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Se no Verão é certo que há melancia, pêssego ou ameixa, no Inverno nunca falta tangerina, beterraba ou abóbora. Isto porque, para Olivia e Bryce, a época dita tudo – as cores, as formas, os sabores. E, por isso, se não lhes faz sentido comer kiwis em Julho, também não é nesta altura que os têm à venda na sua mercearia em Campo de Ourique. É lá – na Sabor Mercearia – que, além de carne e peixe, queijos e conservas, cervejas e vinhos naturais, encontramos frutas e legumes de pequenos produtores nacionais. Todos a seu tempo.
Esta não é uma mercearia tradicional. A balança antiga não serve para pesar os produtos, mas sim como peça de decoração na montra e, à porta, as caixas de fruta e de legumes não se empilham umas em cima das outras, antes estão dentro da loja, dispostas lado a lado sobre mesas corridas de madeira. As opções são variadas: ora temos pêssego, nectarina, melancia, ameixa e tomate, ora cebola, curgete, milho e beringela. Contudo, no dia da visita da Time Out não há tanto como de costume, adverte-nos Olivia Kohler. “Normalmente, o banco está cheio [de caixas com frutas e legumes]”, mas como a mercearia vai fechar para férias, as encomendas, desta vez, foram menores.

Neste dia há menos, noutro haverá mais. Não é um problema, pois tanto Olivia como o seu namorado e parceiro de negócios, Bryce Lerebours, trabalham segundo um lema: qualidade acima de tudo. “Ao trabalhar com pequenos produtores locais, temos produtos com um sabor do outro mundo. E colocamos o sabor no centro de tudo. Nós provamos todos os produtos, todas as frutas e legumes, e estamos sempre em contacto com as quintas e marcas com quem trabalhamos. Somos nós que selecionamos tudo – pela qualidade dos ingredientes, pelo sabor…”, começa por explicar a proprietária de 30 anos.
O lema, trouxeram-no de Provença, de onde vieram há três anos. Olivia era coordenadora de marketing digital na área da moda e Bryce trabalhava em startups, mas sempre gostaram de cozinhar e comer bem. Da paixão e da necessidade, veio a ideia de abrir o próprio negócio. “Quando chegámos pensávamos: ‘É tão estranho conhecermos tantas quintas cá, mas não encontrarmos bons produtos no supermercado’. E também não encontrávamos nenhum sítio onde fosse prazeroso fazer compras.” Nasceu então a Sabor Mercearia, que acaba de completar um ano em Campo de Ourique.

“Aqui, sabes de onde vêm os produtos e que eles são bons para a saúde. Não há mau marketing, apenas produtos reais, com um sabor real”, esclarece, realçando que mesmo os produtos vendidos nas grandes superfícies comerciais classificados como biológicos podem não ser totalmente orgânicos, tendo em conta que vêm de grandes corporações. “Só trabalhamos com quintas portuguesas. É tudo nacional, orgânico ou de agricultura regenerativa. Algumas são super pequenas e nem têm a certificação orgânica, mas conhecemo-las todas e temos uma ligação forte com todas”, salienta Olivia, com orgulho.
Os produtos, que chegam geralmente aos domingos e quartas-feiras, nunca vêm de muito longe. Ora de Sintra e Loures, ora de Torres Novas e Alenquer. Para saber nem é preciso perguntar, já que no cartão onde está identificado o legume ou fruta, podemos ler também o local de origem. “É um trabalho de educação, dando a conhecer aos clientes a verdadeira agricultura e dando o máximo de visibilidade às quintas. Ao saber que os limões vêm da Sandra, dás mais valor àquilo que comes. Isso é importante para nós.”
No que toca aos preços, dificilmente serão os mesmos que se praticam nos supermercados. Por exemplo, um quilo de pêssego paraguaio bio custa 6,90€, meio quilo de tomate cherry 5€, ou um quilo de pepino 4,10€. Ainda assim, a Sabor Mercearia pratica preços acessíveis, considera a proprietária. Isto porque, explica, não trabalham com distribuidores, antes compram directamente aos produtores. Mas os valores flutuam – no início da época, costumam ser mais elevados.

O feedback tem sido, desde o início, positivo. Há já clientes regulares que dizem mesmo ter deixado para trás os carrinhos de supermercado. “Aquilo que mais nos dizem é que pararam de ir aos supermercados para vir aqui. Dizem-nos que o sabor dos nossos produtos não tem nada a ver com o sabor dos produtos que encontram noutros sítios. Estão muito felizes”, conta. A Sabor começa também a fornecer alguns restaurantes, mas para já ainda são só três. O principal foco são as pessoas que entram todos os dias.
O chão foi colocado por Bryce, que também ficou responsável por criar o design que vemos na montra e nos sacos de pano. As paredes foram pintadas por ambos e a grande mesa de madeira corrida, no centro da loja, foi feita, com restos de madeira, por um senhor de Sintra. Os pratos de cerâmica coloridos, com motivos florais e campestres, eram da avó de Bryce e os cestos de palhinha típicos da zona de Provença, que estão do lado da entrada, são vintage. “Este lugar tem muito de nós – os nossos valores, as coisas que gostamos. E tentamos dar a conhecer às pessoas o nosso pequeno universo.”
Lista de compras
Nem só de frutas e legumes se faz a Sabor. Num dos frigoríficos, junto às saladas e cogumelos (da Nãm Mushroom), há mozzarella (3€) e prosciutto (3,50€) italianos e cerveja artesanal da portuguesa A.M.O. (3,50€), que se estende às prateleiras do vinho natural, onde se destacam as garrafas da Tubarão (20€) e a kombucha da Sault (13€). Não faltam os patés de atum, os frascos de tremoços, as batatas fritas, as massas e o arroz biológico da Rice ‘N Sado (4,50€).
Há chocolates da marca belga Meurisse (5,50€), doces da La Trinquelinette (6,90€), café da Olisipo (16,50€-19,90€) e de A Flor da Selva (7,50€-8,50€), mel (8€-8,50€) e azeite (12,50€) da Casa dos Montes. E não esquecer uma pequena secção com produtos asiáticos.

O frango é da marca do chef Bernardo Agrela – a Frangos do Além –, e o peixe é da costa portuguesa. Para comprar carne ou peixe, os clientes fazem-no através de um grupo de WhatsApp, em que Olivia e Bryce vão dizendo, ao longo da semana, aquilo que chega à loja. “Somos 250. É lá que, todas as semanas, digo se temos ovos ou peixe. Temos peixe fresco de Sesimbra e Setúbal, mas nunca sabemos o que o pescador vai apanhar. As pessoas dizem se querem um peixe inteiro ou até escalado”, descreve a proprietária.
O objectivo é que todos os produtos sejam nacionais, mas isso nem sempre é possível, porque não há ou então porque as pessoas não querem. O queijo foi um destes casos. “Quando abrimos, nós tínhamos queijos portugueses, mas tanto locais como estrangeiros começaram a pedir queijo francês. Então, acabámos por mudar a oferta.” Daí que haja camembert (4,50€), bleu d’auvergne fermier (22€/kg) ou beaufort d’été (37€/kg). Mas o queijo português voltará, garante Olivia.
Um ano depois de abrir a Sabor, o balanço é tão positivo que, no início do próximo ano, lá para Janeiro ou Fevereiro, o casal francês conta abrir um segundo espaço, nos Anjos, mesmo ao lado do bar de vinhos Nata. A premissa será a mesma, mas executada de maneira ligeiramente diferente. A futura Sabor será maior, mas terá uma oferta menor, mais personalizada, e estará dividida em duas partes. De um lado, a mercearia, do outro, uma espécie de restaurante de take-away, sob a marca da Sabor, onde o chef francês Constantin (@constirolandcadet) criará pratos, utilizando produtos e restos da mercearia. Até lá, é em Campo de Ourique que podemos encontrar Olivia, Bryce e os seus sabores.
Rua Tomás da Anunciação, 115 (Campo de Ourique). Seg-Sex 10.00-19.00, Sáb 10.00-15.00
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