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“Mas então quando é que o quiosque abre?”, foi a pergunta que durante quase dois anos mais se ouviu no Monte Estoril. Localizado no Jardim Carlos Anjos, em homenagem ao pioneiro da urbanização na zona, mas mais conhecido por Jardim dos Passarinhos, o café / esplanada / ponto de encontro era o grande motor da vida social do talvez mais bonito bairro do concelho de Cascais. Era ali à volta que os miúdos se encontravam depois da escola, e era por ali que os reformados passeavam os cães enquanto punham a conversa em ordem com os vizinhos. Era ali que, assim que os dias começavam a ficar mais longos, as pessoas se reuniam para a tão ansiada cerveja pós-trabalho e era ali que estrangeiros, cada vez em maior número, se enturmavam com os locais.
Durante quase dois anos, o jardim não foi o que sempre tinha sido. As crianças eram poucas, os reformados lamentavam-se pois “assim era uma tristeza” e os estrangeiros recém-chegados, que já só conheceram o jardim com quiosque fechado, não conseguiam imaginar-lhe outra vida. “Oh, really?!”
Tanto foi que, assim que as pessoas viram a porta do estaminé finalmente aberta, avançaram em bloco, ocupando a esplanada sem qualquer tipo de cerimónia, como quem reclama o que é seu por direito. “Ainda estávamos aqui a montar as coisas, e pensámos, ‘bom, a cozinha já está organizada, se alguém se sentar, sentou-se’. Só que, como isto é tão popular, começou-se a sentar toda a gente e ficou tudo por fazer”, recorda Carlos Canto Moniz, um dos novos concessionários.
Agora, passados quase dois meses da sua abertura, o quiosque está a funcionar a todo o gás e na estrada que circunda o jardim são poucos os carros que não abrandam para controlar o movimento. Considerado o coração do Monte Estoril, foi inaugurado a 4 de Outubro de 1889, após uma empreitada no valor de 308.947,96 escudos (1.541 euros, mas que à data de hoje equivalem a cerca de 160 mil euros), de acordo com antigos documentos da Comissão de Iniciativa e Turismo de Cascais. Da autoria do arquitecto Jorge Segurado, que desempenhou um importante papel na introdução da corrente modernista na arquitectura em Portugal, neste espaço instalou-se também por umas décadas no início do século XX uma estação meteorológica, por forma a evidenciar as qualidades desta “mui excelente estância de Inverno”, de longe superior às zonas então da moda, como Biarritz, Cannes ou Nice. Aqui, escrevia então o cientista goês Daniel Gelanio Dalgado, “os sapatos nunca ganham bolor, as ruas não estão húmidas de manhã, os telhados não se cobrem de musgo e o ferro nunca cria ferrugem” (The Termal Springs and the Climate of Estoril, Paris, 1910).
As obras de recuperação que Carlos confessa terem demorado “bem mais tempo do que o previsto”, mantiveram a bonita traça original do quiosque, renovaram-lhe as casas de banho em baixo, deram-lhe uma cozinha moderna, para aumentar a oferta, e ainda arranjaram espaço para um escritório-armazém.
Pedro Santos, outros dos sócios, é quem lá está de sol a sol, seja para receber o pão da Gleba que chega fresco todas as manhã, seja para se meter com as crianças que por ali continuam a entrar adentro a pedir gelados. Já o papel de Carlos “é ter ideias e criar uma programação cultural” mas ultimamente tem “sido pau para toda a obra”. Ocupado no dia-a-dia com outros negócios, Gonçalo Barreto é o terceiro elemento desta nomenclatura.
Grosso modo, pode dizer-se que estão abertos das 08.30 às 21.00, durante a semana, e das 08.30 às 22.00 aos fins-de-semana (apesar de terem licença até à meia-noite), mas ninguém o vai expulsar se quiser ficar um pouco mais. Como não tencionam ser “aquele quiosque típico que existe em todo o lado”, Carlos explica que a carta é “um pouco baseada em pratos saudáveis”, e que nesse sentido tentaram “ir buscar coisas que estavam mais ou menos em voga”. “Não inventámos nada, mas primamos pela qualidade.”
Se chegar pela fresca há um menu de brunch com várias sugestões, entre elas chia com leite de avelã e mirtilos (3,30€), bowl de iogurte e fruta da época (5,50€), panquecas com banana e mirtilos (€5,20) e bruschettas com ovos mexidos, presunto e abacate (6,80€), com ovo escalfado e guacamole (6,90€), ou com figos, gorgonzola e mel (5,80€).
Já ao almoço, experimente a típica sopa fria espanhola salmorejo (5,50€), seguida de uma das seis bowls disponíveis, como a de camarão, quinoa, maçã e aneto (12,60€) ou a de lombo de novilho com legumes e avelãs (15,80€). Mas há mais. Também servem um bom hambúrguer no pão (7€), um grelhado de legumes com pesto (8€), umas alcachofras à la romana (9€) ou uma grande burrata, com tomates cherry, molho pesto e manjericão fresco (12€).
Para o fim do dia, hora de ponta no quiosque, há tábuas de queijos (18€), de enchidos (16€) ou mistas (17€), acompanhadas por um copo de vinho, sangria ou um dos vários cocktails à disposição. Os lugares mais concorridos são uns confortáveis cadeirões com mesas baixas virados de frente para o jardim.
E então a tal vertente cultural de que falávamos há pouco? “Tencionamos organizar aqui ciclos de cinema à noite, associados a determinados países que têm que ver com a diáspora que aqui vive à volta, e fazer parcerias com a Casa Verdades de Faria (Museu da Música Portuguesa) ali em cima para organizar pequenos concertos”, afirma Carlos, acrescentando que tais eventos não são para já. O mesmo acontece com o espaço do jardim propriamente dito, a ocupar, quiçá na Primavera, com cestos de piquenique vendidos no quiosque.
De momento ainda não dá para jantar a sério, a não ser que fique bem com uma bowl seguida de uma bruschetta e com um brownie a rematar, uma vez que tudo na carta está disponível às horas que quiser, mas “uns pratos mais compostos e elaborados” podem vir a surgir, caso concluam que os jantares têm potencial. “Não quero complicar muito, mas primar por bons produtos, como por exemplo um bom entrecôte, que vem grelhado com umas batatas, mas que seja realmente muito bom e que faça a diferença. Mas não quero transformar isto nunca num restaurante com uma ementa muito extensa que só complica porque, apesar de termos as coisas muito bem organizadas, o espaço da cozinha é reduzido”, diz Carlos.
E o nome em néon vermelho em cima do quiosque? “Todas as pessoas chamam a isto quiosque do Jardim dos Passarinhos, mas eu queria dar-lhe um nome”, confessa Carlos, autor de dois livros, Azul (2003) e Mil Paixões e Fugas (2007), enquanto se ri da sua veia poética. “E e um dia estava aqui sentado, a olhar para os passarinhos e eles começaram a fazer piruetas e daí o nome — Pirouette”.