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Jornal A Voz Dos bairros
Francisco Romão PereiraA primeira edição do jornal saiu em Setembro

Quatro bairros de Marvila unem-se para criar um jornal comunitário

‘A Voz dos Bairros’ junta muitas vozes dos bairros dos Alfinetes, Salgados, Marquês de Abrantes e Quinta do Chalé. Ouvimos os moradores tornados redactores que esperam mudar a paisagem de Marvila, “por Lisboa, porque isto é Lisboa”.

Joana Moreira
Escrito por
Joana Moreira
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Vão chegando um a um à loja envidraçada no Bairro dos Alfinetes, em Marvila. Está reunido o conselho editorial d’A Voz dos Bairros, um jornal comunitário que nasceu em Setembro para contar as histórias daquela zona da cidade. Rosa, Teresa, Sofia, Adelino, Ernesto, Ernestina, Joana e Rossana fazem parte do jornal que quer ser a voz da gente de Alfinetes, Salgados, Marquês de Abrantes e Quinta do Chalé – todos bairros em Marvila. A primeira edição já está cá fora e é a menina dos olhos do grupo comunitário 4Crescente, de que todos fazem parte. 

Teresa Romão chegou ao grupo através de uma amiga, em 2018. “Saía de casa às nove da manhã, chegava às oito da noite, não tinha muito tempo. Mas com isto do Parque Urbano comecei a ter mais interesse e até hoje cá estou”, conta à Time Out. Chegou por uma luta há muito travada pelos moradores com a Câmara Municipal de Lisboa, um parque urbano que respondesse à falta de espaços verdes na zona, e foi ficando por perceber que podia fazer a diferença noutras áreas. É das vozes mais activas na preparação do jornal, cujo objectivo é também recrutar mais moradores para o grupo comunitário. “Queremos promover as nossas actividades, mostrar que existe um grupo comunitário, mostrar os nossos sucessos e as nossas dificuldades, de maneira a trazer mais pessoas, mostrando o que fazemos”, diz Sofia Resende, uma das redactoras de serviço. 

Loja 4C
Francisco Romão PereiraA redação é composta por moradores dos quatro bairros de Marvila.

Com financiamento público do Programa Bairros Saudáveis, que apoia projectos apresentados, por exemplo, por organizações de moradores, para melhoria das condições de “saúde, bem-estar e qualidade de vida em territórios vulneráveis”, o A Voz dos Bairros tem três edições garantidas. “Agora vamos tentar por outros meios, talvez com o Orçamento Participativo, dar continuidade ao jornal”, explica Sofia. Enquanto se trabalha na segunda edição, que deverá chegar em Janeiro, é a primeira que ainda circula de mão em mão. 

Adelino Silva veio morar para o Bairro dos Alfinetes em 2001 e assina a crónica inaugural. “Foi uma coisa muito boa que me aconteceu, pois toda a minha vida tinha vivido em barracas”, escreve. “O cigano não trabalha, o cigano não desconta”, ouviu quando ali chegou de Moscavide pela primeira vez. Hoje não só luta contra a discriminação da comunidade cigana no bairro como faz parte do grupo comunitário. “Não tenho na testa a dizer que sou cigano”, diz. “É preciso tempo e as coisas estão a melhorar”, acredita. Umas páginas à frente, eis o semáforo comunitário, um projecto do grupo, “para ver os pontos críticos” – “e assinalarmos o que é que há aqui nos bairros que possa ser feito e melhorado”, explica Teresa Romão, também moradora. “Já fizemos quatro saídas e já comunicámos às entidades competentes. Algumas coisas já foram feitas, outras ainda estão por fazer”, conta à Time Out. Entre os problemas que já passaram do sinal vermelho ao vitorioso verde está “a sinalização que estava em falta na estrada”, ou o “corte de pequenas áreas com mato”. 

Ernesto Serafim ouve Teresa atentamente, apesar de ser dos mais experientes do grupo. Com 73 anos, reformado, veio inaugurar o Bairro dos Alfinetes. “Bendita a hora” em que se juntou ao grupo, garante. Não falha uma reunião, que acontece todas as segundas e quintas-feiras do mês, às 18.00. “Agora pareço um papagaio, mas antes não dizia quase nada”, brinca. “Morando aqui, estando dentro da comunidade, tenho de contribuir para que isto se desenvolva, para que quando os meus filhos ou os meus netos vierem aqui digam ‘sim, o meu pai mora num bairro, mas é um bairro em que se pode lá estar, pode-se lá ir e pode-se conviver’. É essa a razão da minha luta. Conseguir fazer alguma coisa pelo local onde estou. Não é só aqui, é por Lisboa. Porque isto é Lisboa.”

Loja 4C
Francisco Romão PereiraA loja comunitária é o ponto de encontro da redação.

É na loja 4C, uma loja criada durante a pandemia para dar apoio à população, sobretudo a mais idosa, com a marcação de consultas por e-mail para o Centro de Saúde, a obtenção de certificados de vacinas, ou os pedidos de abonos, que o grupo se reúne agora para definir que entrevistas, artigos e informações não podem faltar na próxima edição. O jornal precisa de “explicar o que se está a passar nos bairros”, diz Sofia. É um jornal da comunidade para a comunidade. E, por isso, na próxima edição não vai faltar um artigo sobre o assunto que a todos preocupa: o futuro Parque Urbano da Quinta do Marquês de Abrantes. “Estávamos a contar que fosse feito desde o Bairro dos Alfinetes até à Quinta do Chalé, mas só vai até à Biblioteca [de Marvila]. Temos de pôr a par os moradores”, diz Sofia. “Quando se muda de partidos é assim.” 

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