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© André Alves/ Red Bull Content Pool Red Bull BC One 2023 Cypher in Lisbon, Portugal on March 17, 2023

O que é o breaking? Mucha explica o bê-á-bá antes da final nacional

Os melhores breakers de Portugal vão enfrentar-se este domingo, em Lisboa. Falámos com o B-boy Mucha, que antecipou a competição e nos mostrou uns moves.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Não é breakdance, é breaking. É o B-boy Mucha quem nos explica, entre goles de água, sentado no chão, já depois de nos tentar ensinar a fazer alguns passos, dos mais básicos aos mais exigentes. Convidámo-lo a encontrar-se connosco no Arcade Dance Center, em Benfica, onde os melhores breakers de Portugal vão competir este domingo, 17 de Março, e ele não hesitou. Está a preparar-se para ficar mais perto de se qualificar para a final mundial do Red Bull BC One, o maior campeonato de breaking 1x1, no Rio de Janeiro, mas arranja sempre tempo – “claro que sim” – para dar a conhecer a modalidade.

“Quando os media começaram a dizer breakdance, a modalidade estava em processo de criação. O pessoal misturava breaking com popping e locking [outros dois estilos de dança que surgiram na década de 1970], mas breaking são estes movimentos que acabei de mostrar, mais acrobáticos, e vai também além da dança”, diz-nos Alberto Perdomo, mais conhecido por B-boy Mucha, antes de deixar claro que, ao contrário do que acontece com outras modalidades, cada breaker interpreta os vários movimentos de uma maneira muito distinta.

@timeoutlisboa O Red Bull BC One Cypher Portugal acontece este domingo. B-boy Mucha mostra-nos os moves de breaking que vai levar a Benfica. #redbulldanceyourstyle #portugal #dance #redbulldance ♬ Disappear - Maniak-B

A residir em Lisboa há 12 anos, Mucha veio a Portugal pela primeira vez a propósito de uma competição no Porto. Veio da Venezuela e já não voltou, mas foi no seu país natal que, aos 16 anos, descobriu o breaking. “Comecei numa igreja evangélica, que promovia actividades para jovens, inclusive dança. Na altura, não havia tanta informação, mas eu tinha um mentor – se calhar, hoje em dia, as pessoas não sabem o que é –, o VHS”, brinca. “Um amigo tinha contactos da capital e arranjava as cassetes, que víamos em casa dele.”

Nunca mais parou de fazer breaking e agora dá aulas a crianças e jovens, todos os sábados, às 10.00, no Arcade Dance Center. Depois, claro, também nunca parou de competir. É a quarta vez que participa no Red Bull BC One Cypher Portugal. “Sempre sonhei muito com isto e a primeira vez nem me correu muito bem, porque estava mesmo nervoso. No ano seguinte, em 2022, perdi contra o Deeogo, que depois foi o vencedor, e voltei a perder com ele no ano passado. Este ano, não quero voltar a perder”, diz, entre risos. “É importante treinar, experimentar o chão antes das batalhas, aquecer e descontrair.”

O que é o breaking?

O breaking – vertente desportiva do breakdance – nasceu na década de 1970, nos EUA, como um estilo de dança urbana. Com raízes na cultura hip-hop, tomou forma nas animadas block parties do bairro de Bronx, em Nova Iorque, e caracteriza-se por movimentos acrobáticos, passos estilizados e o papel fundamental do DJ e do MC durante as batalhas.

As primeiras competições internacionais realizaram-se na década de 1990 e, este Verão, a modalidade fará a sua estreia nos Jogos Olímpicos, em Paris, com dois eventos – um para homens e outro para mulheres –, durante os quais 16 B-boys e 16 B-girls vão competir em batalhas a solo, marcadas para os dias 9 e 10 de Agosto.

Ainda não se sabe quem vai representar Portugal, mas a B-girl Vanessa Marina conquistou o terceiro lugar na World Battle de Breaking, como a única representante portuguesa na fase final da competição, que foi disputada no Verão de 2023, na Alfândega do Porto. A vitória foi um passo importante rumo à participação em Paris, na estreia olímpica da modalidade. Agora é esperar para ver.

O que é o Red Bull BC One?

O Red Bull BC One é, desde 2004, o grande palco internacional do breaking, uma modalidade em crescimento. A grande final deste ano está marcada para 7 de Dezembro, na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro, no Brasil. Antes, o Arcade Dance Center, em Benfica, é palco do Red Bull BC One Cypher Portugal, que permitirá apurar os B-boys e as B-girls que se vão defrontar na final da edição nacional.

No palco do Qualifier, no Arcade Dance Center, vão competir 16 B-boys (oito seleccionados e oito wildcards) e 8 B-girls (cinco seleccionadas e três wildcards). Daqui sai a lista de apurados para a final nacional, que se vai realizar a 13 de Abril. Depois, já sabemos, os campeões nacionais carimbam o passaporte para o Rio de Janeiro.

Depois de 2006 e 2012, é a terceira vez que a Cidade Maravilhosa recebe a final mundial do Red Bull BC One. Para escolher os vencedores, a qualidade, criatividade e dinâmica dos atletas será avaliada por um júri composto por três elementos, todos especialistas mundiais na modalidade.

Como é que se faz breaking?

O termo breaking relaciona-se com o facto de, tradicionalmente, os breakers dançarem ao som do breakdown de uma canção, que é quando acontece uma pausa ou mudança abrupta no ritmo da faixa. “Há pessoal que se prepara muito: cria sequências, estrutura entradas, como se fosse uma coreografia, mas nunca é possível coreografar realmente, porque nunca sabes que música vai estar a dar durante uma batalha”, diz-nos Mucha. “Depois há quem prefira freestyle. Eu gosto de ambos: estruturo umas coisas, deixo espaço para outras.”

Entre as várias técnicas que compõem o breaking, o B-boy destaca toprock (sequência de passos feitos em pé), downrock (uma técnica usada para sair do toprock e começar a dançar no solo), footwork (“trabalho de pés” no solo, com apoio das mãos), power moves (posições dinâmicas) e freezes (posições estáticas). Depois há, por exemplo, tricks, que são produto do “toque pessoal” de cada breaker, e flips, isto é, acrobacias no ar, que tornam as apresentações mais dinâmicas.

@timeoutlisboa Moves de breaking? Mucha mostra (e convida a ver ao vivo a competição). #redbulldanceyourstyle #portugal #dance #redbulldance ♬ Hip Hop Background(814204) - Pavel

“Dentro destas categorias, temos diferentes passos e há milhares de variações”, avisa Mucha. “No toprock, por exemplo, temos o front step, o salsa step, o indian step. Já dentro do footwork, muitas pessoas usam o six-step, um movimento [rotativo] composto por seis passos. Há também o one step ou coffee grinder: apoiamos a mão direita no chão, esticamos a perna esquerda e, quanto a rodamos para o lado direito, levantamos a mão direita e pousamos a esquerda, para saltar com a perna direita sobre a esquerda”, explica, enquanto exemplifica muito devagar, depois rápido, à velocidade normal.

As posições estáticas parecem mais fáceis, mas não são: é preciso força e resistência para ficar de cabeça virada para o chão e pernas para o ar, o corpo suspenso, as mãos e as pernas a fazer o trabalho de suspensão. Quando acrescentamos movimento, já estamos a executar os tais power moves. “São movimentos em rotação e é preciso fazer freezes primeiro.” Depois é treino, muita tentativa e erro.

Como é que se avalia?

“Técnica, originalidade, criatividade, assinatura – isto é, os movimentos que tu crias, que são assinados por ti –, a tua entrada e se estás ou não a ser completo, a fazer de tudo um pouco”, remata Mucha, sabendo que dependerá, naturalmente, de cada jurado. “Como breaker, o meu desafio é saber até onde sou capaz de chegar, qual é o limite do meu corpo e de mim enquanto B-boy, e conseguir ultrapassar o nervosismo ou ansiedade.”

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