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Até há pouco mais de um ano, Neil Gaiman era fantástico. Por ser este o género que abraçou no seu trabalho e por ser um dos melhores a fazê-lo. Mas, em Julho do ano passado, vieram à tona acusações de uma mão-cheia de mulheres que o incriminam por violência sexual. As histórias têm sido amplamente divulgadas pela imprensa mundial e não só descrevem as acusações como também dão conta da travagem a fundo de muitas adaptações em curso da sua obra. Sandman: Mestre dos Sonhos é apenas uma.
Na primeira temporada, somos apresentados a Morpheus, o senhor do Reino dos Sonhos, que há mais de um século vive aprisionado por um mago britânico que cobiça os seus artefactos perdidos. Morpheus consegue libertar-se, recupera os artefactos e esta segunda e última temporada acompanha a reconstrução do seu reino, que ficou em cacos na sua ausência, com consequências para a humanidade, tendo de confrontar uma bela colecção de deuses, monstros e mortais. A Netflix promete “um final emocionante”, mas do outro lado do ecrã as emoções parecem ser apenas adversas.

Os livros de Neil Gaiman são matéria-prima apetecível para a adaptação aos ecrãs. São mais de uma dezena de filmes e séries que partem da sua obra, sem contarmos com títulos originalmente desenvolvidos para televisão e cinema. Mas os seus últimos projectos estão comprometidos. A versão oficial é que a adaptação para a Netflix da premiada banda-desenhada da DC Comics The Sandman só valeria para duas temporadas, planos que estariam em cima da mesa desde o início. O mesmo não aconteceu com o spin-off Dead Boy Detectives (2024) – que navega no universo de The Sandman –, série que mereceu apenas uma temporada antes de ser cancelada pela Netflix. A desculpa? Os números. Mais óbvio foi o destino de Bons Augúrios (Good Omens no original), série da Prime Video com duas temporadas que se encaminhava para uma gloriosa terceira temporada. Adaptada do romance publicado em 1990, que Gaiman assinou com Terry Pratchett, e protagonizada pelos brilhantes Michael Sheen e David Tennant – nos papéis de um anjo e demónio muito chegados desde o início dos tempos –, a história vai terminar com um longo episódio de 90 minutos, já com Neil Gaiman afastado da produção, na sequência das acusações que vieram a lume. A estreia deverá acontecer ainda este ano.

O que pode nunca vir a acontecer é o filme que adapta o romance The Graveyard Book (2008), uma história sobre um menino adoptado e criado pelos sobrenaturais habitantes de um cemitério, após a sua família ser assassinada. O projecto está a ser desenvolvido pela Walt Disney e não foi totalmente cancelado. A verdade é que ficou em modo pausa após a polémica.
Fora dos ecrãs, a vida também não lhe parece sorrir. Uma das suas editoras, a Dark Horse Comics, partilhou na rede social X que não pretendia continuar a trabalhar com o autor. “A Dark Horse leva a sério as alegações contra Neil Gaiman e já não estamos a publicar as suas obras. Confirmamos que a série de quadrinhos de Anansi Boys e a versão encadernada foram cancelados”, lê-se numa publicação com data de 25 de Janeiro. Anansi Boys segue as aventuras de dois gémeos separados em crianças e que são filhos do entretanto falecido deus Anansi, que também dava pelo nome de Sr. Nancy e é um romance de fantasia publicado há 20 anos, integrando o mesmo universo de American Gods (2001). Outro livro que deu origem à popular série do mesmo nome, emitida entre 2017 e 2021.

O problema é que Anansi Boys está também a ser adaptado a série pela Prime Video. A rodagem está terminada, mas falta saber quando e se será emitida pelo streaming da Amazon, que tem estado em silêncio sobre o assunto. O elenco conta com veteranos como Fiona Shaw, Whoopi Goldberg, Jason Watkins ou Delroy Lindo. No entanto, durante a promoção do filme Sinners (2025), Lindo confessou à Entertainment Weekly que não está muito convencido sobre a futura emissão da série. “Eu não acho que alguma vez verá a luz do dia”, especulou o actor, admitindo que possa “estar errado”. Ainda assim, alertou que “há cascas de banana espalhadas por todo o lado” e que “não importa o quão experiente seja o nível de talento envolvido”, porque “há sempre a possibilidade de alguém escorregar”.
Filmes como Stardust (2007), Coraline (2009), Beowulf (2009) ou How to Talk to Girls at Parties (2017) fazem parte da colecção de títulos de Gaiman adaptados aos ecrãs no passado. Há ainda espaço para uma menção especial: a série Lucifer (2016-2021) adapta os quadradinhos da DC Comics escritos por Mike Carey, mas inspirados na personagem Lucifer criada por Neil Gaiman para… The Sandman.

Netflix. Estreia a 3 de Julho (T2)
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