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No fim-de-semana, vamos regressar ao ano 0 na Zé dos Bois e na ADAO

O festival comunitário da Rádio Quântica, com um cartaz composto sobretudo por pessoas racializadas e queer, está de volta. Celebramos a chegada de mais um ano 0.

Luís Filipe Rodrigues
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Luís Filipe Rodrigues
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Reunir projectos artísticos, editoras e colectivos construídos, sobretudo, por pessoas LGBTQ+, racializadas ou de outras identidades marginalizadas. Foi com este objectivo que a Rádio Quântica organizou a primeira edição do festival comunitário ano 0, em 2019. Três anos e duas edições depois (não se realizou em 2020, por causa da pandemia), o festival continua com o mesmo espírito de missão, dividido ao longo de um fim-de-semana entre a ZDB, em Lisboa, e a ADAO, no Barreiro.

É importante sublinhar a necessidade e o potencial transformador de um evento com estas características, no contexto de um país e de uma cena musical independente onde quem não é branco continua a ter muito pouca visibilidade e representação. “Nunca vai ser suficiente, tendo em conta o apagamento que se viveu em Portugal de pessoas racializadas no mundo da música”, começa por partilhar Bruno Gonçalves, um dos programadores. “Mas acho que finalmente consigo ver uma luz ao fundo do túnel. Estamos a caminhar para uma fauna musical mais diversa.”

Bruno Gonçalves, mais conhecido como Phoebe por quem está atento à melhor música electrónica que se vai fazendo e ouvindo em Portugal, bate-se por essa diversidade há alguns anos. Além de DJ e produtor, é um dos fundadores da Troublemaker Records – também ela criada para editar e dar voz a pessoas racializadas e LGBTQ+ – e co-programa ainda o festival comunitário feminista e queer Rama em Flor. O mais urgente, para ele, é mesmo “dar poder de decisão a pessoas racializadas, queer, mulheres… Não podem só constar do line-up para aumentar a percentagem”. Também aqui o ano 0 dá o exemplo.

A terceira edição arranca esta sexta-feira, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, onde mais uma vez um “diálogo cultural e geográfico – entre diferentes formas de arte, entre centro e periferia, e entre olhares frescos sobre a cultura – será recebido e acolhido com entusiasmo e autenticidade”, de acordo com a organização. Como aconteceu em 2019 e 2021, os artistas com menos provas dadas actuam nesta noite. “Muitos deles vão dar concertos pela primeira vez, por isso é brutal a oportunidade de começar logo na Z”, orgulha-se Bruno.

“Acho que é essa um bocado a magia do ano 0: dar a conhecer acts completamente fora do radar”, considera o organizador. São os casos de Natalí Ferreira e Nayela, cantoras de r&b de vistas largas, com apenas alguns singles editados; da DJ e produtora de electrónica de matriz africana Danykas; da violinista Suzana, ainda sem música gravada, que acompanha Tristany ao vivo e deu um concerto “incrível”, dizem, no último Rama em Flor; ou de DIDI, responsável pelas noites BEE, nas Damas. Puçanga, que no álbum Fazer da Trip Coração, de 2021, alicerça a voz, clara e limpa, sobre uma electrónica experimental, suja e minimalista, e os Living Room DJs completam o cartaz.

No sábado, o ano 0 muda-se para a ADAO – Associação Desenvolvimento Artes e Ofícios. É lá que tocam os nomes mais instituídos e com banda. “Sei que é mais complicado o pessoal mexer-se e vir até ao Barreiro, por isso assim serve de incentivo”, reconhece Bruno. Um dos jovens artistas portugueses que mais têm dado que falar é Herlander, cantor, compositor e produtor de uma pop industrial que se alimenta de referências díspares. Deve lançar o álbum de estreia nos próximos meses e vai voltar à ADAO três anos depois de ter subido ao mesmo palco para participar num showcase da Troublemaker Records. Tal como nëss, cujas canções folk-rock também estão prestes a ser vertidas num primeiro álbum.

O alinhamento inclui ainda a artista e produtora XEXA, que editou em Janeiro Calendário Sonoro 2021, mixtape de electrónica afrofuturista; o produtor Toada, natural de Sintra, agora a viver em Berlim, que lançou em 2022 o electrónico Instante a Fluir; Seán Being, jovem cantor e músico irlandês radicado em Portugal, que partilhou o EP FAUX WINDOW em Maio; ou Cíntia, banda de jazz com vapores psicadélicos, cujo álbum Sítio teve o apoio editorial da Cena Jovem Jazz.pt. EDND e, mais uma vez, os Living Room DJs são outros nomes confirmados, a par do colectivo Unidigrazz, que vai estrear uma “performance que é uma peça de teatro num módulo de pladur feito também por eles” – Bruno Gonçalves dixit.

Chegamos ao fim do programa e sentimos a falta das conversas e workshops de edições passadas. Vão fazer alguma coisa? “Sim”, garante o programador. “Os workshops vão ser anunciados separadamente do cartaz. Sentimos que quando tentamos juntar os dois momentos há sempre algo que fica a perder, e geralmente tendem a ser os workshops e as talks, o que é bastante ingrato para as pessoas que os estão a preparar.” Confere. “Por isso esses momentos vão acontecer na mesma, mas noutras datas, num set-up mais íntimo. Como aconteceu no ano passado, em que os workshops aconteceram um mês depois do festival.” A programação vai ser anunciada quinta-feira, um dia antes do início do ano 0.

Zé dos Bois (Lisboa). Sex 18.00. 12€-20€; ADAO (Barreiro). Sáb 16.00. 12€-20€

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