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O Anel do Unicórnio - Uma Ópera em Miniatura
Fotografia: Eduardo BredaO Anel do Unicórnio - Uma Ópera em Miniatura

Nova criação do Teatro do Eléctrico convida-nos a descobrir o bel canto

O LU.CA – Teatro Luís de Camões abre portas a uma tragicomédia operática, em miniatura, para os mais novos.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Pedro Patê é um rapaz enfadado pela sua invulgar sorte: filho de dois cantores líricos, vive dentro de uma ópera. Farto de ouvir árias, cavatinas, intermezzos e afins, quer tornar-se ilusionista para pôr fim às cantorias com um estalar de dedos. Até que, um dia, um sem fim de imprevistos se desenrolam e o fazem repensar a sua opinião acerca do bel canto. Com música do maestro e compositor Martim Sousa Tavares, libreto de Ana Lázaro e encenação de Ricardo Neves-Neves, O Anel do Unicórnio convida pais e filhos a descobrir como ir à ópera pode ser, contra muitas expectativas, divertido. A primeira apresentação em Lisboa – depois da estreia em Loulé, onde o Teatro do Eléctrico é residente, e de uma passagem por Guimarães – está marcada para esta sexta-feira, 3 de Dezembro, às 18.30, no LU.CA – Teatro Luís de Camões.

“Em 2019, eu e o Martim estávamos a fazer A Menina do Mar, para as comemorações do centenário de Sophia [de Mello Breyner Andersen]. Foi a primeira vez que trabalhámos juntos e gostámos muito. Nessa altura, a Susana Menezes desafiou-nos a juntar duas características muito fortes do LU.CA num só espectáculo”, conta o encenador Ricardo Neves-Neves. “O teatro era a antiga Casa da Ópera do rei D. João V, ainda antes da Ópera do Tejo, destruída pelo terramoto de 1755, e do São Carlos, que só foi inaugurado em 1793. Agora, a programação é especialmente direccionada ao público infanto-juvenil.” Evocando o passado, sem esquecer o presente, encomendou-se um libreto a Ana Lázaro, “o seu primeiro”, interpretado por três cantores (André Henriques, Cátia Moreso e Sílvia Filipe), um actor (André Magalhães) e sete músicos.

O ensemble – David Silva (flauta), Ana Aroso (harpa), Mrika Sefa (piano eléctrico e sintetizador), Francisco Cipriano (percussão), Helena Silva (violino), Jorge Correia e Miguel Menezes (contrabaixo e baixo eléctrico) – é-nos apresentado por Martim Sousa Tavares como a Orquestra de Variedades das Maldivas. “É formada por alguns membros do extinto Comité Olímpico. Por causa da subida do nível do mar, o local onde treinavam ficou submerso e tiveram de procurar outros caminhos para as suas vidas. Mas só tocam a 2,50 metros de altura”, diz-nos, por entre risos, fazendo referência à altura elevada a que, de facto, os músicos vão tocar. “Agora a sério, estamos a falar de um grupo capaz de combinar sonoridades bastante distintas.” Fazem-se citações directas ao repertório da ópera clássica e barroca, mas também ao de outros géneros musicais, nomeadamente o eurodance dos anos 2000, com o “Pump Up The Jam”, dos Technotronic, e a chanson française dos anos 40.

O Anel do Unicórnio - Uma Ópera em Miniatura
Fotografia: Eduardo BredaO Anel do Unicórnio - Uma Ópera em Miniatura

Em palco, os figurinos de Rafaela Mapril e a cenografia de Henrique Ralheta também impressionam. Destacam-se, por exemplo, as várias paredes amovíveis, que tanto fazem lembrar os telões e a maquinaria pesada associada ao teatro clássico, como nos remetem para os quadros escolares para escrita a marcador. As paredes, além de esconderem um fogão e uma chaise longue, incluem mecanismos robóticos: são plotters da Mill – Makers in Little Lisbon. Por um lado, acompanham a narrativa, ao desenhar em tempo real; por outro, tornam-na mais portátil, para ser apresentada em itinerância, e permitem resolver “certas questões colocadas pelo libreto”. “É uma forma, por exemplo, de colocar um cão e um gato em cena sem de facto termos animais ou pessoas mascaradas”, esclarece o encenador, antes de nos falar um pouco mais sobre a peça, para a qual foi também elaborado um glossário, que permite às crianças “perceberem o que ouvem”, desde certos termos até referências da história da ópera.

Apropriando-se dos ingredientes de uma clássica comédia de enganos, ao estilo do século XVIII, a história decorre ao longo de um dia de festa, um arco de 24 horas particularmente atribulado. Bellini Bel Canto, um ex-barbeiro em Sevilha, e Faustina Balão, uma diva barroca, estão prestes a celebrar as suas bodas de prata, mas nada parece estar de feição. O filho, Pedro Patê, recusa-se a viver dentro de uma ópera, o gato Don Giovanni al Latte não se encontra em lado nenhum e a empregada Tosca não está com muita vontade de ajudar. Por entre um certo excesso operático, somos desafiados a mergulhar no universo do absurdo, com uma ópera sobre viver dentro de uma ópera, com todos os constrangimentos que isso provoca. “Foi a nossa primeira vez a desenvolver uma ópera, ainda que em miniatura, para os mais novos. Gostava de transparecer o quão divertido foi fazê-lo, porque o processo foi realmente luminoso e satisfatório”, remata Neves-Neves.

LU.CA – Teatro Luís de Camões. 3 a 19 de Dezembro. Sex 18.30, Qua (8) e Dom 16.30 e Sáb 11.30 e 16.30. 3€-7€. M/6.

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