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"Olá, Eu Sou o Pai Natal" estreia esta quarta-feira no Negócio/ZDB

Escrito por
Miguel Branco
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Tiago Barbosa, na sua segunda criação, que estreia esta quarta-feira, retoma a lenda do barbudo dos presentes. Nunca pensámos ver o Pai Natal em Janeiro, muito menos no Negócio/ZDB. Mas ainda bem que está por cá. Devemos-lhe, no mínimo, uma visita.  

É triste. É absurdo. É quase obsceno o descaramento, a leviandade com que o mundo se serve do Pai Natal, para logo depois esquecer. Pois aqui vai, é Janeiro e aquele que se idolatra por uma semana ou um mês, aquele a quem juramos ter tido boas notas e bons comportamentos, aquele para quem escrevemos cartas em tom amoroso, continua a viver, continua a ser gente. E logo ele, que em 2018 está mais desamparado do que nunca. 

Pudera. Chegar a casa – depois de uma noite a mergulhar em chaminés, a carregar e deixar junto da árvore todas as prendas que se conhecem – e ver as suas fábricas e latifúndios cercados, mais uma placa a dizer “Propriedade do Estado – Zona Interdita” não pode ser coisa fácil. É esse homem que se expõe como nunca em Olá, Eu Sou o Pai Natal para ver de quarta a domingo, às 21.30 no Negócio/ZDB.

Tiago Barbosa, 47 anos, volta ao Negócio para a sua segunda criação, depois de A Grande Sombra Loira, em 2013,  a partir de sonetos de Florbela Espanca. Ou seja, esta é a sua estreia enquanto autor do texto que diz em palco. Que começa escuro. Uma voz rugosa, de quem já viu mais do que qualquer outro ser humano à face da terra, anuncia-se. 

Ele é o Pai Natal e faz este espectáculo depois de dois anos como Pai Natal de centro comercial, irreal portanto, com fatos sem ar condicionado, barriga falsa, tudo o que este homem não diz ser. “É uma situação paradoxal, o Pai Natal supostamente é um velho, com centenas de anos, é quem oferece os presentes, é uma pessoa que nunca ninguém vê e que segundo a ficção é uma pessoa ansiada, pela chegada, e, portanto, a presença do Pai Natal devia ser um facto extraordinário em qualquer sítio. Acontece que não é, é uma banalidade”, desabafa. 

Ao longo do espectáculo, o Pai Natal vai criando situações performáticas, joga bowling (ou curling, não ficámos esclarecidos) natalício, vomita decoração da quadra, canta e toca bateria com uma bola de fitness; o Pai Natal é superstar. E logicamente que fica ofendido quando, ao tentar subir ao terraço do Amoreiras, o segurança lhe pede identificação. Surreal. Como se não chegasse ser Pai Natal. Como se tivesse que ouvir coisas como “sabe que dizer que é o Pai Natal não serve de identificação, certo?”. 

É uma luta e tanto, esta. Daqui parte-se para considerações disfarçadas sobre um mercado de trabalho precário, sobre a dívida do actor perante o espectador assim que este paga bilhete, sobre  leis da Física. Mas mais do que leituras difusas, Tiago Barbosa quis “fazer uma proposta impossível”. Em que apenas diz: “Sou o Pai Natal verdadeiro.”. Então este é um espectáculo do Pai Natal verdadeiro e não de Tiago Barbosa, certo? “Sim, é uma aparição”, conclui. 

Negócio/ZDB. Qua-Dom 21.30. 7,5€. 

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