[title]
Pode um restaurante ser um espaço de afirmação política? João Carlos não tem dúvidas, de tal forma que quase se pode dizer que no Soul Burguer a comida é o complemento da mensagem. Quando o idealizou era para ter acontecido no Brasil, mas o contexto actual acabou por trazer este “cozinheiro anti-fascista” para Portugal. O espaço no Chiado foi a oportunidade que precisava para pôr de pé este Soul Burguer, um ponto de encontro inclusivo, com boa comida.
“A minha ideia é realmente juntar gastronomia – o hambúrguer – e arte. Queremos movimentar a cena como a gente puder”, diz o brasileiro, que também dá espaço a artistas para criarem aqui uma pequena exposição – Tereu, que assina o grande mural que dá vida ao espaço, é o artista que se segue. A música negra dá o mote. As vozes que ouvimos das colunas são negras, os nomes dos hambúrgueres são de artistas negros. “[O restaurante] é totalmente ligado à musicalidade, principalmente a black music – r&b, hip-hop, soul, funk, reggae –, tudo o que é música black a gente agrega aqui no nosso conceito”, explica João Carlos, formado em Gastronomia no Rio de Janeiro. “Lá, eu trabalhava com eventos, principalmente com carnes. No Brasil, a gente tem uma cultura de churrasco muito forte”, acrescenta. “Estava procurando o que fazer dentro do mercado e houve essa oportunidade de abrir aqui. Trouxe um pouco da minha essência com a parte musical, que eu curto, e com a comida boa, que é o que mais importante.”
E na comida, não tem como enganar. Os hambúrgueres – nove – são o destaque. Há o Stevie (11,50€), por exemplo, com 180g de blend bovino, candy bacon, queijo gouda panado, sweet chili e maionese de ervas, e um inusitado Otis (10,50€), em que o onion ring dá lugar a um onion bacon, com creme de cheddar e farofa de bacon – por mais três euros é possível adicionar umas batatas fritas caseiras e gulosas e bebida.
“Geralmente, você paga caro por um hambúrguer pequeno e às vezes nem tão bom assim. Tem uma coisa brasileira nos nossos hambúrgueres, e não é só o tamanho, acho que tem influências da comida brasileira, na maneira de preparar, no nosso tempero, que isso com certeza diferencia-nos”, justifica o cozinheiro. “É tudo artesanal”, aponta ainda, explicando que apenas o pão não é feito em casa por uma questão de logística. “Não tem muito espaço útil para fazer o pão aqui”, diz, destacando também as batatas. “A gente corta, pré-frita e frita.” E são servidas depois com cheddar e uma farofa de bacon. Uma dose (5,50€) é perfeita para partilhar, ou para servir de acompanhamento a uma cerveja se o plano não for almoçar ou jantar. Sendo que existem outros snacks como dadinhos de tapioca, com queijo parmesão e geleia de pimenta (6€), asinhas de frango (5,50€), bolinha de queijo (6,50€) ou até mac 'n' cheese (5,50€).
Com o tempo, é possível que o menu vá sofrendo algumas alterações, até porque João Carlos ainda está a estudar a zona. “A nossa carta até já teve mudanças desde que abriu e a ideia é ser totalmente sazonal. [Além disso,] quando surgir algo que eu acho interessante adicionar, a gente vai mudar. A ideia é sempre essa, trazendo o nome de referências a outros artistas e tal”, continua o cozinheiro para quem “tudo é política”, até mesmo a cozinha. “Tudo o que você faz acaba sendo politizado pelo que você acredita. A gente é totalmente pro diversidade, a nossa ideia é trazer gente de tudo quanto é tipo, então não teria como ser diferente”, assegura. “Se o nosso conceito é ligado à black music, a gente tinha de ser anti-racista, anti-preconceito.”
Rua António Maria Cardoso, 15 (Chiado). 93 451 5445. Qua 12.00-22.00, Qui 12.00-23.00, Sex 12.00-00.00, Sáb 17.00-00, Dom 17.00-23.00
+ No Jardim do Senhor Lisboa, a inspiração vem da Dinamarca e os vegetais são as estrelas