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Palco, Teatro, K Cena, O que vamos fazer com a revolta
©Felipe FerreiraO que vamos fazer com a revolta

Projecto K Cena interroga-nos sobre ‘O que vamos fazer com a revolta’

Os actores em potência do K Cena estão prestes a ocupar o Museu do Aljube. Convidamos as famílias a fazerem parte da revolução.

Raquel Dias da Silva
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Raquel Dias da Silva
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O K Cena regressou ao Teatro Nacional D. Maria II na temporada passada. Mas só agora, em parceria com o Museu do Aljube, o projecto lusófono de teatro jovem se poderá cumprir em palco. Treze actores, com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos, vão finalmente mostrar todo o trabalho desenvolvido ao longo de quase dois anos. Construído a partir de A Quinta dos Animais, de George Orwell, O que vamos fazer com a revolta desafia-nos a questionar a natureza do poder e o papel, não só dos que dominam, mas também dos que se deixam dominar.

Estávamos ainda em 2019 quando o D. Maria II acolheu uma oficina-audição para escolher os jovens que fariam parte desta oitava edição do projecto, que começou no Teatro Viriato, em Viseu, e se desenvolve também noutros países lusófonos, como o Brasil e Cabo Verde. “A estreia da peça, que nos propusemos a construir a partir de um tema comum, estava marcada para Julho de 2020, mas fomos forçados a parar em Março. Só retomámos os ensaios em Novembro e, já sem datas para estrear no D. Maria II, encontrámos esta alternativa”, revela o encenador Sandro William Junqueira, que escreveu o texto com o contributo de todo o elenco, com quem dinamizou períodos de leitura e debate acerca das questões trabalhadas na fábula de Orwell.

Em tempos de incerteza e medo, mas também do surgimento de novas formas de totalitarismo, nada mais actual do que provocar uma discussão sobre o modo como nos relacionamos uns com os outros, uma e outra vez, num ciclo vicioso e impermeável a quem vive sedento de poder. É este o ponto de partida para o espectáculo, que nos transporta para a sala de convívio de uma empresa que virou fábrica, já no rescaldo de uma revolta que, afinal, está longe de terminar. Tomado o controlo, os operários estão em festa e preparados para ir a votos. Cheira a canela e alguém sugere que é esse o aroma da esperança. Mas, à medida que os novos mandamentos se subvertem por vontade de uma elite, uns poucos ousam questionar as mudanças que se operam de mansinho e começam a perceber que o novo ciclo pode durar tanto quanto o tempo que se demora a comer uma caixa inteira de bolachas. De repente, já não cheira a canela.

“As revoluções só se concretizam de um ponto de vista positivo quando a população está alerta, disposta a vigiar o líder e a perceber quando é que ele já fez o trabalho. É como se diz a certa altura. O problema não são as ideias. As ideias até podem ser boas. O problema está no coração de quem as pratica”, avisa Sandro, antes de evocar os inimigos da democracia, da manipulação da linguagem à impassividade dos dominados.

Por entre as revoltas e contra-revoltas de um grupo de operários numa fábrica e a insurreição de uma actriz insatisfeita com o papel que lhe coube, a quarta parede vai-se quebrando para nos questionar, não sobre o que estamos a ver, mas sobre o que se vai passando no mundo lá fora. E, leve a mão à consciência, a culpa é dos espectadores: aqueles que, perante o exercício da tirania, nada fazem.

Museu do Aljube – Resistência e Liberdade. Rua Augusto Rosa, 42. Qui-Sáb 19.00, Dom 16.00.

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