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Percy Jackson & The Olympians
David Bukach

‘Percy Jackson’. Batalhas épicas, semideuses e uma professora pulverizada

A série baseada na aclamada saga de Rick Riordan estreia na Disney+ a 20 de Dezembro. “É sobre magoar as pessoas que amamos e ter uma relação difícil com um pai”, resume o showrunner Jon Steinberg.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Estávamos em 2010 quando Percy Jackson e os Ladrões do Olimpo chegou ao grande ecrã. Realizado por Chris Columbus (Sozinho em Casa, Harry Potter e a Pedra Filosofal), com argumento de Craig Titley, foi o primeiro de dois filmes de uma franquia por cumprir. A ideia era adaptar para cinema os livros de Rick Riordan, mas a ruptura com o material original ditou o fracasso do projecto. Treze anos depois, numa reviravolta emocionante para os fãs, está prestes a estrear uma nova produção baseada na aclamada saga de fantasia, que transporta a mitologia grega para o século XXI. Criada pelo próprio Riordan, juntamente com Jon Steinberg, Percy Jackson começa por adaptar Percy Jackson e os Ladrões do Olimpo (The Lightning Thief, no original), no qual somos apresentados ao personagem titular, um semideus de 12 anos forçado a partir à aventura com o fito de restaurar a ordem no Monte Olimpo e salvar o mundo. A primeira temporada conta com oito episódios, que vão ser lançados semanalmente, a partir de quarta-feira, 20 de Dezembro.

Para quem não está familiarizado com o universo criado por Rick Riordan, talvez valha a pena recuar no tempo, à época em que o seu filho Haley era apenas um miúdo ao qual contava, para adormecer, histórias sobre deuses e heróis gregos. Quando os mitos chegaram ao fim, o autor foi desafiado a inventar novas aventuras com os mesmos personagens e lembrou-se de um projecto de escrita criativa com o qual costumava desafiar os seus alunos: deixava-os criar o seu próprio herói, um semideus, filho ou filha de qualquer deus que quisessem, e pedia-lhes que descrevessem uma demanda ao estilo grego. Foi assim que nasceu Percy Jackson, um semideus de 12 anos que, tal como o seu filho Haley, sofre de dislexia e défice de atenção. O primeiro livro foi improvisado, de viva voz, ao longo de três noites. Pouco mais de um ano depois, em 2005, estava mesmo a ser publicado, para deleite de mais gerações de miúdos do que se poderia imaginar. Entretanto, já se contam seis volumes na saga principal – o sexto volume, Percy Jackson e O Cálice dos Deuses, foi publicado pela Casa das Letras em Setembro deste ano.

“Já li o primeiro livro sete vezes”, confessa Walker Scobell, de 14 anos, na conferência de imprensa de apresentação da série, com os outros elementos da equipa, a que a Time Out participou por videochamada. O jovem – que se estreou como actor em 2022, com O Projecto Adam, da Netflix, ao lado de Ryan Reynolds – tinha apenas 13 quando foi escolhido para dar vida a Percy Jackson na série encomendada para a Disney+. “Foi muito, muito surreal [quando vimos o Acampamento Meio-Sangue, um fictício campo de treino para semideuses, em Long Island, nos EUA]. Estivemos a imaginá-lo durante tanto tempo e, quando finalmente o vimos, foi como se não fosse real.” Leah Sava Jeffries, que interpreta a semideusa Annabeth Chase, filha da deusa Atenas, sente exactamente o mesmo: “Nunca vi ninguém a dar vida a uma história tão bem. Quer dizer, a precisão. O aspecto da relva ou das árvores. Tudo como está escrito no livro. Não se ouvia dizer ‘se calhar temos de mudar isto’, era mais ‘queremos isto exactamente assim; aquele bocadinho de madeira tem de ser vermelho’, e foi como o Walker diz. Surreal.” Mas, afinal, qual é mesmo o enredo?

O protagonista, Percy Jackson, é apenas um miúdo normal a tentar sobreviver à escola. Bem, mais ao menos. Filho de Poseidon, mas inicialmente ignorante da sua condição de meio-sangue, a verdade é que estão sempre a acontecer-lhe coisas muito, muito estranhas, como ver criaturas mitológicas que mais ninguém vê. Ou pior, transformar acidentalmente a sua professora de Pré-álgebra num montinho de pó. É verdade, o divertido título do primeiro capítulo de Percy Jackson e os Ladrões do Olimpo, “I Accidentally Vaporize My Pre-algebra Teacher” (“Sem Querer Reduzi a Pó A Minha Professora de Matemática”, na tradução portuguesa), é também o título do primeiro episódio da nova série. Trata-se de um piscar de olhos aos fiéis leitores da saga que, no fundo, também serve para os apaziguar. Desta vez é que vai ser. O que imaginámos que poderia ser a travessia de Percy acontece tal e qual.

“[Adaptar um livro] é um pouco mais arte do que ciência. À medida que lemos, começamos a formar uma ideia do que está realmente a contribuir para os momentos importantes, que dão sentido à história e de que realmente nos lembramos passado algum tempo. Depois, à conversa com o Rick e a sua mulher, Becky, tentámos perceber o que é que para eles não poderia mesmo faltar, aquilo que, se tirássemos, deixaria um fã desiludido. Por outro lado, tentámos que nada pareça que lá está só porque queríamos que estivesse. A história tem de funcionar de forma orgânica, para que nos faça sentir que era assim desde o princípio”, conta-nos Jon Steinberg. Para o showrunner, que também co-assina o argumento e a produção executiva, foi sobretudo uma questão de equilibrar o seu sentido de reverência pelo material original e a vontade de fazer outras coisas. “Ter o Rick e a Becky a bordo facilitou esse processo, porque tivemos oportunidade de lançar ideias novas e vê-los reagir.”

As poucas alterações feitas são económicas e eficientes e Walker Scobell encarna perfeitamente o papel de um pré-adolescente à procura do seu lugar no mundo. Vítima de bullying, é na sua mãe, Sally (Virginia Kull), e no seu amigo, Grover (Aryan Simhadri), que Percy encontra consolo. Claro que tudo se complica quando a verdade sobre as suas origens é revelada e a professora pulverizada torna-se o menor dos seus problemas. Acusado de ter roubado o raio-mestre de Zeus, é forçado a apanhar o verdadeiro ladrão, ao mesmo tempo que enfrenta uma série de inimigos mitológicos determinados a dar cabo dele. E, como se não bastasse, há ainda uma outra questãozinha: diz o Oráculo que um amigo o vai trair. Mas os verdadeiros fãs sabem que a história é sobre muito mais do que perigos à espreita, deuses e heróis. Felizmente, a equipa criativa também.

“É sobre o que significa magoar as pessoas que amamos e o que é ter uma relação difícil com um pai”, diz Steinberg, que admite mesmo ter-se esquecido que estava a trabalhar com miúdos entre os 12 e os 17 anos. Provavelmente, porque é difícil imaginá-los a ter de sobreviver a batalhas campais ou a uma quimera esfomeada. A puberdade, no entanto, pode ser igualmente assustadora. No papel ou no ecrã, grande ou pequeno, Percy Jackson é sobre dores do crescimento: descobrirmos quem somos e quem queremos ser, de onde viemos e para onde queremos ir, e quem fazemos questão que nos acompanhe, sobretudo nos piores momentos. É sobre encontrar o nosso lugar ou construí-lo. “De certa maneira, colocámos um pouco de nós próprios nas personagens”, partilha Aryan Simhadri. “É uma viagem pela qual todos passamos. O Grover também tem aquele momento em que sai da sua concha e dispõe-se a correr perigo para proteger as pessoas de quem mais gosta.”

Se quiser ver o primeiro episódio na companhia de outros fãs, fique a saber que a LeYa vai promover um visionamento na Livraria Buchholz, às 18.00 de 20 de Dezembro. A entrada é gratuita, mas a inscrição é obrigatória e deve ser feita até dia 18, online.

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