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A Cruz Quebrada era uma das praias mais populares dos arredores de Lisboa para quem não tinha dinheiro para ir de férias. E ficou conhecida como a praia do garrafão.
Há cento e alguns anos, chegado o Verão e a caloraça, já boa parte dos alfacinhas ia de férias, debandando para as termas, para o campo, para as praias da moda e para as estâncias estivais. Mas havia os outros, os que não tinham posses para irem de férias nem por uns dias que fosse.
Esses, os que ficavam em Lisboa, rumavam às praias populares: Pedrouços, Alcântara, Algés, Caxias e sobretudo à Cruz Quebrada, que ficou conhecida para a posteridade como “a praia do garrafão”, pelo hábito de muitos dos seus frequentadores levarem consigo um garrafão de vinho tinto para acompanharem o farto almoço (bacalhau, arroz de frango, favas) que a família ia partilhar de um enorme tacho devidamente embrulhado em jornais. Num dos seus livros, o escritor José Rodrigues Miguéis recorda as “barracas de pinho cru, pintadas às listas por fora”, e o cheiro “a sal e urina” que se desprendia delas.
A foto desta página foi tirada na Cruz Quebrada, num quente domingo do início de Setembro de 1931, e mostra uma longa fila de banhistas, os homens quase todos de fato completo e gravata, chegando à praia. E pouco importava a toda esta gente que na altura houvesse na Cruz Quebrada um enorme cano pelo qual eram despejados, para o mar, os resíduos de uma fábrica de curtumes ali próxima. Na praia do garrafão, como nas mais elegantes, o que importava era a areia, o sol e o mergulho no mar.
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