[title]
Eram Buicks e Mercedes, Talbots e Studebakers, Chryslers e Isotta-Fraschinis, Hudsons e Délages, entre 60 marcas fabricadas na Europa e nos EUA, sem falar nas motos e nos muitos stands de peças e acessórios. Entre 4 e 13 de Julho de 1925, o mundo do automóvel instalou-se em Lisboa, com a realização do I Salão Automóvel da capital (que não foi o primeiro em Portugal, mas sim o quarto, porque antes já tinha havido três no Porto), no Coliseu dos Recreios, organizado pelo Automóvel Club de Portugal. Embora um representante desta instituição dissesse então à imprensa que este era o “primeiro verdadeiramente oficial”.
Ao longo de dez dias, milhares e milhares de alfacinhas puderam ver expostos mais de 100 carros de seis dezenas de marcas, algumas delas já desaparecidas, casos da Amilcar, da Chandler, da Dèlage ou da Sizaire Fréres. Paralelamente, a organização apresentou espectáculos como concertos de jazz pela banda residente do Club Meyer, de música clássica e também sapateado. Quem pagasse o bilhete mais caro, de Camarote de 1.ª Ordem, tinha ainda direito a almoço, jantar ou requintado serviço de chá, fornecido pela Pastelaria Ferrari. Foi um acontecimento ao mesmo tempo “desportivo, comercial e mundano”, como escrevia o vespertino Diário de Lisboa.
O I Salão do Automóvel de Lisboa foi inaugurado pelo Presidente da República, Bernardino Machado, e assim descrito pelo referido jornal, citado pelo blogue Restos de Colecção: “O Coliseu está coalhado de automóveis de todas as marcas – e o espaço não chega para satisfazer a décima parte dos pedidos. Mas esses automóveis não estão para ali em montão, como numa garage enorme. Os stands foram dispostos com muito gosto. Por toda a parte se vêem flores vermelhas, escudos, emblemas. E a sala é iluminada por muitos milhares de lâmpadas de cores, admiravelmente dispostos, dando artísticos e curiosos efeitos de luz”.
Do lado português, apenas a oficina dos Grandes Armazéns do Chiado marcou presença. Os organizadores lamentaram a ausência quer de outras oficinas de automóveis, quer dos fabricantes de carroçarias nacionais. “E só muito tinham a lucrar se tivessem apresentado qualquer coisa… com o confronto e comparação é que o público pode avaliar o nosso progresso neste ramo, que assim é como se não existisse”, notava o citado Diário de Lisboa. O I Salão do Automóvel de Lisboa, além de ter sido um enorme sucesso, representou também um milagre de organização muito português. Foi montado em apenas cinco dias, a contra-relógio, já que antes tinha estado no Coliseu um dos muitos circos que a sala então acolhia.