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A Defesa da Natureza, Parque Florestal de Monsanto, 2021
Bruno SimãoA Defesa da Natureza, Parque Florestal de Monsanto, 2021

“Plante a sua obra de arte.” Já há 3000 a crescer em Lisboa

Na manhã de sábado, 23 de Março, há 525 árvores para plantar no Vale de Chelas. É o regresso de A Defesa da Natureza, projecto a dez anos que convida os cidadãos a serem artistas, criando plantas.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
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"Qualquer homem é um artista." A repetida frase de Joseph Beuys, criador que teria hoje 102 anos, colocava tanto as pessoas como a arte numa nova perspectiva. Defensor de uma ecologia radical, necessariamente presente em todas as frentes da vida humana, Beuys concretizou em 7000 Carvalhos – Florestação Municipal em vez de Administração Municipal (1982) talvez a sua obra máxima, e ali condensou grande parte das suas ideias: durante cinco anos e com a colaboração de voluntários, plantou 7000 carvalhos (cada um deles acompanhados de uma pedra de basalto) em Kassel, na Alemanha, numa resposta à rapidez da urbanização. Foi esta a ideia que a BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas decidiu recuperar, lançando em 2021 o projecto A Defesa da Natureza, uma acção pensada a dez anos, que visa criar uma nova cartografia nacional, onde não há estradas mas as árvores que vão crescendo, na companhia do nome de quem as plantou e do título que lhes deram, enquanto "obras de arte", como lhe chama John Romão, director da bienal. Muito em breve, será possível aceder, realmente, a esse mapa, em formato digital.

Este sábado, volta o convite: "Plante a sua obra de arte", entre as 9.00 e as 13.00, na Avenida do Santo Condestável, em Chelas. Mais 525 árvores vão juntar-se, assim, às perto de 3000 já plantadas em Lisboa. "Cada pessoa vai poder plantar duas a três árvores, à partida, e escolher um título para a sua criação, que fica num cartão. Este gesto [de escrever o nome] é efémero", mas tudo o resto implica um "compromisso com o tempo", explica John Romão. Além de Lisboa (a acção passou pelo Parque Florestal de Monsanto, Quinta das Conchas e Avenida do Santo Condestável), nestes três anos de acção, A Defesa da Natureza marcou presença em Almada e Faro, com um total de 5000 árvores plantadas (todas autóctones, seleccionadas pelos diferentes municípios). Em Novembro, o projecto chega a Oeiras e a Braga, sendo o objectivo a sua expansão continuada, nos próximos anos, pelo território nacional, alargando-se o trabalho de intimidade entre as pessoas, as artes e a natureza.

Workshop de Gustavo Ciríaco e Mariana Tengner Barros, 2022
Bruno SimãoWorkshop de Gustavo Ciríaco e Mariana Tengner Barros, 2022

"Conseguimos trazer esta ideia [de Beuys] para o campo das artes de uma forma inédita para nós, porque questionou-se o que é uma intervenção artística e a sua duração", explica o director, chamando a atenção para o facto de a maioria das experiências artísticas com que nos confrontamos ser efémera. Neste projecto a dez anos, além do contributo da florestação sob o fogo das alterações climáticas, convida-se ao mesmo tempo "a pensar os espaços naturais como espaços de criação e experiência artística", numa mudança de trajectória em relação ao habitual, em que o teatro, a performance, a pintura ou a dança são partilhados em locais fechados, "de betão". Como ilustra John Romão, aqui arrisca-se "colocar uma Culturgest ao lado do Parque Florestal de Monsanto". 

Por outro lado, do acto de plantar árvores têm surgido outras criações. No primeiro ano de A Defesa da Natureza, por exemplo, a BoCA convidou Delfim Sardo e Sílvia Gomes a desenhar a curadoria de Quero Ver a Minha Montanha, um ciclo de performances em espaços naturais, como quando Sara Bichão atravessou o Tejo num barco a remos, de Belém à Trafaria, munida de um bloco de gelo que ia derretendo pelo caminho. 

Performance de Sara Bichão, BoCA 2021
Bruno SimãoPerformance de Sara Bichão, BoCA 2021

Arte indisciplinada, como a natureza

A plantação de perto de 5000 árvores desde 2021 resulta, também, da colaboração estreita com diferentes autarquias e com vários departamentos, dos Espaços Verdes à Cultura. São as câmaras municipais que definem as árvores autóctones a plantar, bem como os espaços disponíveis para que cada acção se desenrole. "Faz tudo parte dos planos dos municípios, mas, em vez de serem os técnicos a plantar, são os cidadãos", explica John Romão, que destaca como, também neste ponto, todo o processo tem sido frutuoso. Os municípios "ganham outra consciência e estimula-se uma comunicação entre departamentos que nem sempre acontece" no dia-a-dia, detalha o director, que acredita que "o futuro passa muito por este tipo de cruzamentos entre sectores e disciplinas". É, aliás, este o tipo de diálogo que defende a bienal. "Todos estes cruzamentos são muito caros à BoCA", concretiza John Romão. 

Avenida Santo Condestável (Largo do Broma). 23 Mar. Sáb. 09.00-13.00. Gratuito.

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