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Pilhas de papéis: 'Actores' estreia esta quinta-feira

Escrito por
Miguel Branco
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Em Actores, encenação de Marco Martins que estreia esta quinta-feira no São Luiz, explora-se a capacidade elástica dessa profissão. É sair daqui a pensar que, afinal, o nosso trabalho é ok. 

Ser actor é... Encaremos isto como um daqueles jogos em que nos dão uma frase e um espaço em branco para a completar, a nosso gosto. E ser actor – sobretudo depois de se ver Actores, espectáculo que estreia esta quinta-feira no São Luiz, com encenação de Marco Martins – é lixado. É passear cabras no El Corte Inglés, é perder um filho sem se saber o que é ser mãe, é fazer de gorila, é uma sova constante. É isso tudo e ainda ter tempo para fazer/aquecer o jantar quando se chega a casa. 

O cenário de Actores é como que uma white box onde tudo pode viver ou onde Marco Martins em conjunto com Rita Cabaço, Bruno Nogueira, Miguel Guilherme, Nuno Lopes e Luísa Cruz (entretanto substituída por Carolina Amaral por impossibilidade de agenda embora as histórias descritas sejam as de Luísa Cruz) se manipulam numa espécie de atletismo intelectual. “Isto nasce da vontade de falar desta capacidade de os actores fazerem dois ou mais trabalhos simultaneamente. De te desdobrares emocionalmente em várias personagens. No início era uma coisa que me perturbava e uma das formas de me ir habituando à ideia foi dizer que um dia ia fazer um espectáculo sobre isto”, conta Marco Martins. 

É, seguramente, um espectáculo feito a seis. Isto porque uma vez definidos os intérpretes, Marco Martins realizou demoradas entrevistas com cada um para, mais tarde, se definir o que ia para cena. “A partir das entrevistas chegámos a alguns momentos significativos, sendo que não queríamos fazer um best-of, era ao contrário, momentos mais traumáticos, de exposição ou impreparação, momentos menos evidentes”, diz o encenador sobre alguns dos quadros que geram a peça. Como aquela em que Bruno Nogueira conta um dos primeiros momentos da sua carreira: usar uma samarra e passear uma cabra em pleno El Corte Inglés, com o risco de encontrar algumas pessoas conhecidas. 

Acredite, estimado leitor, que este é um daqueles espectáculos em que a piada equivale a vergonha alheia. Se o objecto provoca riso que se farta para o espectador; para o actor, que o viveu efectivamente, tem mais de embaraço do que de outra coisa. Rir ou encolher?

Pensemos sobre isto: então já não chega um actor ter que ser vinte pessoas diferentes durante a vida como ainda tem que reunir algumas dessas num espectáculo? Pois, parece que sim. É uma espécie de megamix onde se recuperam as músicas de vida (ou será isto uma carreira?) destes cinco criadores, montadas e coladas a uma velocidade pouco habitual em teatro. “É o espectáculo mais duro que já fiz para os intérpretes, sobretudo porque estás a lidar com material autobiográfico, coisas sensíveis. Ficámos todos um bocado mais loucos, mas isso é bom, a loucura é sempre mais interessante do que a normalidade.”, argumenta. A quem o diz. 

Actores. São Luiz Teatro Municipal. Qua-Sáb 21.00. Dom 17.30. 5€-15€.  

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