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Remake teatral de “Dallas” põe Lisboa a falar sobre a supremacia americana

Escrito por
Miguel Branco
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O novo espectáculo da mala voadora – que passa pela Culturgest de quarta-feira a sábado – é um remake da popular série de televisão dos anos 1980. Dinh€iro é uma espécie de recibo verde teatral.

Uma nota norte-americana – com o típico “In God We Trust” – serve de décor ao novo espectáculo da mala voadora. Depois de se ter estreado em Maio, no FITEI, Dinh€iro passa pela Culturgest de quarta-feira a sábado. É a história da Ewing Oil, do Southfork Ranch, de uma família endinheirada e manhosa, o pai e os dois filhos, a mãe e as cunhadas, chantagens, escândalos, festas, manipulação.

Remake teatral de Dallas (série de tremendo sucesso nos anos 80), Dinh€iro é uma criação que vem no enfiamento de Moçambique, Amazónia e Fausto. “Desde o Moçambique que temos estado a trabalhar sobre questões mais políticas directamente. Neste caso apeteceu-nos falar sobre dinheiro. Isto era para ter uma escala diferente, uma coisa mais com as notas, [sobre] como é que seria a vida de uma família muito rica que viajava pelo mundo inteiro e cujas notas dos países serviriam como paisagens”, enquadra o encenador Jorge Andrade. Dallas surgiu quando começaram a ponderar que texto serviria esta gente. “Para quê escrever um texto novo se o Dallas já diz o que queremos? Encomendámos os DVD e pareceu-nos um material muito rico. Ficámos estupefactos com o eco que fazia com os dias de hoje”.

Ele que consumia a série avidamente, ele e tantos outros, já que nos anos 80 a produção passava em 90 países por todo o mundo. Em cena, a mala voadora optou por fazer um objecto meio desconexo, isto é, as falas quase nunca são ditas pelos actores, que assumem uma representação exagerada, reforçada pelo playback que utilizam com muito humor, aquele abrir de boca desmedido que se fosse feito por um cantor era muito chocante. O texto é uma reescrita de Jorge Andrade, expelido em inglês por vozes off constantes. São personagens de uma família milionária que tem uma empresa de exploração petrolífera e cuja voz, sotaque, forma de andar é tipicamente texana. E há um delay, repetições absurdas, como se os actores fossem engolidos pela supremacia americana extra-espectáculo, pelos dólares, pela máquina e a dicção e a história.

Numa primeira fase há um drama doméstico: quem vai dar primeiro um neto ao patriarca? Há as paixões não correspondidas. Depois entra-se numa orla de política internacional, em que a Ewing Oil financia a queda de um governo comunista no Sudeste Asiático a fim de manter os negócios intactos. Algo que não foi escrito por Jorge Andrade, que já estava na série. “Hoje em dia era impossível esta série ter este espaço e sucesso, aquilo é tão politicamente incorrecto, e estranhamente já tinha de uma forma muito evidente aquilo de que nos queixamos agora, do imperialismo americano”, avisa.

Por fim, porque a liberdade artística ainda existe, é mais do que querer falar de política, é revisitar a série norte-americana: “Eu quero sobretudo fazer um espectáculo em que revisito o Dallas, cada um depois fará a leitura que quiser. Acho que é um espectáculo bem-disposto”, conclui. E chega.

Culturgest. Qua-Sex 21.00. Sáb 19.00. 6-12€.

Direcção e texto Jorge Andrade
Cenografia José Capela
Com Bruno Huca, Isabél Zuua, Joana Bárcia, Jorge Andrade, Maria Jorge, Marco Paiva, Miguel Damião, Sílvia Filipe, Tânia Alves

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