A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Estátua do Marquês de Sá da Bandeira
Inês Félix/ Time Out

Fernanda do Vale, conhecida como "a preta Fernanda"

O Rossio na Betesga #8 – Toda a cidade em pequenas curiosidades

Helena Galvão Soares
Escrito por
Helena Galvão Soares
Publicidade

Na Praça D. Luís I, ao lado do Mercado da Ribeira, encontra-se a estátua que celebra o papel do Marquês de Sá da Bandeira na luta pelo abolicionismo. Na base da estátua está uma mulher, com correntes quebradas nos tornozelos, que representa África, apontando ao filho o estadista que abolira a escravatura nas colónias.

Fernanda do Vale, a mulher que serviu de modelo a esta figura, era conhecida como "a preta Fernanda". Nascida em Cabo Verde, em 1859, aos 18 anos fugiu de casa com um capitão que lhe prometera casamento, mas a abandonou. Aos 20 anos chegava a Lisboa, casada com um industrial de cervejas alemão, que terá morrido ou desaparecido.

Foi uma mulher extravagante e escandalosa que fez a sua vida boémia rodeada por jornalistas, intelectuais, actores. Frequentava as estreias de espectáculos das principais salas da cidade. Diz-se que foi a única mulher que permaneceu na sala quando Almada Negreiros apresentou o Ultimatum Futurista no Teatro República, em 1917. Abriu diversos “salões” (o nome que dava aos seus bordéis), com serviço de bufete, música ao vivo, salas de jogo; casas essas que fechavam, ou eram fechadas, devido ao barulho de clientes embriagados e à música de piano. Teve o cabelo pintado de cor de laranja. Chegou a estrear-se no toureio a cavalo na Praça de Algés. Era de tal forma famosa em Lisboa que deu origem a uma personagem de teatro de revista.

Capa do livro com ilustração de Alberto Souza
DR | Capa do livro com ilustração de Alberto Souza

Uma tal vida dava um livro. Dava e deu, embora a autoria e factualidade das memórias tenha sido posta em causa à época. Recordações d’uma Colonial (Memórias da preta Fernanda) narra na primeira pessoa, possivelmente de forma algo ficcionada, os altos e baixos da sua aventurosa existência, com o objectivo de "pôr em fóco a [sua] fertil esistencia para que não [fosse] negado o logar, que de direito [lhe] pertence, nas paginas imorredoiras da istória". O livro descreve também os seus 33 amantes, incluindo comentários sobre a sua performance, e lista-os (sob pseudónimo) num desdobrável no final da obra. Recordações d’uma Colonial está online, pode lê-la aqui.

O Rossio na Betesga #7: o mais antigo sinal de trânsito

+ O Rossio na Betesga #6: Esta Câmara é um doce

Últimas notícias

    Publicidade