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Os Viagra Boys declamam odes à selvajaria no Super Bock em Stock

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Os Viagra Boys tocam sábado na Estação do Rossio, durante o festival Super Bock em Stock. Há poucos artistas com um vigor e uma exuberância comparáveis no cartaz. 

Boa tarde, Barcelona. Foi assim que Sebastian Murphy, o vocalista dos Viagra Boys, se dirigiu ao público portuense no NOS Primavera Sound deste ano. Conhecendo a postura ao mesmo tempo confrontacional e irónica da banda, podia estar só a gozar. Mas, pela maneira como fala e a julgar pela garrafa de vodka que o vimos emborcar nesse dia, podia estar mesmo confundido. Seja como for, deu um dos concertos mais falados desta edição do festival portuense. E ninguém se vai admirar se o concerto deste sábado, em Lisboa, também for um dos mais memoráveis do Super Bock em Stock.

Antes de os futuros companheiros de banda o ouvirem cantar karaoke (“Mariah Carey”, diz ele) e perceberem que o homem era um animal de palco, o vocalista ganhava a vida como tatuador. Tinha vivido e crescido na Califórnia, mas mudou-se para a Suécia com 17 anos. “Era um adolescente problemático”, confessa ao telefone, possivelmente ressacado, garantidamente sem vontade de falar com jornalistas. “Tinha lá os meus amigos e os meus maus hábitos. Consumia muitas drogas e metia-me em confusões, por isso tive de bazar.”

As drogas, diz pouco depois, continuam na sua vida, “mas só de vez em quando”. Fala sobre “alcoolismo” com ligeireza. É difícil perceber o que é encenado e o que é real, todavia Sebastian Murphy garante queé tudo real. “É difícil ser um homem”, diz pouco depois. A masculinidade é tóxica e ele parece sabê-lo; as letras que canta lidam com isso mesmo.

“É uma luta constante”, atira para o ar a dada altura. Contra quem? Contra o quê? “Ser um cretino”, responde. É essa a sua luta. “Sei que fui um cretino, e acho que às vezes ainda sou, mas estou a tentar tornar-me uma pessoa melhor.” Como? “Pensando sobre como as minhas acções afectam os outros, sobre como me trato a mim e às pessoas que me são próximas.” Tenta-se que aprofunde estas ideias, mas sem sucesso.

Mudemos de conversa. A música dos Viagra Boys tem pontos de contacto óbvios com várias músicas que se ouviram antes. Está lá a energia e a fúria de viver de Iggy Pop & The Stooges, há ecos do pós-punk de gente boa como The Fall, e semelhanças com os relatos de uma classe operária mandada abaixo pelas pressões austeritárias dos Sleaford Mods. “Gosto deles”, reconhece Sebastian. “Gosto de tudo um pouco, na verdade, do punk ao hip-hop e ao techno. Também oiço muito country, sobretudo coisas mais antigas e marginais.” Quem ouve os Viagra Boys, por sua vez, escuta isto tudo nas canções deles.

Tudo menos o hip-hop. E mesmo assim, não surpreende ouvi-lo falar nisso. Afinal, os suecos editaram o primeiro e até ao momento único álbum, Street Worms (2018), através da YEAR0001, editora independente de Estocolmo conhecida principalmente por editar os discos de rappers e produtores como Yung Lean ou Bladee, nomes fulcrais do trap melancólico de hoje. Yung Gud, um dos membros da crew de Yung Lean, os Sad Boys, “até produziu o segundo EP dos Viagra Boys”, sublinha o cantor. Isto anda tudo ligado.

Super Bock Super Stock - Estação Ferroviária do Rossio. Sábado, 23 de Novembro, às 23.45.

+ Os concertos a não perder no Super Bock em Stock

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