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Juliana Bezerra
Teja

Na nova casa de Juliana Bezerra a joalharia funde-se com a delicadeza do artesanal

O novo espaço volta a misturar o ateliê, onde é possível acompanhar o processo artesanal e a modelagem das jóias, e a própria loja, com as peças finais.

Escrito por
Francisca Dias Real
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Dar de caras com um grande painel de azulejos, em tons pastel e com a assinatura da centenária Viúva Lamego, é premonição de que há pouco por onde falhar. É assim o novo espaço no Restelo que acolhe o ateliê e loja da joalheira Juliana Bezerra. Aqui a magia e a minúcia da joalharia artesanal fundem-se com as artes e com o imaginário da natureza, a imagem da marca.  

O Páteo Bagatela, junto às Amoreiras, foi a sua primeira casa, mas as dores de crescimento oito anos depois começaram a dar sinais. Se no início era só Juliana a trabalhar as peças – uma a uma, passo a passo –, o crescimento da marca ditou que a equipa fosse crescendo até não caber física e criativamente por ali. 

“Já sentíamos necessidade de um espaço maior há algum tempo. Já não sou só eu, há uma equipa por detrás da Juliana Bezerra, e com as novas regras das lojas ia ficar muito limitado recebermos os clientes”, conta Juliana. “Procurei durante muito tempo, as rendas são insuportáveis para negócios como o meu, e eu tinha muito medo de sair do centro da cidade”. 

Juliana Bezerra
Teja

A decisão foi sendo adiada até a pandemia se atravessar no meio e acelerar o processo. O espaço no Restelo já estava debaixo de olho, mas estar longe do grande centro impedia Juliana de mudar o estaminé e perder clientela. “A pandemia também me mostrou que o online chega a todos e é um meio fundamental para as marcas, vendi em casa na quarentena e isso alimentou a minha vontade de sair dali, que afinal era possível. Foi o empurrão que precisava”, diz. 

Em poucos meses, um espaço abandonado renasceu, com um projecto de interiores de Rita Mongiardim que “leu na perfeição aquilo que é o universo da marca”. A essência artesanal do que por ali se faz tem continuidade nos materiais e na composição deste novo ateliê. 

No primeiro andar, logo depois do painel de azulejos da Viúva Lamego e do baloiço de madeira que dão as boas-vindas, meia dúzia de degraus dá acesso àquela que é a montra das jóias de Juliana. Os expositores delicados dividem-se entre dourados e prateados, colares e brincos, pulseiras e anéis, tudo incrivelmente esculpido como se fossem elementos naturais – até porque a representação da natureza é a linha condutora de todas as criações da joalheira. 

Juliana Bezerra
Joana Linda

Os janelões descobertos deixam entrar toda a luz possível na loja que, mais uma vez, não criou barreiras entre as vendas e o processo de criação. Mesmo atrás dos expositores estão as bancadas de trabalho, a de Juliana e dos outros artesãos que ajudam na produção. 

“Comecei sozinha há oito anos e tinha o ateliê e loja juntos, e sempre mantive esse registo ao longo dos anos. As pessoas também se habituaram a ver o que se passa atrás das cortinas e tendo um novo espaço não fazia sentido dissociar a arte das vendas”, explica. “Trabalho à bancada, por isso posso atender e trabalhar uma jóia ao mesmo tempo. Acho que pode ser mágico para os clientes conseguirem ver as peças que vão comprar serem feitas à frente dos olhos deles”. 

As bancadas enchem-se de ferramentas grosseiras e outras delicadas prontas a moldar as colecções à frente de todos. A zona de oficina combina tons e decoração com o resto do espaço, ao mesmo tempo que é a zona mais funcional do ateliê, porque “para trabalhar jóias significa desarrumar e sujar e tudo tem de ser usado, não é fogo de vista”, diz Juliana. 

Juliana Bezerra
Teja

Na verdade, o novo ateliê é como se fosse uma espécie de peça em ponto grande assinada por Juliana e que conversa com as jóias em cada recanto. “Trabalhar num espaço assim é inspirador, sinto que este é o cenário perfeito criado para as minhas peças”, enfatiza. O chão é feito em tijoleira artesanal, as paredes são toscas, com zonas inacabadas, e há várias peças de outros artistas que inspiram a artesã e que decoram o espaço. 

Descendo à cave entra-se numa espécie de gabinete de curiosidades que vai ao encontro, mais uma vez, do universo natural com que Juliana trabalha. Ao fundo, há uma grande bancada – um sonho de há anos – onde a joalheira tem ali o ponto zero de cada colecção. É ali que seca folhagens e flores, que dispõe imagens de inspiração, que faz anotações sobre materiais e texturas, que lê sobre determinadas espécies florais, que constrói, por fim, o moodboard antes de dar forma aos metais.

Juliana Bezerra
Teja

Neste salão até há uma biblioteca com livros botânicos e técnicos, que isto de abraçar a natureza como método durante tantos anos “já requer uma reinvenção constante” para se manter fiel a si mesma, confessa Juliana. Há ainda uma outra divisória com mais umas bancadas de trabalho, para momentos que requerem maior concentração. 

É também neste piso, mais calmo e privado, que a artesã recebe alguns clientes que querem peças personalizadas – é o caso de noivos ou noivas e respectivas damas de honor. No futuro breve, Juliana gostava de ter ali um espaço que acolhesse eventos de outras marcas com quem trabalha e se identifica, uma forma de promover sinergias e ajudar pequenos negócios.

Rua Gonçalves Zarco, 2B (Restelo). Ter-Sex 11.00-19.00, Sáb 11.00-18.00.

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