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Nuno Gama: de atelier e coração no Chiado

Escrito por
Tiago Neto
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O novo espaço do designer, aberto este mês, tem morada no Chiado depois de anos no Príncipe Real. E nós fomos conhecê-lo.

Quem passa pela porta, no 1º da Rua Nova da Trindade, não deixa de reparar na cabeça dourada de girafa que salta do vidro logo ao lado, na montra. Estamos na loja e atelier do português Nuno Gama, a Maison. Do Príncipe Real trouxe a alma, a ideia de um novo espaço, e os conceitos que haviam de lhe servir dentro. A loja respira minimalismo, uma organização pensada, cada coisa encaixa meticulosamente nos cerca de 160 metros quadrados ou, pelo menos, assim parece. Do lado esquerdo está a coleção presente, à direita, a zona dos óculos, “que também vai ter jóias”, adiantam. Há zona de sales, logo de frente, há uma perfumaria, com marcas italianas, turcas, francesas, mas o magnum opus é a barbearia que, não estando totalmente centrada no espaço, é o centro de toda a atenção.

Duarte Drago

Lá atrás, depois de duas cortinas, Nuno Gama tem o seu retiro. O espaço só dele, onde as peças povoam a paisagem em cabides, uma secretária, computador, prateleiras preenchidas com pedaços de vida. Sentamo-nos, chega um café, abrimos a conversa com a razão da mudança para este Chiado. “As rendas dispararam [no Príncipe Real]. Atingimos valores de rendas que não são proporcionais ao nosso negócio e não fazia sentido continuar num sítio onde não estavam reunidas as condições. Portanto fomos à procura de um novo sítio e ao procurar surgiu esta loja. O Chiado tem uma coisa que me agrada, é o coração da cidade, gosto de aqui estar porque sinto vida à minha volta. Às vezes até estranho o excesso de pessoas. No Príncipe Real sentia-me de alguma forma mais sozinho.” 

A execução do projecto ficou a cargo de Rita Muralha, arquitecta responsável por muitos dos cenários da ModaLisboa, mas Nuno Gama tinha tudo pensado, de forma muito crua, num esboço do qual se ri enquanto o vai explicando no computador. “Basicamente o meu trabalho com ela aqui foi dizer: ‘Olha, o conceito é este, há um corpo central, uma ilha, que tem A mais B mais C, que à volta tem de ter isto e isto", conta-nos. "Tínhamos esta ideia do corpo central com este espírito de sala de estar, biblioteca e bar – que depois tivemos de abdicar por falta de espaço físico. Portanto este espaço acabou por se fechar mais, reduzimos algumas coisas, mas mantivemos na parte da frente a coleção, manteve-se a alfaiataria, atelier e a barbearia.”

Duarte Drago

Sobre a barbearia, que já existia no Príncipe Real, Nuno Gama diz ser uma necessidade imposta pelos clientes que, com a mudança de paradigma da sociedade actual, têm outras formas de estar. “Queríamos que o cliente sentisse que isto não é um espaço onde se vem beber copos, fumar cigarros e ouvir tagarelices, é exactamente o oposto. Um sítio onde as pessoas vêm relaxar, cortar bem o cabelo, fazer bem a barba e relaxar. É o que eu procuro num sítio porque, durante imenso tempo, não me revia no conceito do barbeiro.”

O tipo de clientela não é obrigatoriamente homogéneo, ainda que haja resposta para todos. "A nossa colecção não tem uma orientação específica em idades”, sendo preenchida por várias vertentes. Do mais fashion ao mais exibicionista. "Isso acaba, no fundo, por ser uma constatação da minha própria personalidade; não me apetece estar sempre produzido, também me apetece um básico.”

Duarte Drago

No passado, uma loja deste género não seria possível. “Eu comecei em 1986, não havia lojas de homem. As que havia vendiam fatos, gravatas e camisas brancas, azuis, às riscas, e boxers. Na verdade, quando comecei, nem havia o conceito de roupa interior como há hoje", explica. Ele, um dos veteranos, deu força ao movimento, criou, apresentou, passou pelas catwalks internacionais e vestiu nos dois eventos nacionais, o Portugal Fashion e a ModaLisboa, mas acabou por condensar forças só na capital.

Para trás também ficaram os coordenados de mulher, apostando unicamente na moda masculina. E justifica, “ao contrário do que toda a gente acha, o universo masculino é muito mais exigente e rigoroso".

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