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Sagres Campo Pequeno
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Patrocínio de marca de cerveja dá novo nome ao Campo Pequeno

“O naming é fundamental” para a sobrevivência das salas de espectáculos, garante Álvaro Covões, que detém a exploração daquele espaço centenário. O valor do patrocínio não é público, mas a Sagres fala em “parceria de longo prazo”.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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O Campo Pequeno foi rebaptizado. Agora é Sagres Campo Pequeno. O patrocínio da marca da Central de Cervejas e Bebidas foi revelado esta terça-feira, 24 de Janeiro, antes do primeiro concerto de 2023 na emblemática sala de espectáculos de Lisboa – The Kooks. O valor envolvido neste “naming” não foi divulgado por nenhuma das partes, mas Álvaro Covões acredita tratar-se de um passo “fundamental” para a viabilização financeira do espaço.

“O importante não é quanto é que o patrocinador deu para tornar algo possível, o importante é aquilo que se conseguiu fazer”, diz o empresário à Time Out, após a conferência de imprensa. “As salas de espectáculos parecem estar em vias de extinção. Há 50 anos que não se constrói uma sala privada em Portugal, pelo menos com uma certa dimensão. Não tinha de ser esta dimensão, podia estar a falar de um teatro de 1500 lugares. Não se constrói. As poucas que apareceram foram feitas pelo sector público. E, pelo contrário, muitas outras que já existiram desapareceram. Isto é um inferno. O Cine-Teatro Odéon vai ser apartamentos e restaurante de luxo; o Cine-Teatro Paris, junto à Estrela, vai ser a entrada de um condomínio de luxo; o Olympia que o La Féria tinha comprado vai ser um hotel... Isto é uma coisa assustadora. Temos de inverter isso.”

“Quando não há salas privadas, alguma coisa vai errada. Significa que há um problema financeiro, porque senão os privados investiam. Portanto, o naming é fundamental. Foi uma forma encontrada em muitos países para manter um sector privado activo. Se formos a uma cidade como Madrid, provavelmente 90 ou 95% das salas de espectáculos são privadas e têm naming”, observa Covões, que vê com bons olhos essa solução para outras salas de Lisboa, nomeadamente o Coliseu dos Recreios, que pertence à família do promotor. “O sector privado e as empresas são fundamentais. Têm que apoiar. Têm que apoiar a comunicação social, a edição de livros, as salas de espectáculos e a própria criação de cultura. Só assim é que vamos fazer um país como deve ser. Não pode ser isto. Tenho vergonha de viver num país com os hábitos culturais mais baixos da Europa.”

Covões comprou a concessão do Campo Pequeno no final de 2019, por cerca de 37 milhões de euros, segundo as notícias da altura. Mas o promotor prefere não falar de dinheiro. “Sempre disse o mesmo: o que a cultura tem de bom é que nunca se fala em dinheiro. Ou fala-se muito pouco. Ao contrário do futebol. Uma das coisas que estraga o futebol é estar-se sempre a falar de dinheiro.” Então para que servirá o investimento da Sagres no “naming”? Para a sobrevivência financeira do próprio Campo Pequeno e para o tornar acessível aos promotores que queiram usar o espaço para os seus eventos.

“Se formos ver o histórico, não só do passado recente, a maior parte das empresas que passaram por aqui faliu. Aqui e em muitas salas de espectáculos”, nota Álvaro Covões. “Isto não é um negócio fácil. As salas de espectáculos, muitas vezes, são o parente pobre. O artista tem de receber muito dinheiro, a empresa de audiovisuais e não sei quê, e depois a sala, ei!..., a sala não é nada, quando vamos comparar os investimentos e os custos não tem nada a ver. Portanto, é preciso encontrar uma fórmula para que as empresas possam sobreviver e se possam adaptar, para fazerem os investimentos que são precisos ao longo do tempo. E que sejam também acessíveis. Isto não pode ter o preço de um hotel de cinco estrelas. Tem de ter um preço acessível e ser um parceiro dos promotores, para que possam vir cá, não correr risco e ganhar dinheiro. Isto cria o ambiente perfeito.”

Sagres Campo Pequeno
DRMaria Oliveira e Álvaro Covões na apresentação do Sagres Campo Pequeno

A directora de marketing da Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, Maria Oliveira, disse durante a conferência de imprensa que esta é uma parceria “estratégica” e de “longo prazo”, sem especificar a duração do patrocínio. “É estratégico para nós, para a Central de Cervejas e para a marca Sagres. E porquê? Porque este espaço respira e vive os valores da nossa marca, a portugalidade e a convivialidade. Não há nada que mais junte as pessoas do que a música, que os artistas, que os espectáculos”, afirmou. “É uma parceria de longo prazo, como não podia deixar de ser. Estamos na música de uma forma mais próxima, mais consistente e mais presente ao longo do ano. Com a associação ao Campo Pequeno, com esta parceria que hoje se inicia, passamos a estar sempre presentes todo o ano. É para nós um orgulho dar o nome a este espaço e é para nós de extrema importância começarmos esta relação duradoura.”

Touradas? “Não temos opinião”

O promotor explora o Campo Pequeno através de uma outra empresa que não a Everything Is New, responsável por espectáculos de grande dimensão, incluindo o festival NOS Alive. Aqui, será uma cliente como outra qualquer. “A Everything Is New é outro assunto. A Everything Is New é cliente do Sagres Campo Pequeno como é cliente do Tivoli BBVA, ou é cliente do Ageas Coliseu do Porto.” Álvaro Covões traça assim a fronteira, continuando à conversa com a Time Out: “Nós gerimos um espaço, não organizamos.” Uma resposta válida para quando lhe perguntámos por um tipo de espectáculos mais delicado para o Campo Pequeno: as touradas. Segundo o empresário, não foi um assunto com a Sagres. “Isto é um espaço multidisciplinar. Não é de agora.” O assunto voltou à baila quando a sala de espectáculos mudou de mãos, mas Covões desvaloriza-o. “Talvez tenha voltado porque as empresas que passaram por aqui promoviam. Nós não promovemos. Somos obrigados por contrato [a acolher]. Ainda é considerado um espectáculo. É obrigatório [acolher]. Não temos como fugir, portanto não temos opinião.”

“Nós vivemos em democracia e em democracia tem que se respeitar a lei e a vontade da maioria. Quem somos nós para mudar isso? Era o que mais faltava agora nós termos um pensamento político e vinha aqui um pensamento oposto ‘queremos fazer a nossa convenção’. Não, não, a gente não quer nada convosco. Se são uma organização juridicamente legal, claro que sim, são bem-vindos. Aliás, eu fui educado a isso: as salas de espectáculos têm de ser abertas a todos. Todos os credos, sejam políticos, sejam religiosos. E os artistas a mesma coisa. Isso é princípio básico da liberdade. O público tem direito a ver aquilo que quer ver.”

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