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O menino do cravo anda por Lisboa e quer uma revolução na mobilidade

Começou nas paredes da cidade e agora também gatinha em t-shirts. O Cravo Bravo quer menos carros e mais liberdade para peões e bicicletas.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Cravo Bravo
DRCravo Bravo
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Há dois anos, no 25 de Abril, Ksenia Ashrafullina andava por Lisboa a pôr cravos vermelhos em tubos de escape. "Fui tirando fotos, mas senti que faltava algo de cativante à imagem." Talvez uma pessoa fizesse a diferença. Surgiu então aquela criança, que estende o braço para colocar a flor da Revolução no canal de onde normalmente sai ruído e dióxido de carbono. Algumas voltas, sugestões e retoques depois, nasceu o Cravo Bravo, o símbolo de uma mudança por acontecer, na forma como nos movemos na cidade. 

Ao primeiro "menino do cravo" alguém acrescentou um poema
DRAo primeiro "menino do cravo" alguém acrescentou um poema

Além de ser uma das principais mobilizadoras do colectivo Lisboa Possível, que luta pela prioridade ao peão, à bicicleta e ao transporte público colectivo, Ksenia é directora artística e decidiu avançar com a marca do Cravo Bravo para dar visibilidade às causas que defende, mas também para financiar o activismo com que se compromete. "O primeiro menino foi pintado perto da Praça das Flores, com tinta de giz, que é completamente lavável." Depois, foram surgindo outros pela cidade (alguns nem sequer foram da autoria do Lisboa Possível) – "e até na Madeira" –, chegaram pedidos para pintar numa cicloficina de Marvila, num restaurante da freguesia da Misericórdia ou mesmo na sala de uma residência privada. Até que surgiu a ideia das t-shirts. "Temos uma colecção feita com t-shirts em segunda mão da Humana, que é nossa parceira, e também temos t-shirts e sweatshirts novas, de algodão 100% orgânico, feitas numa fábrica de Guimarães, em que temos a certeza que não há exploração infantil. Era muito irónico estar a fazer estas t-shirts com a imagem de um menino a lutar pela liberdade nas ruas e depois tínhamos crianças a fabricá-las, não era?", satiriza Ksenia, ao telefone com a Time Out. 

Rita Prates e Ksenia Ashrafullina, do Lisboa Possível
DRRita Prates e Ksenia Ashrafullina, do Lisboa Possível

"Sentimos que as pessoas se identificam com a mensagem, porque ela é transversal e forte. Há pessoas da Alemanha e da França a comprar t-shirts nossas. Ao mesmo tempo, é uma forma de nos financiarmos, porque somos um colectivo independente e queremos manter a nossa independência financeira, até para podermos dizer o que não consideramos correcto", explica a activista russa a viver em Lisboa há mais de dez anos. Os ganhos são investidos em acções com o intuito de "tornar Lisboa caminhável e ciclável", mas as lutas do Lisboa Possível "já estão a tomar uma dimensão que implica bastantes gastos, tanto de tempo como com questões legais", acrescenta. Em causa está uma queixa que o colectivo está a preparar contra a Câmara Municipal de Lisboa, por esta ter, alegadamente, proibido uma manifestação de cidadãos no espaço público, considerando que a acção em causa não se trataria de uma manifestação. "Agora, além do direito à mobilidade, também queremos defender o nosso direito a manifestar-nos", afirma Ksenia Ashrafullina.

Mais de 1000 pessoas querem pedonalizar "os Mastros"

A grande luta do colectivo é por uma mobilidade mais centrada no peão e em modos de deslocação suave, como a bicicleta, ou seja, uma cidade mais afastada do conceito automóvel. "Definimo-nos com quatro verbos: caminhar, brincar, pedalar e respirar", resume Ksenia. Para isso, têm reivindicado a pedonalização da rua e da travessa dos Mastros, na freguesia da Misericórdia. A petição recolheu mais de 1000 assinaturas e foi entregue à Assembleia Municipal de Lisboa. "Já tivemos uma primeira audição. O que pedimos vai a votação e depois, então, teremos a segunda audição na Assembleia. Vamos ver", relata Ksenia à Time Out.

Cravo Bravo na Rua dos Mastros
DRCravo Bravo na Rua dos Mastros

A vontade do colectivo é que a cidade seja feita de mais lugares onde os peões e ciclistas possam circular sem medo e sem obstáculos e onde as crianças possam brincar em liberdade. Em suma: menos trânsito, menos espaço ocupado pelos automóveis, menos velocidade, menos poluição e menos ruído de motor. O colectivo (e o "menino do cravo") quer, ainda, "inspirar outras pessoas a lutar pelo mesmo, pessoas que às vezes se sentem esquisitas ou estranhas no meio de tudo isto por acharem que são as únicas que não querem andar de carro", diz Ksenia. "Elas não são as únicas e comunicar é uma forma de começarmos a organizar-nos."

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