle Lima

Pelo público heterogéneo que por ali passa – cerca de 28 mil pessoas por mês, garante a dupla – o desafio é criar uma programação que chegue a portugueses e estrangeiros. Depois do Verão chegarão cursos e workshops, mas também peças de teatro, saraus de poesia e sessões de slam poetry. Para já há um clube de leitura, que arrancou com o festival 5L.

Chegar a um espaço em mudança 

A forma como Antônio Grassi descreve a Ler Devagar denuncia o seu apego ao espaço, mas há uma ligação antecessora à própria Lx Factory. Em 2012, o actor e, até Dezembro passado, director-presidente do Instituto Inhotim, em Minas Gerais, foi comissário do Ano do Brasil em Portugal. O momento está marcado nas paredes de Alcântara, a poucos passos dali, onde uma obra do artista pernambucano Derlon resiste no antigo Espaço Brasil, hoje vazio. “Para nossa surpresa também, com todas estas transformações, mantiveram [a obra]. Mostra um certo respeito”, solta o actor.

Talante
© Mariana Valle Lima

Dez anos depois, como olha para as mudanças profundas sofridas naquele complexo em Alcântara? “É claro que há alguns pontos que estranhámos ao princípio. Principalmente porque é um lugar que se caracteriza muito por um tipo de empreendimento mais alternativo. Foi o que nos levou a criar o Espaço Brasil aqui. A livraria também representa um pouco isso. A nossa expectativa é que qualquer novo projecto que possa ser criado [na Lx Factory] respeite a natureza do espaço. Se começarmos a introduzir elementos que o desvirtuem, que às vezes possam estar mais adequados noutro lugar, acaba por se perder a personalidade”, diz. “Torcemos muito para que [o projecto em curso] respeite a personalidade do local”. 

Rua Rodrigues Faria, 103 (Alcântara). Seg 11.00-21.00, Ter-Qui 11.00-23.00, Sex-Sáb 11.00-01.00, Dom 11.00-21.00

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