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O primeiro Mr. Gay Síria para ver no Olhares do Mediterrâneo

Escrito por
Clara Silva
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O documentário sobre refugiados sírios que querem concorrer ao Mr. Gay World estreia-se este sábado, 29 de Setembro, no Olhares do Mediterrâneo, no São Jorge, festival com filmes apenas realizados por mulheres. Falámos com as organizadoras.

Husein, 24 anos, um refugiado sírio a trabalhar como barbeiro na Turquia, é o centro das atenções de Mr Gay Syria, documentário do ano passado da realizadora turca Ayse Toprak, que acompanha a escolha do primeiro representante da Síria no concurso de beleza Mr Gay World.

Filmado entre Berlim, Istambul e Malta (onde aconteceu a final do concurso em 2016), mais do que um filme sobre o Mr Gay, é um retrato das dificuldades da comunidade LGBT que fugiu da Síria, tenta encontrar outro rumo e fugir à discriminação – muitas vezes dentro da própria família. A ideia surgiu quando a realizadora conheceu Mahmoud Hassino, um activista LGBT a viver em Berlim e à procura de um concorrente sírio para o Mr Gay World, como forma de mostrar que a comunidade resiste e é muito mais do que aquilo que mostram as notícias. “Ele queria dizer: ‘Olhem, nós vivemos. Nós lutamos’”, explicava a realizadora numa entrevista deste ano ao jornal The Guardian. “Queria mostrar ao mundo os gays sírios que estão vivos e não apenas os mortos.”

O filme foi premiado em 2017 no Chicago International Film Festival e estreia-se agora em Lisboa na quinta edição do Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino, festival no São Jorge com filmes realizados apenas por mulheres e que acontece até domingo (30 de Setembro).

“É um filme muito interessante porque nos mostra os constrangimentos de quem vive relações amorosas-sexuais que não estão em conformidade com as exigências heteronormativas – e que se tornam ainda mais complicadas para quem se encontra na situação de refugiado”, comentam as directoras do festival, Sara David Lopes e Antónia Pedroso Lima. “Seguindo pessoas concretas, que são gays e refugiados, o filme mostra-nos a complexidade das múltiplas formas de subalternização que caracterizam as vidas destas personagens.”

No sábado, às 16.30, o filme é exibido em parceria com o festival Queer Lisboa e será complementado com um debate com especialistas em questões LGBT, para reflectir sobre “estes cruzamentos de formas de discriminação que se acumulam nas vidas quotidianas”. Os refugiados são um dos temas dos filmes do Olhares do Mediterrâneo, mas o festival toca em vários assuntos. “Continuamos a receber muitos filmes sobre as problemáticas nos países de origem e aqueles onde acabam por ir parar, mas também recebemos este ano filmes com humor e de reflexão sobre problemas europeus que também partilhamos, como a seca e vários tipos de discriminação”, continuam as responsáveis.

O festival nasceu de um “projecto de amigos” e inspirou- -se no festival de Marselha Films Femmes Méditerranées, que em Outubro cumpre a sua 12.ª edição. “Resolvemos experimentar uma coisa parecida aqui”, contam. “A primeira edição foi financiada por nós, com a ajuda valiosa de um pequeno crowdfunding e o apoio logístico da CML e da EGEAC.” “Quase sem dar por isso”, dizem, chegam agora à quinta edição com uma programação recheada (a maior parte dos filmes estão em competição), várias secções, júri e actividades paralelas. Mas porquê filmes de países do Mediterrâneo e apenas realizados por mulheres? “Tendo nós uma cultura tão marcadamente mediterrânica e não havendo aqui nenhum festival orientado nesse sentido, achámos que havia espaço para isso”, afirmam as organizadoras. O mesmo se aplicou à questão das realizadoras. “Há em muitos países festivais de filmes de mulheres e em Portugal ainda não havia nada”, explicam. “Daí entendermos que fazia sentido, sobretudo numa época em que já se tomou consciência da necessidade de criar mais paridade em todas as áreas e aumentar a participação feminina.”

Sábado, 16.30, no Cinema São Jorge (Avenida). Bilhetes a 4 euros. Programação completa do festival em www.olharesdomediterraneo.org

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