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O novo documentário do colectivo Left Hand Rotation olha para a ‘RUA’

São activistas, lutam contra a gentrificação e têm mais um documentário no forno. Falámos com os Left Hand Rotation.

Renata Lima Lobo
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Renata Lima Lobo
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Nasceu em Espanha e chegou a Lisboa há cerca de uma década. O colectivo Left Hand Rotation é composto por activistas urbanos que têm vindo a alertar para os perigos do “terramoto turístico” que resulta da gentrificação – mas não viram a cara a outras lutas, seja contra o racismo ou em prol dos direitos das mulheres. As suas acções são variadas e incluem documentários como Ficção Imobiliária (2014), Terramotourism (2016), Alfama é Marcha (2017) ou O que vai acontecer aqui? (2019). Ainda sem data marcada para estreia está RUA (2021), um novo trabalho sobre “as lutas de Lisboa pré e pós-pandemia”.

Mesmo com ordem para irmos para dentro, a contestação nas ruas não parou. A partir de Março de 2020, cada marcha, com os mais variados motivos, foi escrutinada à lupa, do distanciamento social ao número de máscaras (ou ausência delas em casos específicos) por cabeça. Mas é sobre os momentos de manifestação testemunhados pelos Left Hand Rotation que se centra o documentário RUA. O trailer já se encontra disponível e revela que o trabalho fala sobre a urgência das lutas que não podem ficar em suspenso, mesmo quando as ruas ficam vazias. Um convite à reflexão lançado pelo colectivo, sob o mote: não são as razões que fazem as revoluções, são os corpos.

“Obviamente que não somos negacionistas, somos responsáveis, mas ao mesmo tempo não podemos ser negacionistas da realidade”, explicam os Left Hand Rotation à Time Out. Em RUA estarão presentes as manifestações da Greve Climática, da 8M Lisboa – Greve Feminista Internacional, da habitação (em conjunto com outros colectivos locais, como a Habita! e a STOP Despejos) ou de Black Lives Matter, que juntou muitos milhares de pessoas em Lisboa e noutras cidades portuguesas. O documentário também inclui protestos mais específicos, como o dia em que foi levado a cabo, em Junho de 2020, o despejo do SEARA, um centro de apoio à população carenciada que funcionava num infantário abandonado em Arroios. 

“Não pretende ser um registo exaustivo. O material que vai formar o RUA é apenas daqueles momentos que nós conseguimos acompanhar. É aquele lugar e tempo específico em que estivemos e que a câmara conseguiu registar. Há muitos momentos e muitas coisas a acontecer dentro de uma ocupação colectiva da rua. Um fenómeno como uma manifestação tem muitas dimensões e uma diversidade de coisas a acontecer muito grande. O RUA vai mostrar apenas aquela parte que nós conseguimos acompanhar”, dizem.

A reivindicação do espaço público como “espaço de batalha” e a urgência de não colocar protestos pelos direitos em pausa é central neste novo trabalho, mas os Left Hand Rotation também alertam para os perigos de algumas proibições. “Há muitas decisões do poder onde há proibições, não é só o sair para a rua. Por exemplo, cada vez que saímos à rua vemos uma nova esplanada”, dizem referindo-se a uma “usurpação do espaço público” ligada ao consumo. “Já não podes beber uma cervejinha no espaço público, é proibido. Se queres consumir, tens de consumir nas esplanadas”, lamentam.

Ainda em fase de edição, RUA ficará disponível online, de acesso livre, ainda antes do Verão. “O único prazo que temos é a urgência da situação que vivemos. Era interessante conseguir publicar [o documentário] numa altura em que as restrições vão ser mais leves e vai ser preciso chamar à mobilização. A ideia é que possa servir como impulso”, revelam, ao mesmo tempo que apelam à responsabilidade social. “É importante as pessoas começarem a tomar consciência que têm de ser responsáveis pela sociedade que estão a construir e que não podem ficar em casa apenas a olhar. É melhor sair para a rua pelas causas que acharem justas. É um acto simbólico de tomar a responsabilidade pelos direitos e pela justiça social”, defendem.

Teatro Variedades
©Left Hand RotationIniciativa "Lugares em Lisboa prestes a desaparecer" (2016): Teatro Variedades

Terramoto turístico

O colectivo nasceu em Espanha, mas chegou a Portugal há sensivelmente dez anos. Começaram com a acção Terramotourism, que começou por envolver cartazes com “instruções de emergência em caso de sismo turístico”, que alertavam para a chegada da turistificação a Lisboa (e que deu origem a um documentário com o mesmo nome). “Quando fizemos o primeiro workshop sobre gentrificação, que foi na Mouraria, muitas pessoas levantavam a mão e diziam ‘isto aqui não vai acontecer’. A partir de 2012, com a nova lei das rendas, aconteceu uma grande confusão com os despejos e então decidimos começar a trabalhar aqui sobre isso”, recordam.

Sublinham, no entanto, que não são contra o turismo. “Também gostamos de viajar e somos turistas. Somos é críticos com a turistificação que é outra coisa: a hegemonia da actividade relacionada com o turismo na cidade”. Uma tendência que acreditam não ter terminado. “A partir de agora vai haver um problema económico gigante neste país. Mas temos a certeza absoluta que o poder público de Portugal e de Lisboa vai apostar as cartas nos mesmos: turismo e mercado imobiliário.”

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