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"Para o Gérard, as cores são pessoas. Com a mesma diversidade, com personalidade, com a mesma luz". As palavras de Éric Corne fornecem o indispensável par de lentes necessário para percorrer a exposição "Gérard Fromanger. O Esplendor", no Museu Coleção Berardo, a primeira do pintor francês em Portugal e a primeira retrospectiva desde a sua morte, em Junho do ano passado. Amigo e curador, enaltece o autor que reflectiu sobre política e sociedade, que olhou para as ruas de Paris como observatório das vivências ocidentais do século XX. Este sábado, dia 19 de Fevereiro, a primeira visita guiada acontece às 17.30, orientada pelo próprio Corne.
![Impression, soleil levant (2019) - Gérard Fromanger](https://media.timeout.com/images/105865637/image.jpg)
São mais de 60 quadros, organizados em 26 séries. Em cerca de seis décadas de criação, que irrompe no clima quente dos movimentos sociais e políticos da década de 60, Fromanger debruçou-se sobre a actualidade, sem reservas ou tabus. A pintura, arma assumida e cujo papel foi questionando ao longo dos anos, foi o suporte que manteve até ao fim, muitas vezes em combinação técnica com a fotografia, mestre de um figurativismo distorcido do realismo social.
Numa exposição que não segue um alinhamento cronológico, a segunda sala detém o visitante com as representações garridas do quotidiano parisiense. São telas de séries como Le peintre et le modéle, Boulevard des Italiens e Annoncez la Couleur. Quiosques, manchetes, montras, cartazes de filmes e teasers de cinema erótico — paisagens povoadas por vultos vermelhos (a cor que mais ressalta na obra de Fromanger, especialmente latente na recta final da exposição), reflexões em torno de conceitos como anonimato, voyeurismo e desinformação.
![Le Cercle Rouge (1971) - Gérard Fromanger](https://media.timeout.com/images/105865638/image.jpg)
No início dos anos 60, o traço da pop art atravessou o Atlântico e chegou a França. A valorização dos temas contemporâneos e o interesse pelos domínios do gosto popular e até da cultura trash estabeleceram afinidades entre a obra do pintor francês e o novo género, nascido nos Estados Unidos. O uso da cor é outra das intercepções. "Mas ele mantém uma atitude muito mais enraizada na pintura, do pincel, em contraponto com o lado muito mais mecânico da pop art", completa Éric Corne.
A fotografia e a quadrícula foram outros dos recursos usados pelo artista. O real capturado através de uma câmara foi, muitas vezes, transposto para a tela, à mercê de pinceladas e manchas de cor. Mais tarde, a fotografia assumiria na obra de Fromanger a dimensão de ícone em representações figurativas. As fases sucedem-se na extensa e profícua obra do pintor — caos, sensualidade, hedonismo e exercícios tão auto-biográficos como a referência à própria carta astral ou o quadro Le Coeur fait ce qu'il veut — Cardiogramme, pintado em 2014, na sequência de uma complicação do foro cardíaco.
![En Chine à Hu-Xian (1974) - Gérard Fromanger](https://media.timeout.com/images/105865640/image.jpg)
Tal como as experiências na primeira pessoa, lugares e afectos foram tendo o seu peso no seu imaginário pictórico. A passagem pela China suscitou críticas ao regime do país, nos anos 70, da mesma forma que a paisagem da Toscana, depois de se ter mudado temporariamente para Siena, está igualmente representada na sua obra. Uma das salas da exposição está ainda reservada aos retratos — Michel Foucault e Paula Rego, entre outros.
Numa exposição que começou a ser planeada em 2018, ainda com a participação do próprio autor, a retrospectiva culmina com Film-tract nº 1968, curta-metragem de Jean-Luc Godard, com a marca inconfundível do pintor. "Gérard Fromanger. O Esplendor" (título inspirado no poema "O Esplendor", de Álvaro de Campos) abre portas ao ao público esta quinta-feira, 17 de Fevereiro, e assinala o arranque da Temporada França-Portugal 2022 em solo nacional. Fica patente até 29 de Maio.
Museu Coleção Berardo, Praça do Império (Belém). 21 361 2878. Seg-Dom 10.00-19.00. Entrada: 5€ (gratuita ao sábado). Visitas guiadas: Sáb (19 Fev) 17.30, com o curador Éric Corne, e Sáb (26 Fev, 26 Mar, 2 Abr e 21 Mai) 16.00.
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