Notícias

Nos casos de violência doméstica, os homens aparecem e as mulheres desaparecem. Esta é a história delas

A primeira incursão do cineasta Márcio Laranjeira numa produção para televisão vê a luz do dia num festival de cinema, este domingo. ‘Casa-Abrigo’ parte de histórias reais sobre violência doméstica e chegará ainda este ano à grelha da RTP.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Casa-Abrigo
©RTP Divulgação | 'Casa-Abrigo'
Publicidade

Cada vez mais vemos os festivais de cinema a acolher antestreias de séries de televisão, habitualmente revelando os primeiros episódios do que está para vir. Este domingo, 11 de Abril, o dia de encerramento do IndieLisboa, a Culturgest exibe os dois primeiros episódios de Casa-Abrigo, a primeira série de Márcio Laranjeira, numa sessão integrada na secção Rizoma, dedicada a obras que abordam questões relevantes do mundo actual. Uma produção que está também a caminho da RTP1, anunciou a estação publica no passado mês de Fevereiro, no evento Séries em Série.

As actrizes Maria João Pinho, Leonor Silveira, Filomena Gigante e Rita Cabaço são Vera, Madalena, Conceição e Gabriela. Quatro mulheres muito diferentes, mas que em comum têm uma casa-abrigo, um espaço seguro para onde se mudaram após serem agredidas pelos respectivos companheiros, física e psicologicamente. Personagens fictícias, mas inspiradas em mulheres reais que emprestaram os seus testemunhos a Márcio Laranjeira, para que ele desse caras e nomes a tantas histórias de um crime que não parece ter fim. “É um assunto que me toca pessoalmente e ao mesmo tempo é um assunto que me ultrapassa. Ou seja, é impossível ser pessoal, é público. Aliás, não é por acaso que é um crime público. E cada vez que se fala nele, cada vez que acontece alguma coisa, eu sinto-o na pele e sempre quis, de alguma maneira, falar dele”, começa por nos dizer o cineasta numa conversa por telefone.

Casa-Abrigo
©RTP Divulgação'Casa-Abrigo'

O tema da violência doméstica não é ignorado. Está nas notícias ou mesmo na agenda dos debates políticos, mas nada muda e muitas vezes a situação piora. No entanto, há um lado que vemos pouco: o das vítimas, agora focado em Casa-Abrigo. “Conhecemos sempre os agressores, o que é que eles fizeram, a violência gráfica, basicamente. Não existe violência gráfica na série, mas quem são estas mulheres? Estas mulheres ficam sem vida, elas desaparecem. É-lhes retirado tudo, é-lhes retirada a identidade, basicamente. E elas carregam a violência e começam do zero. A história delas começa ali e precisam de ajuda para a começar”, sublinha o autor, realizador e argumentista de Casa-Abrigo, para quem estas mulheres têm de deixar de ser apenas números.

A informação partilhada pela Comissão Para a Cidadania e a Igualdade de Género, conta 39 casas de abrigo em Portugal, unidades residenciais de acolhimento a vítimas de violência doméstica, por um período de até seis meses, que podem estar acompanhadas de filhos menores ou de maiores com deficiência. Uma rede complementada por 26 acolhimentos de emergência. “Infelizmente, é a única solução que, para já, estas mulheres têm. Mas não pode ser a solução, é preciso fazer mais. E o mais não está só nas casas, não está só em enviar mulheres para as casas. Está do lado de fora”, defende Márcio Laranjeira.

Após a passagem pelo IndieLisboa, Casa-Abrigo deverá estrear na RTP1 até ao final o ano, um canal em sinal aberto que terá um “extremamente importante”, diz o autor da série, na divulgação destas histórias: “Eu quis fazer uma série para pessoas que estão em casa e que possam ver televisão. Pessoas que normalmente – muitas delas eu conheço – que não vão ao cinema. E, portanto, é importante que eu leve este cinema a elas através da televisão”. Casa-Abrigo tem seis episódios, dedicados a cada uma das mulheres e também a Joana, a psicóloga da casa, interpretada por Ana Sofia Martins. O elenco conta ainda com Carloto Cotta, João Nunes Monteiro, Victoria Guerra ou Maria João Vaz.

Culturgest – Auditório Emílio Rui Vilar. Rua Arco do Cego, 50. Dom 15.30. 5€

🏡 Já comprou a Time Out Lisboa, com as últimas aldeias na cidade?

🏃 O último é um ovo podre: cruze a meta no Facebook, Instagram e Whatsapp

Últimas notícias
    Publicidade