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Televisão, As Coisas em Volta: A Misteriosa Vida dos Objetos
©DRAs Coisas em Volta: A Misteriosa Vida dos Objetos

Quem nasceu primeiro: o espelho ou a retrete?

A retrete, o sapato, a cama. Da banalidade a que estão votados para o centro de uma reflexão antropológica, há objectos que contam histórias e, entre elas, a da própria humanidade. Há bons motivos para ver a nova série da RTP2.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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“O espelho está dentro das nossas casas” – o arranque do primeiro episódio de As Coisas em Volta: A Misteriosa Vida dos Objetos é, na verdade, uma pista a seguir durante as próximas semanas. Em 12 episódios, a nova série documental da RTP2 discorre sobre uma dúzia de objectos presentes no nosso dia-a-dia, a maior parte com lugar cativo no espaço que habitamos, todos eles necessários à vida como a conhecemos. Do domínio do quotidiano a matéria de escrutínio, levantamento histórico e análise simbólica, servem de ponteiro indicador para conhecer melhor a nossa própria história.

“A ideia nunca foi ter só uma aula de história sobre a evolução deste ou daquele objecto. A abordagem é feita do ponto de vista histórico, mas também simbólico. No fundo, ter ali todas as pistas que cada objecto nos dá para fazermos uma leitura do mundo que nos rodeia”, explica Maria João Mayer, produtora da série, à conversa com a Time Out.

Coube ao espelho, o item que saiu da cartola no último dia 12 de Janeiro, pela mão do realizador André Godinho, estrear a nova produção nacional. Um milagre da Física, cuja evolução no decorrer dos séculos é uma verdadeira odisseia de descobertas, fórmulas secretas, ganâncias e vaidades. Ao longo de 30 minutos, o speculum (em latim) é olhado de múltiplas perspectivas: o seu valor e estatuto social, os avanços técnicos na sua produção, o seu papel na arte, o misticismo e o efeito sobre a consciência e a imagem que temos de nós próprios.

“É tudo tão automático na nossa relação com estes objectos que nunca pensamos no seu valor simbólico. Eu nunca tinha pensado nisto”, continua Maria João. A ideia de construir uma série documental a partir de elementos tão triviais surgiu antes da pandemia, numa conversa com Teresa Paixão, coordenadora de conteúdos do segundo canal. “Ela perguntou-me: já pensaste na evolução da retrete? Lançou-me esta ideia e eu agarrei logo o programa”, refere a produtora, que entre 2018 e 2020 produziu o programa Armário para a mesma estação.

A coincidência está lá, embora este olhar em redor não resulte do período em que vivemos imersos em casa, entre os objectos que são nossos. A cama, a faca, o preservativo, o candeeiro de rua (que vai para o ar esta quarta-feira, 19 de Janeiro), o caixão, o comprimido, a máscara, o sapato, a chave, o teclado e a retrete são, igualmente, objectos que mereceram análise por parte de historiadores, académicos, clínicos, artistas e entusiastas. “A retrete, por exemplo, teve uma evolução com muitos avanços e recuos. O episódio leva-nos a esta nossa relação não falada e não assumida com o sujo. Aprendi muito com a retrete.”

A realização foi ainda assumida por Joana Cunha Ferreira, que assina metade dos episódios da série. O ritmo e a estética distanciam-na do tradicional tom histórico-documental de conteúdos do mesmo género, um ponto assente na hora de constituir uma equipa em que a pesquisa de imagem assumiu um papel especialmente importante. “Tanto a estética da série como as imagens que usamos, nada tem uma atitude professoral, existe provocação até. O arquivo não é um arquivo gasto. Além da proposta da realização, que é sem dúvida diferente”, resume Maria João Mayer.

O produto está agora pronto a legendar, na perspectiva de que venha a despertar o interesse de plataformas internacionais. No ar fica também a possibilidade de fazer uma segunda temporada, igualmente considerada pela produtora e pela coordenação de programas da RTP2. Até lá, estes 12 objectos não vão a lado nenhum. No final, vai ser difícil olhar para eles da mesma forma.

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