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Pixa Bixa: a street art queer que chegou para provocar Lisboa

Escrito por
Clara Silva
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O projecto Pixa Bixa começa a invadir as paredes de Lisboa com frases provocadoras e uma “arte de rua poc”, como lhe chamam. Os autores não se querem identificar, mas aceitaram responder às nossas perguntas
. Com sotaque do Brasil.

Como surgiu o Pixa Bixa?
Surgiu em Novembro a partir
 de uma inquietação artística provocada pela ausência de trabalhos mais voltados para
 a temática queer nas ruas de Lisboa. Como artistas de práticas diversas, tivemos a ideia de usar as nossas experimentações para propor um discurso provocativo que utilizasse esta temática como ponto de partida.

O que querem com o projecto?
É uma tentativa de provocar a cidade de Lisboa com aquilo
 que criamos e com o que nos inquieta enquanto homossexuais curiosos. Fazemos o que pode
 ser considerado uma “arte de rua poc”.

Poc?
É “poc” mesmo, e não pop, uma gíria utilizada no Brasil para se referir ao universo das “bixas”. Usamos adesivos [autocolantes], cartazes, stencils e stickers 
para criticar as normatividades sociais e fazer do “discurso veado” algo comum. Queremos que o universo queer ganhe espaço noutros lugares do quotidiano das pessoas e por isso desejamos quebrar estereótipos de artistas que fazem arte na rua.

Em quem se inspiraram?
Na cena da arte urbana internacional há vários artistas
a explorar a temática queer: o brasileiro Suriani, o italiano Aloha Oe e o português Vampiralho, por exemplo. Depois, personalidades queer no mundo artístico pop,
 a [cantora] Liniker, a [cantora] Linn Da Quebrada e também 
no cenário do activismo [personalidades como] a Erica Malunguinho, a primeira deputada trans a ser eleita em São Paulo. Por último, a gente tem procurado inspiração nas nossas próprias questões enquanto artistas queer, nas dificuldades em afirmar uma identidade ainda pouco entendida e pouco reconhecida.

O que significa Pixa Bixa?
Quando começámos, no início do mês de Dezembro de 2018, colando stickers pela cidade, criámos um nome em forma de um imperativo. É um grito do tipo: “Vai, cola sua arte”! “Pixa, Bixa!”. Depois dos stickers, criámos cartazes.

Qual foi o primeiro?
O primeiro foi um pequeno cartaz em que questionávamos o mito do chamado “hetero gay”. A pergunta “Você pensa em mim quando fode com ela?” serve
 para chamar a atenção sobre as relações ocultas que existem entre homens cis casados com mulheres cis que também mantêm relações homoafetivas com outros homens. Foi colado nas imediações do Jardim da Estrela.

O que querem dizer os outros cartazes?

Criámos um com a frase “Só por que você quer me comer, não quer dizer que você é gay” para chamar a atenção para a questão da masculinidade tóxica que proíbe o homem de demonstrar qualquer tipo de afecto a uma pessoa do mesmo sexo. Foi inspirada nos balneários de um ginásio, um ambiente de controlo extremo no qual os homens limitam os seus olhares (...) para não colocar em risco a sua posição de macho heterossexual. Depois criámos três cartazes maiores com a temática drag queen e transgénero [um deles inspirado em Liniker, a ‘queen tropical’].

O projecto é anónimo mas o que nos podem dizer mais sobre vocês além de “bixas que pixam”, como se apresentam no perfil do instagram do Pixa Bixa?
Somos dois homens gays
 que vivenciam a sexualidade
 de maneira singular e
 independente e que querem
 fazer da arquitectura da
 cidade o seu laboratório de
 experimentação. Somos pessoas
 que têm interesse na arte 
urbana porque ela é pública, efémera e comunica de uma forma muito directa. Essa característica pública atrai-nos muito porque um dos desafios de grande parte das pessoas queer é terem de se assumir como tal, ou seja, termos de tornar público o que somos.

Onde podemos encontrar e acompanhar o vosso trabalho?
Os stickers estão espalhados por vários lugares de Lisboa. Já os cartazes maiores podem ser vistos na Rua de Campo de Ourique, na Avenida Infante Santo e na Rua Vieira da Silva, em Alcântara. Além de acompanhar nas ruas, podem saber mais através da nossa conta no instagram @ pixabixa_lx.

Que planos de queer activism
 têm para a cidade nos próximos tempos?

A gente quer ver mais bixas pixando, mais “arte poc” espalhada pela cidade a respeito da comunidade LGBTQI, usando a provocação que a arte urbana pode gerar. Queremos continuar a explorar estas temáticas e contribuir para que as ruas de Lisboa recebam mais representações de pessoas queer.

+ O gaydar de 2019: o que não pode perder no novo ano queer

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