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A Preguiça Ataca?
Fotografia: Enric Vives-Rubio/LU.CAA Preguiça Ataca?

Preguiça, não te espreguices. Esta peça de dança convida a descansar mais um bocadinho

Já todos sentimos a preguiça a atacar. Aldara Bizarro também, e resolveu fazer um espectáculo sobre essa falta de vontade de fazer o que quer que seja. Conversámos com a coreógrafa sobre a peça de dança que chega agora ao LU.CA.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Quando somos crianças, a preguiça acaba no momento em que nos espreguiçamos, de braços bem esticados para cima, a tentar alcançar o potencial de um novo dia. O bicho só regressa a casa, o nosso corpo, no exacto momento em que nos sentimos exaustos da brincadeira. Já em adultos, o trabalho é tanto que, mesmo quando nos faz cócegas nos dedos dos pés, resistimos a admiti-la – a preguiça não serve para grande coisa, pensamos nós. Mas, quando estamos ainda a meio do caminho, engolimos os prazos com bocejos lânguidos, e cedemos à tentação das maratonas de cinema no sofá. “Tal como temos direito ao trabalho, também devíamos ter direito à preguiça”, diz-nos ao telefone a coreógrafa Aldara Bizarro, que está novamente a apresentar A Preguiça Ataca?, um espectáculo de dança que, como seria de esperar, nos fala sobre isso de não fazer nada. Em Lisboa, as famílias vão poder vê-lo entre 16 e 23 de Outubro, no LU.CA – Teatro Luís de Camões.

Estávamos em 2007, quando Aldara apresentou a peça pela primeira vez, no Centro Cultural de Belém, com os bailarinos Ainhoa Vidal e Alban Hall. A remontagem do espectáculo conta agora com a interpretação de Ana Silva e Hugo Cabral Mendes, mas a essência é a mesma. “Na altura [há 15 anos] já trabalhava com o público mais jovem e lembro-me de ficar encantada ao ver os miúdos tão quietos, mas a mandarem bocas uns aos outros, numa espécie de preguiça, que achei que era interessante explorar”, conta. “Há uma altura em que os adolescentes são acusados de serem preguiçosos e só fazerem o que gostam, mas a verdade é que o corpo deles está numa grande mudança e, portanto, num imenso trabalho.” Claro que, às vezes, tem só a ver com não gostarem do que têm para fazer. Afinal, quem nunca, perante uma sugestão mais entusiasmante, viu a preguiça evaporar-se e se sentiu, de repente, com uma outra energia?

A preguiça tem muito que se lhe diga. É por isso que, em palco, os bailarinos se vão debruçar, às vezes literalmente, sobre os aspectos que a tornam única, como a vontade, o cansaço e até o prazer. Com música de Vítor Rua e coreografia de Aldara Bizarro, o espectáculo foi originalmente construído a partir das respostas de um conjunto de pessoas à pergunta que lhe dá nome. “[A Preguiça Ataca?] termina com um vídeo muito bonito do João Pinto, que reúne excertos de uma série de entrevistas feitas a pessoas com profissões distintas que me eram acessíveis, como um político, um advogado, até um técnico do túnel do Marquês [de Pombal]”, revela Aldara, entre risos. “Eu coloquei-lhes várias questões relacionadas com a preguiça e a ideia era responderem-me a partir da perspectiva da sua profissão.” E a coreógrafa avisa: “A preguiça diz-nos muitas coisas sobre nós.” Nomeadamente quando precisamos de parar. “É uma forma de dizer não.”

Quando se mudou de Moçambique para Portugal, ainda miúda, Aldara sofreu de letargia, um estado de fraqueza generalizada e indisposição para a realização das actividades do dia-a-dia. “Eu sofria tanto com o frio que ficava parada. Mas os meus pais estavam muito atentos. A minha mãe levou-me ao médico, o médico diagnosticou-me e deu-me umas vitaminas e a vida seguiu”, partilha. “Era incapacitante, mas eu não sabia explicar muito bem: dizia só que estava com frio e que preferia estar parada. Era o meu corpo a dizer ‘não consegues, portanto não fazes’, imagino eu. E eu acho que isto acontece com toda a gente. Mas a sociedade é tão exigente que as pessoas às vezes não percebem que têm de parar. Isto não é exactamente preguiça, mas está relacionado com a paragem do corpo e a necessidade de não fazer nada e de não ser julgado por isso.”

Numa altura em que se fala cada vez mais de saúde mental, faz todo o sentido conversar sobre a importância de termos tempo para nós, para auscultarmos o nosso corpo e vivermos o que ele nos pede. Vá, espreguice-se.

LU.CA – Teatro Luís de Camões (Lisboa). 16, 22 e 23 Out, Sáb-Dom 16.30. 3€-7€

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