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Pátios das Antigas, Lisboa Antiga, Café Cristal
©DRCafé Cristal

O Pátio das Antigas: O café que refulgia

Coisas e loisas da Lisboa de outras eras

Escrito por
Eurico de Barros
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Foi há 80 anos, no Outono de 1941, que, com alguma sensação, abriu as portas na Avenida da Liberdade, o Café Cristal, projectado por Cassiano Branco, forrado a espelhos e decorado por mestre Jorge Barradas.

“É à noite que o Café Cristal se torna ainda mais digno do seu nome: brilha, refulge, lampeja. Não há nada como isto noutra grande capital europeia”. Assim se escrevia na Revista Municipal, publicada pela Câmara Municipal de Lisboa, poucos dias depois da inauguração do Café Cristal, que ocupava os números 131 a 137 da Avenida da Liberdade. Abriu as portas no Outono de 1941, mais precisamente no dia 10 de Novembro, fez recentemente 80 anos, no local onde antes se encontrava o Café Luso.

Projectado por Cassiano Branco (que havia visto a sua primeira proposta para o Café Cristal chumbada), o Café Cristal era inteiramente decorado com espelhos, o que lhe dava um ar feérico, “verdadeiramente de filme de Hollywood”, para citar de novo o referido artigo da Revista Municipal. Os espelhos apresentavam uma decoração em pinturas de esmalte sobre vidro, da autoria do artista Jorge Barradas. Uma obra destacava-se no novo café da Avenida da Liberdade: um relógio de cuco rodeado por abelhas luminosas e inserido num ramo de ferros forjados e em filigrana. O Café Cristal tinha ainda uma sala que servia de restaurante, toda ela também decorada com espelhos.

Esta original e arrojada criação de Cassiano Branco, com a participação artística de mestre Jorge Barradas, não agradou a todos, no entanto. E houve quem tivesse uma opinião totalmente contrária à do anónimo e entusiástico articulista da Revista Municipal. O Café Cristal foi criticado, por exemplo, por não ter uma decoração mais sóbria, por ter espelhos a mais, ou ainda por ser “demasiadamente modernista”, como se apontou no vespertino Diário de Lisboa. A verdade é que os lisboetas o começaram a frequentar, em grande número e com assiduidade, desde que abriu portas.

Alguns dias depois da abertura do Café Cristal, ainda em Novembro de 1941, abriu mesmo ao lado o Bar e Dancing Cristal. Era a versão para noctívagos e boémios daquele, que até tinha uma orquestra privativa e também dava chás dançantes às quintas-feiras e aos sábados à tarde. Este segundo Cristal ficou célebre pelas suas passagens de ano que se prolongavam até ao nascer do sol, e nas quais costumavam actuar artistas espanhóis muito conhecidos desse tempo.

Pouco mais de 20 anos depois de ter aberto, no início da década de 60, o Café Cristal, bem como o seu Bar e Dancing encerraram. Os bonitos espelhos que decoravam o café foram arrancados das paredes e dos tectos, e nunca mais se soube deles. Diz-se que uma grande parte esteve guardada num armazém dos arredores da capital e acabou por se danificar ou ser destruída. No seu lugar, instalou-se um prosaico estabelecimento de electrodomésticos. Mas a memória do “café que refulgia” perdurou durante bastante tempo na recordação dos alfacinhas.

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